Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

CRÍTICA TEATRO - A PALAVRA QUE RESTA: O amor que não ousa dizer o nome

A direção explora bem a movimentação dos atores em cena | Foto: Carolina Spork/Divulgação

 

Oscar Wilde foi preso. Alan Turing, o pai da computação, se suicidou na prisão. Em 2023, morreram de forma violenta no país 230 pessoas LGBTI, uma cada a 38 horas. O premiado romance "A Palavra que Resta", de Stenio Gardel, se transforma em poema na peça que traz o retorno da Cia Atores de Laura.

Em cena, cinco atores do grupo - Ana Paula Secco, Charles Fricks, Leandro Castilho, Paulo Hamilton e Verônica Reis — e a convidada Valéria Barcellos que equilibram de forma perfeita a poesia do texto com os movimentos de corpo, pois se revezam em vários papéis, inclusive do protagonista.

A simplicidade dos personagens, gente comum, aqueles que exprimem o sertanejo é, antes de tudo, um forte se expressam nos figurinos do premiado Wanderley Gomes: macacões que parecem iguais, mas são diferentes, em uma construção artesanal no tingimento dos tecidos, no cuidado dos recortes que funcionam para evidenciar o significado primeiro: todas as pessoas são absolutamente iguais.

A direção de Daniel Herz faz com que os atores se movimentem, se toquem, se exprimam com os movimentos de corpo em um ballet que varia do solo até o conjunto de todos. Essa corporalidade faz com que a atuação equilibrada se transforme em um destaque do mais puro talento de todo o grupo.

A beleza do texto lembra uma grande odisseia, pois o que se conta é o trajeto do herói, Raimundo, com suas "aventuras", que é regido pela própria busca de um cálice sagrado: aprender a ler para saber o que seu amor adolescente lhe disse em uma carta quando se separaram.

A construção é meticulosa em todos os sentidos: a beleza evidenciada pelas vozes dos atores, a trilha musical que mostra as nossas raízes, o cenário com as molduras vazias, a lua cheia que nos ilumina e a cruz da penitência que toma o cenário. Como o rio, um personagem importante na trama, vemos escorrer as vidas, afogamentos, se deixar levar, mas os que se salvam quando entendem que é o que vale a pena é exprimir a individualidade.

SERVIÇO

A PALAVRA QUE RESTA

Teatro Correios Léa Garcia (Rua Visconde de Itaboraí, 20, Centro)

Até 2/11, de quinta a sábado (19h)

Ingressos entre R$ 15 e R$ 80