Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Para Pinóquio, a vida é bela... na TV

Roberto Benigni é Geppetto e Federico Irelapi vive Pinóquio, sob a direção de Matteo Garrone | Foto: Divulgação

É dia de Matteo Garrone na "Sessão da Tarde" da TV Globo: às 15h20 desta segunda rola "Pinóquio" na telinha. O cineasta está em cartaz no Rio com a aventura "Eu, Capitão", que lhe valeu uma indicação ao Oscar. "Todos os meus filmes, ou a maioria dele, falam do périplo que é amadurecer", disse o cineasta ao Correio da Manhã, em janeiro, na Sérvia, onde abriu o Festival de Küstendorf.

Coube a ele reinventar o boneco de pau criado no século XIX por Carlo Collodi (1826-1890), cuja obra literária mais famosa ganha holofotes do Plim-Plim hoje, sob uma outra perspectiva autoral de direção. Em 2019, o romano Matteo Garrone, já famoso por "Gomorra" (Grande Prêmio do Júri em Cannes, em 2008), adaptou as aventuras de um mentiroso brinquedo que é aspirante a ser gente. Sua direção mistura atores, efeitos visuais e uma sofisticada maquiagem. O projeto, "Pinocchio", orçado em € 11 milhões, estreou às vésperas do Natal na Itália, e vendeu milhões de ingressos, configurando-se como sucesso comercial tipo exportação.

Ovacionado em sua passagem pela Berlinale 2020, em fevereiro passado, pela exuberância de sua direção de arte, o filme de Garrone conquistou uma bojuda bilheteria em seu currículo europeu - US$ 21 milhões, dos quais US$ 17 milhões foram arrecadados em seu país de berço - e uma farta fortuna crítica, apoiada na excelência da direção e no desempenho de Roberto Benigni. O oscarizado astro e diretor de "A Vida É Bela" (1998) vive Geppetto nesta divertidíssima produção, que explora a faceta mais violenta da prosa infantil de Collodi, sem medo do politicamente correto.

"Eu talvez seja o único ator da História que fiz Pinóquio duas vezes na vida, em idades muito diferentes, sendo filho e pai do personagem nesses momentos distintos. Mas isso é parte do júbilo de ser ator, ir de Shakespeare aos poemas de William Wordsworth", disse Benigni ao Festival de Berlim, referindo-se à versão de "Pinocchio" que ele estreou e dirigiu em 2002. "Este mergulho de Garrone na obra de Collodi é um filme para multidões, para dialogar com faixas etárias variadas, para conversar com crianças. Recebi muitos convites para trabalhar nos EUA, depois de 'A Vida É Bela' e estou sempre aberto para o caso de aparecer um convite. Um dia, em um jantar com Coppola, ele me falou que queria fazer 'Pinóquio' e me perguntou se eu faria Geppeto. Eu respondi: 'Pra você, eu faço até a baleia'", brincou o ator, em referência ao animal marinho que engole o carpinteiro responsável por criar Pinóquio.

No ano de largada da pandemia, a Itália fez sua grande festa cinéfila no ano que passou com o "Pinocchio" de Garrone, um artista plástica que virou cineasta nos anos 1990. "Eu cresci com Pinóquio quando era criança e resolvi permanecer no terreno dos contos de fábula mais um pouco depois que fiz 'Conto dos Contos' em 2015. E a história de Collodi fala de modo universal sobre a aventura de crescer, de ser feliz e de lutar contra as tentações. É um texto que fala muito da Itália a partir da alegoria dos animais", disse Garrone ao Correio da Manhã, por telefone, quando escrevia "Pinocchio" com Massimo Ceccherini.

Visto na última década com destaque em "Para Roma, com amor" (2012), de Woody Allen, Benigni é quem abre o "Pinóquio" de Garrone vivendo um sofrido Geppetto na narrativa estruturada pelo produtor inglês Jeremy Thomas (de "O Último Imperador"). Federico Ielapi é quem vive Pinóquio, um brinquedo de maneiro que ganha vida e passa a frequentar a escola, tendo numa entidade em forma de inseto chamada Grilo Falante (na voz de Davide Marotta) sua consciência. Mas no afã de virar gente, ele esbarra com animais escroques, envolvendo-se em mil confusões, ameaçado de virar um asno. Uma fada (Marina Vacth) será sua salvação - ou quase - em sua andança pelo mundo. "Da mesma forma como eu fiz com todos os grandes diretores com quem trabalhei, como Fellini, eu tentei entender a cabeça de Garrone. Não sei se consegui, o que é bom. Não se sabe de onde vem a transcendência", disse Benigni em Berlim. "Garrone filma com a precisão de Visconti uma pobreza social similar à3 de Rossellini".

Às 23h30, a Globo abre espaço para um cult nacional em sua "Tela Quente": "Bacurau", que deu o Prêmio do Júri do Festival de Cannes de 2019 a Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. Na trama, um time de estrangeiros que se diverte caçando pessoas em regiões eleitas (por elas e eles) de periféricas atacam uma cidade do Nordeste, sem esperar a reação do povo. Udo Kier, dublado por Mauro Ramos, lidera os cães de caça. Sonia Braga é um dos destaques do elenco.

 

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