Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Clicando o Pará

Cena da série de Fernando Segtowick, com Luiz Braga | Foto: Thiago Pelaes/Divulgação

Aplaudido com fervor na Berlinale por "O Reflexo do Lago" (um .doc sobre a depredação da Amazônia), o realizador Fernando Segtowick expande para a televisão inquietações estéticas que fizeram dele um dos pilares do cinema paraense, ao lançar um ensaio geopolítico em forma de série documental. "Olhares do Norte: Pará" conta com 13 episódios de 26 minutos, no ar TV Brasil, onde o tomo inicial pode ser visto.

A estreia de cada tomo se dá sempre às quintas, às 23h30h. Mas aos sábados eles são reprisados, ampliando o alcance de um projeto que flerta com a fotografia para cartografar investigações sociais sobre o recanto do Brasil onde a floresta é soberana.

Realização da produtora Marahu, financiado pela Ancine/FSA/BRDE e apoiada pela EBC, o seriado traz o diretor do aclamado "Matinta" na direção geral, em trabalho coletivo com um time de realização formado por Adrianna Oliveira, Matheus Almeida e Thiago Pelaes.

Idealizado pelo jornalista Ismael Machado, "Olhares do Norte: Pará" faz uma interseção entre foto e poesia na captura do real. Um dos fundadores da iniciativa de formação Fotoativa, em Belém, Miguel Chikaoka é documentado no episódio de abertura da série. Cada episódio se debruça sobre os olhares de Paula Sampaio, Walda Marques, Octavio Cardoso, Luiz Braga, Eduardo Kalif, Dirceu Maues, Claudia Leao, Nay Jinksss, Guy Veloso, Naylana Thiely, Elza Lima e Tarso Sarraf.

São ouvidos ainda teóricos como Rosely Nagakawa, Marisa Mokarzel, Eder Chiodetto, Tadeu Chiarelli, Mariano Klautau Filho, Val Sampaio, Orlando Maneschy, Pablo Miyada e Alexandre Siqueira.

"A escolha dos fotógrafos é, sim, estética e política, mas é, também, de gênero e de gerações", diz Segtowick. "Temos fotógrafos que atuam desde os anos 1980, como Chikaoka, Elza Lima e Luiz Braga, e temos artistas de novas gerações, como a Nay Jinkss e a Naylana Thiely. Temos episódios como o do Tarso Sarraf, que é do fotojornalismo, e fez um trabalho corajoso durante a pandemia da covid-19. Paula Sampaio traz um preto e branco forte ao retratar as pessoas à margem dos grandes projetos sociais na Amazônia. Luiz Braga tem a maestria da luz e Guy Veloso transcende no registro de procissões religiosas em todo o Brasil".

Apesar de boa parte da série se passar no perímetro paraense (em Santarém, Belém, Colares, Marajó e Santa Izabel), Segtowick e seu time filmaram também no Amazonas, em Minas Gerais e em São Paulo. "Acredito que a série é também contar um pouco da história da Amazônia e de seus territórios, vistos a partir da vida e dos olhares de 13 fotógrafas e fotógrafos", diz o cineasta, orgulhoso do aumento de narrativas serializadas em seu estado. "A gente tem tido mais séries porque o fomento com foco em descentralização é muito importe. Acho que o público quer ver narrativas que levem ele para outros lugares, territórios. A Amazônia continua nesse foco de interesse. 'Olhares do Norte: Pará' vem de um edital de TVs públicas, com verbas garantidas pra todas as regiões do país. Essa política pública é fundamental na construção de projetos diversos e realmente nacionais na programação seja na TV ou no streaming".

O flerte com a teledramaturgia não afasta Segtowick da telona: "Neste momento estou desenvolvendo dois projetos de longa-metragem, que vou rodar esse ano", diz o diretor. "Um deles, 'A Floresta de Mani', é uma ficção inspirada no universo do curta 'Matinta'. Outro é um documentário chamado 'Praia Grande', sobre a perda do meu pai durante a Covid-19 e a praia onde ia sempre com ele nas férias escolares".

 

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