Por: Paulo Cézar Caju*

A soberba do futebol precisa mudar. E já!

Tite e Diniz são bons técnicos, com estilos bem diferentes dentro e fora do campo | Foto: Reprodução

Geraldinos, essa história de poupar jogador definitivamente é uma balela. Veja o Flamengo, por exemplo. Tite não colocou seus titulares contra o Bolívar na altitude de La Paz, para preservá-los. O Rubro-Negro perdeu de 2 a 0 para o meu Glorioso e, de quebra, teve Arrascaeta e Everton Cebolinha contundidos, sendo que os dois não atuaram na Libertadores. Aliás, essa soberba do Tite também não está dando para aguentar mais. Nas entrevistas pós-jogo, sempre tem uma desculpa pelo resultado negativo e quando o time joga mal. Contra o Amazonas, pela Copa do Brasil, mexeu mal no segundo tempo e fez a equipe, que já é retranqueira por natureza, ficar mais. Para apimentar ainda mais isso tudo, tirou um meia armador, De La Cruz, e pôs Gabigol em campo. Pelo menos nisso admitiu que foi um erro, pois o expôs ainda mais, diante da atual situação extracampo. Tanto que, o que se ouviu no Maracanã foi um misto de vaias e aplausos ao atual camisa 10 do Flamengo. Vale dizer que o atleta atuou por um efeito suspensivo pelo Tribunal Arbitral do Esporte, algo muito comemorado no clube, outra coisa que me entristece, pois isso deveria nem ter festa ou badalação. Se o jogador cometeu algum erro, merece ser punido, não ter a mão na cabeça. Isso precisa mudar!

Esse, por sinal, está sendo o grande problema com John Kennedy. O atacante do Fluminense necessita de um acompanhamento psicológico diário ou mesmo ser internado numa clínica. Digo por experiência própria e dando como exemplo outro atleta que se envolveu no mesmo caminho e hoje está sumido: Jobson, ex-Botafogo. Quando ele ficou mal, o clube pediu que eu axiliasse e tive várias conversas com o atleta, junto com Jairzinho, falando da minha trajetória e carreira e de como consegui me superar das drogas e bebidas. Um jogador que tinha tudo para ter um futuro promissor hoje está no Rio Branco do Acre, em um campeonato praticamente esquecido no país. John Kennedy, se não abrir o olho, pode ter o mesmo destino. E mais do que ele, o Fluminense também precisa ser mais incisivo na questão. Não adianta apenas afastá-lo dos treinos. Tem que ser mais enérgico! Chamar para conversar, procurar família, acolher sua cria de Xerém com mais afinco. E, claro, como já venho falando, isso daí tem culpa do Diniz que, mesmo fazendo um futebol ofensivo e com posse de bola, mas sem muita variação, xinga os jogadores em campo, esbraveja e se faz de louco na área técnica. Neste aspecto, tenho que parabenizar Tite, que é mais sereno e tranqüilo, mostrando ter mais respeito ao jogo, dentro do gramado.

Antes das pérolas, a nossa imprensa, principalmente a paulista, é demais. Além de serem prepotentes e se acharem os melhores, agora estão fazendo apostas de placares, parecendo essas bets que patrocinam os clubes. Antes dos jogos de Flamengo e Fluminense, diziam que os dois eram favoritos e que iriam aplicar goleadas em Botafogo e Corinthians, respectivamente. O que aconteceu? Os dois foram categoricamente derrotados. Futebol não se ganha na véspera, e sim em campo, pois são 11 contra 11 e tudo pode acontecer em 90 minutos. Por isso, Tite, abra o olho, pois perder para o Amazonas e cair na Copa do Brasil, pode lhe custar o cargo...

Pérolas da semana

1 – “Oferecer aos adversários sua fragilidade e largura em campo, com retomada consciente, oferecendo-se na zona de campo defensiva, zona de meio defensivista e zona atacante (na minha época era defesa, meio e ataque)”.

2 – “Intensidade e consistência no automático dos fundamentos, passando as contenções no último terço da transição, pegando na orelha (gomos) da bola , quebrando as linhas do 5-4-1 ou 3-4-3”.

3- “Três zagueiros (um central, o quarto zagueiro e o líbero, que tem mais habilidade e saiba sair jogando com classe e cubra os outros setores defensivos), espetando o companheiro e atacando a bola compactados, transferindo a redonda dando tapas na cara dela (pobre da bola, não tem mais gomos neste linguajar de computador!), empoderando o espaçado espaço”.

4 – “Correr para trás (atletas viraram caranguejo), compactando-se com consistência na defensiva, fazendo a rotação, com o atacante ficando mais agudo, oferecendo o lado para o falso 9, com a bola viajando pela vertical e diagonal (futebol agora ensina matemática) e indo para o X-1 (um contra um), chapando a bola, ao invés de tocar”.

5 – “Fazendo a diagonal e ficando na beirada, balançando para se encaixar por dentro, atacando o espaço na zona 14 (viramos futebol americano agora?)”

6 – “Zona de conforto, mudando a cara do jogo, com encaixe mais na vertical”

7 – “Mapa de calor, saindo para caçar (vamos pegar o rifle) o adversário, atacando de lado para dentro, tendo uma rotação diferente, quebrando o passe, fazendo uma ótima leitura (visão!) de jogo”.

8 – “Jogo de associações, atacando a primeira bola (só tem uma em campo!), ajustando o equilíbrio, ultrapassando o próximo, fatiando a bola (traz a faca e vamos comer o bolo), lendo o tempo da bola (agora a redonda virou livro)”.

*Ex-jogador de futebol. Fez parte da seleção do Tricampeonato Mundial no México em 1970. Atuou nos quatro grandes clubes do Rio (Flamengo, Botafogo, Vasco e Fluminense), Corinthians, Grêmio e Olympique de Marseille (França).