Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Mostra de SP exibe o candidato do Brasil ao Oscar

O casal Paiva, Eunice e Rubens (Fernanda Torres e Selton Mello) são atropelados pela ditadura em 'Ainda Estou Aqui' | Foto: Alile Dara Onawale/Divulgação

Colecionando prêmios, elogios e catarses populares desde setembro, quando conquistou a láurea de Melhor Roteiro no Festival de Veneza, "Ainda Estou Aqui" promete inundar o saguão do Espaço Augusta de lágrimas na tarde desta sexta-feira, quando será exibido às 17h10 na 48ª Mostra de São Paulo, consagrando o desempenho colossal de Fernanda Torres e de Selton Mello em terras brasileiras.

Escolhido como representante nacional na briga por uma vaga na corrida ao Oscar de 2025, o novo longa-metragem de Salles passou pelo Festival de San Sebastián, na Espanha; pelo Festival de Pingyao, na China; pelo (todo-poderoso) Festival de Toronto (TIFF), no Canadá; pelo Festival de Nova York; e pelo BIFF, em Londres.

Tem sua estreia comercial no país apontada para 7 de novembro. Em terras paulistanas, haverá mais uma sessão dele na Mostra neste sábado, às 21h10, também no Espaço Augusta.

Laureado com o Urso de Ouro de Berlim por "Central do Brasil", em 1998, e indicado três vezes à Palma Dourada de Cannes, Walter ficou 12 anos distante dos longas de ficção depois de "Na Estrada" ("On The Road", 2012), exercício de imersão na prosa beatnik de Jack Kerouac (1922- 1969). Nesse hiato, lançou o .doc "Jia Zhangke, um Homem de Fenyang" (2014). É pelas vias da literatura que ele regressa às veredas ficcionais agora, dialogando com o romance homônimo de Marcelo Rubens Paiva.

Roteirizado por Murilo Hauser e Heitor Lorega, "Ainda Estou Aqui" é um drama ambientado em 1971, em 1996 e em 2014 (entre saltos temporais elegantemente editados pelo montador Affonso Gonçalves), com fantasmas dos anos de Chumbo no escopo.

"Minha geração chegou ao cinema após 21 anos de ditadura militar, de 1964 a 1985. Muitas histórias não puderam ser contadas durante esses anos de chumbo. Teria sido lógico abordá-las, mas o desastre do governo Collor no início dos anos 1990 nos obrigou a lidar com uma realidade imediata de um país novamente em crise. Daí, no meu caso, 'Terra Estrangeira' e depois 'Central do Brasil'. Quando a extrema direita começou a ganhar força no Brasil, ficou claro o quanto nossa memória dos anos de ditadura militar era frágil", lembra Salles, em entrevista por e-mail ao Correio da Manhã.

Produzido por Maria Carlota Bruno ("No Intenso Agora") e Rodrigo Teixeira ("A Vida Invisível"), "Ainda Estou Aqui" começa com o registro da vida apaixonada dos Paiva: Eunice (Fernanda Torres) e Rubens (Selton Mello, em devastadora performance). Os dois vivem no Rio com as filhas e o filho (no caso, o jovem Marcelo, que viria a escrever o cult "Feliz Ano Velho"). Tudo muda para eles no dia em que Rubens é levado por agentes do governo à paisana. Eunice vai fazer de tudo para saber o destino de seu marido. Em sua batalha, é obrigada a se reinventar e cursar Direito, a fim de brigar na Justiça contra um Estado de farda.

Fernanda Montenegro entra em cena vivendo Eunice em idade avançada, numa sequência que rasga qualquer coração. Um dos pontos mais fortes do filme é a meticulosa fotografia de Adrian Teijido. No elenco coadjuvante, Carla Ribas e Dan Stulbach têm atuações luminosas.