Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

CRÍTICA TEATRO - PRIMA FACIE: A vida é assim mesmo, meu amor

Débora Fallabela tem atuação impecável na versão brasileira de 'Prima Facie' | Foto: Divulgação

Prima Facie, em direito, quer dizer uma prova que é suficiente para permitir a suposição ou consolidação de um fato, a menos que seja refutada. Escrita por Suzie Miller, a peça homônima estreou na Griffin Theatre Company de Sydney, em 2019. O solo conta o conflito de uma advogada que defendia agressores sexuais e tenta obter justiça por seu próprio estupro. Sucesso absoluto na West End londrina e na Broadway com Jodie Comer.

A versão brasileira, dirigida por Yara de Novaes e estrelada por Débora Falabella, deixa a platéia em total atenção para que não se perca nada de uma poderosa e vital atuação. O trajeto da transformação de uma mulher, jovem, bem-sucedida que consegue ascender em uma sociedade classista em uma vítima desemparada desses próprios valores.

É uma peça de mulheres, de um fato que aflige uma mulher a cada 8 minutos no Brasil. Mas, além disso, mostra os mecanismos sociais que diminuem a posição da mulher, abafam-na e a excluem. Ao cenário de André Cortez, juntam-se cadeiras/mesas que se sobrepõem para mostrar quem é o superior, quem é o inferior. A significativa trilha sonora transforma um palco em jaula onde Tess, a advogada fica limitada.

A direção cria um prodecimento interessante: a mudança do sapato muda o papel social/pessoal da personagem. Débora/Tessa é a destemida advogada com uma reluzente bota prateada. E a mulher humilhada usa sapato/tênis preto sem salto.

Débora está em cena forte, fraca, humilhada, destemida. É a metonímia perfeita de homens e mulheres de todos os gêneros e raças que acreditam no canto da sereia de uma sociedade justa e igualitária. E percebem, quando sentem a necessidade, que a única coisa que conta é a forte e inabalável estrutura de poder

SERVIÇO

PRIMA FACIE

Teatro Adolpho Bloch (Rua do Russel, 804 - Glória)

Até 30/6, de quinta a sábado (20h) e domingos (18h)

Ingressos: R$ 150 e R$ 75 (meia)