Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Coppola, o Poderoso Chefão vem aí

Francis Ford Coppola bancou a produção do controverso 'Megalópolis' do próprio bolso (com o lucro de suas vinícolas) e vem encerrar a Mostra de SP no próximo dia 30 | Foto: Zoetrope/Divulgação

 

Entre suas diferentes vindas ao Brasil, onde bebericou caipirinhas no Rio e deu entrevista a Jô Soares na Globo, Francis Ford Coppola sempre causou estrondo, dado o prestígio que somou numa carreira coroada com o Oscar e com duas Palmas de Ouro. No próximo dia 30, o diretor de "O Poderoso Chefão" (1972) vai estar aqui de novo, para buscar o Prêmio Leon Cakoff, um troféu honorário oferecido pela Mostra Internacional de Cinema de São Paulo a mestres. Será o desfecho do evento e ele vai exibir seu tão falado (amado por uns, defenestrado por outros) "Megalópolis".

A superprodução de US$ 120 milhões foi financiada pelo próprio realizador de 85 anos com o lucro de suas vinícolas. Apesar do recente convite ao "cancelamento" pelo qual passa, acusado de condutas indecorosas com figurantes, o cineasta promete sacudir os brios da plateia paulistana com uma experiência narrativa centrada no ideal da metrópole perfeita.

De todos os indicados à Palma dourada de Cannes deste ano, o concorrente que mais chamou atenção e mais mobilizou apostas foi esse épico idealizado há quatro décadas e meia. Foi em 1977 que o artesão por trás de "Apocalypse Now" (1979) começou a trabalhar no projeto, que foi paralisado em meio a suas muitas intempéries financeiras até ser retomado em 2019, com filmagens realizadas de 2022 a 2023. Originalmente, o enredo teria Paul Newman (1925-2008) como seu protagonista. Depois, falou-se em Kevin Spacey. Acabou que o papel principal ficou com Adam Driver. Ele interpreta Cesar Catilina, um arquiteto Prêmio Nobel, tratado como cientista desde que inventou uma substância chamada Megalon, para salvar sua mulher da morte. É com esse elemento químico, capaz de paralisar o Tempo, que ele almeja criar uma NY perfeita, apesar de o alcaide do local, Cícero (Giancarlo Esposito), discordar de seus atos.

A peleja deles é narrada com muita experimentação e até com imagens documentais. Num dado momento da projeção na Croisette, uma pessoa subiu no palco e se dirigiu à tela, de modo a contracenar com o material filmado. É um exercício do chamado "cinema ao vivo". A pessoa simulava ser um entrevistador que se dirigia a Cesar, na tela, numa conversa tridimensional. Todo o roteiro faz referência explícita ao Império Romano, desde os nomes dos personagens até diálogos em latim na narração feita por Laurence Fishburne.

Apesar da criatividade inegável desse plot, "Megalópolis" fez uma passagem controversa pela Côte d'Azur, sem criar consensos. É um exercício autoral de risco absoluto, mas que beira a extravagância, resvalando no excesso e até na caricatura. Apesar disso, sua dimensão poética é inegável. A música de Osvaldo Golijov é um dos raros pontos em que a fita não gera dissonância de opiniões, assim como a atuação de Esposito. Agora resta saber como São Paulo vai reagir a Coppola, que veio ao Rio em 2010, lançar "Tetro".