Por: Redação

Presidente da APL lança livro "Cartas que falam" durante o Flipetrópolis

Livro será lançado no sábado dia 04 de maio | Foto: Reprodução

Atualmente escrever cartas a alguém não é uma coisa tão costumeira quanto antes do crescente da internet. Antigamente tudo era comunicado por meio delas, podendo ser uma declaração de amor ou guerra, aprovação de projetos e informações gerais. A troca de correspondências revela muito mais do que se imagina. Através de diferentes tipos de caligrafias, linguagens, confidências, desabafos, informes, sugestões, cantadas, ironias, é possível compor o fio da vida de remetentes e destinatários, sua personalidade e interpretar as entrelinhas de suas intenções.

Como forma de explorar todas as camadas que cercam o universo das cartas, o escritor e presidente da Academia Petropolitana de Letras, Leandro Garcia Rodrigues vai lançar o livro "Cartas Que Falam: Ensaios sobre Epistolografia", neste sábado (4), às 10h, como parte da programação do Festival Literário Internacional (Flipetrópolis). Leandro conta estar orgulhoso de poder lançar a obra em meio ao festival. "A sensação é a melhor possível, especialmente por estar na minha cidade, que é tão marcada pela presença de arquivos, locais fundamentais para o tipo de pesquisa que faço. O estudo de cartas e correspondências só é possível quando se tem material epistolar salvo e arquivado, e isso Petrópolis é muito feliz. Assim, lançar o livro aqui é uma alegria redobrada", disse.

Essa é a primeira obra literária brasileira a tratar de teorias do gênero epistolar que é a ciência literária que estuda cartas e correspondência. O escritor Leandro Garcia Rodrigues destrincha as inúmeras possibilidades de "entrelugar" da carta, seja como sujeito, em que a carta assume posição protagonista como significante ativo e determinante de análise de si, ou como objeto, cujo documento é ferramenta para se compreender vidas de autores e pintores de determinada época da vida literária e artística brasileira. Para o autor a correspondência possibilita que diferentes mundos se comuniquem. "Cartas unem pessoas. Antes utilizadas como meio de comunicação, hoje são consideradas documentos ou memória viva, embora não raro encontramos pessoas que seguem escrevendo cartas que 'falam', ainda que para si próprias", indaga.

Cartas

O escritor conta que ainda na infância, quando vivia no bairro de Campo Grande, no Rio de Janeiro, criou o hábito de trocar correspondências. "Hoje tenho as cartas como companheiras de pesquisa", explicou. Dentro de suas pesquisas, Leandro diz que as cartas que mais o emocionaram até hoje foram as de Frei Betto, escritas quando foi preso pela ditadura militar no Brasil: "Estava trabalhando na pesquisa do meu livro, 'Cartas de Esperança em Tempos de Ditadura' quando me deparei com a correspondência que Frei Betto escreveu a Alceu Amoroso Lima denunciando a tortura e a morte de vários presos políticos na ditadura, aquilo me tocou profundamente", fala.

O apego de Leandro pelo objeto descrito, é transpassado em trechos do livro em que descreve a falta da prática na atualidade. "'Escrevo pelo prazer de receber a resposta', certamente, este é um dos maiores prazeres de quem escreve e recebe cartas, uma sensação que cada vez mais se apaga da nossa memória, considerando a escassez da troca missivista hoje em dia, época marcada pelas diferentes revoluções tecnológicas que empurram as comunicações para os toques de segundos, numa velocidade comunicativa nunca antes vista que, se de um lado gera a rapidez e a presteza dos contatos, do outro gera o desconforto da impessoalidade e da falta de sentimentos materialmente trocados nos envelopes e nos papeis de carta, já que muitos eram desenhados, perfumados, bricolados e decorados segundo o sentimento que se queria compartilhar. [...] a carta é um discurso dos ausentes, e a correspondência se alimenta dessas ausências. Escreve-se uma carta não apenas para não se sentir só, mas também para não se acreditar ser uma pessoa tão solitária. A carta é uma estratégia pertinente para se preencherem tais lacunas, os vazios ontológicos com os quais vivemos - uns mais, outros menos - ao longo da vida", trecho de 'Cartas que Falam', expostas nas páginas: 21-22.

Criação do Livro

O livro é uma coletânea de todos os artigos e ensaios teóricos sobre a Epistolografia de Leandro Garcia. Desde 1999, o autor estuda e pesquisa arquivos de cartas de escritores e escreve teoricamente sobre este assunto, publicando textos teóricos em revistas científicas e livros. "Agora, resolvi compilar todos estes meus artigos teóricos espalhados, o resultado é este meu atual livro", conta.