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Dragagem nas Lagoas:

Por: Lucas Costa

Após anos de espera, as obras de dragagem das lagoas da Barra da Tijuca e Jacarepaguá, prometidas como legado olímpico da Rio 2016, começaram no final de abril. A operação, conduzida pela concessionária Iguá, visa remover 2,3 milhões de metros cúbicos de lodo e sedimentos acumulados em três lagoas e dois canais, equivalente a 920 piscinas olímpicas. O prazo para conclusão é de três anos.

Começo da Dragagem

O secretário de meio ambiente, Bernardo Rossi, anunciou os detalhes das obras que prometem revitalizar o complexo lagunar. O trabalho iniciou pela Lagoa da Tijuca, onde deve permanecer por 24 meses. Esta lagoa, a mais crítica, tem apenas 30 centímetros de profundidade em alguns pontos, concentrando a maior parte dos sedimentos e resíduos. As equipes utilizam retroescavadeiras flutuantes para remover o lodo e alcançar uma profundidade de 2,5 metros, permitindo a passagem de máquinas pesadas.

Expansão dos trabalhos

A dragagem chegará à Lagoa de Jacarepaguá em dezembro deste ano e à Lagoa do Camorim no próximo ano. Os canais da Joatinga e Marapendi receberão obras em abril e julho de 2026, respectivamente.

Destino dos resíduos

O lodo dragado é transportado para embarcações onde é filtrado. Os sólidos serão enviados para aterros sanitários, enquanto os sedimentos orgânicos preencherão cavas subterrâneas nas lagoas, formadas nas décadas de 1950 e 1960. A Lagoa da Tijuca, por exemplo, terá sua cavidade próxima ao Condomínio Península preenchida.

Combate ao despejo

irregular

Outro desafio é conter o despejo irregular de esgoto. Coletores de Tempo Seco (CTS) foram instalados para interceptar o esgoto antes de chegar às lagoas. Em abril, 26 pontos de coleta foram instalados, reduzindo o despejo de esgoto no sistema lagunar em 21 milhões de litros por dia.

O futuro das lagoas

Lucas Arrosti, diretor de operações da Iguá, destaca que a dragagem é apenas o começo da recuperação das lagoas, que também envolve a ampliação das redes de saneamento.

"A dragagem é o pontapé inicial, e um dos fatores que vão atuar na reconstituição dos lagos naturais para permitir uma troca hídrica, renovando a água das lagunas e melhorando a qualidade da água. Ainda tem o processo de ampliação das redes de água e esgotamento sanitário em comunidades. O ponto ótimo vai ser visto quando todas as ações estiverem finalizadas", afirma o diretor de operações da Iguá, Lucas Arrosti.

A urbanização intensa das últimas décadas não foi acompanhada por infraestrutura adequada, resultando em rios e canais altamente poluídos. O geógrafo Marcelo Motta, da PUC-Rio, reforça a necessidade de saneamento básico para uma recuperação efetiva.

Revitalização e ecoparque

Além da dragagem, o complexo lagunar passará por revitalização, incluindo instalação de telas de contenção, coleta de lixo e replantio de manguezais. O biólogo Mário Moscatelli, consultor do projeto, explica que os manguezais funcionam como esponjas, filtrando o esgoto e sequestrando carbono.

Projeto de Ecoparque

Os replantios anteriores já formaram uma considerável floresta de mangue, atraindo diversas aves. Inspirado por esses resultados, Moscatelli propôs a criação de um ecoparque na Lagoa do Camorim.

O projeto de lei PL 3070/2024 prevê a criação do Parque Municipal Natural Perilagunar, visando preservar o manguezal, mitigar o aumento da temperatura, promover estudos científicos e estimular o turismo ecológico.

Segundo o vereador Carlo Caiado, criador da PL, o projeto deve ser votado até julho deste ano.

"A ideia é criar um parque para ser exemplo de preservação, e também uma área de lazer para os cariocas e moradores da região. Acredito que até julho devemos votar o PL em primeiro e segundo turnos. Vamos aproveitar a limpeza da lagoa para mudar a relação da cidade com ela e garantir que continue limpa para as próximas gerações", afirmou Caiado.

Transporte

aquaviário nas lagoas

Na última segunda-feira, 3 de junho de 2024, foi anunciado um novo edital de licitação para a implantação do transporte aquaviário nas lagoas da Barra da Tijuca, Jacarepaguá e Recreio dos Bandeirantes. O edital, que será publicado no Diário Oficial do município, prevê a criação de um sistema de transporte integrado com o Bilhete Único, composto por 16 linhas e 29 estações.

As áreas beneficiadas incluem Jardim Oceânico, Muzema, Rio das Pedras, Anil e Gardênia Azul, conectadas pela Lagoa da Tijuca; Bosque Marapendi, Ponte Lucio Costa e Avenida Ayrton Senna, pela Lagoa de Marapendi; e Avenida Salvador Allende e Parque Olímpico, pela Lagoa de Jacarepaguá. A concessão envolverá um investimento de aproximadamente R$ 100 milhões e espera-se que o sistema atenda cerca de 80 mil passageiros por dia.

O projeto do transporte aquaviário é visto como uma solução essencial para a melhoria da mobilidade urbana na Barra da Tijuca, especialmente com o aumento do potencial construtivo na região decorrente da Operação Urbana Consorciada de São Januário. A iniciativa deve facilitar o fluxo de pessoas e aliviar o trânsito nas áreas mais densamente povoadas.

Opinião popular

Como já é de costume, o Jornal da Barra foi às ruas ouvir a população, principal afetada pelas obras de dragagem e implementação do sistema aquaviário nas lagoas. O estudante de Turismo, Richard Raphael, de 27 anos, mostrou-se animado com a novidade:"Tem algum tempo que escuto minha mãe falando sobre o transporte aquaviário, mas eu sempre fui descrente de que isso seria uma realidade um dia", disse ele.

Richard estuda na Estácio Tom Jobim e mora no Península. Ele contou que usa bastante o serviço de balsas para ir e vir da faculdade diariamente.

"Frequentemente uso as balsas do Península, e levo em torno de 10 minutos no máximo. Espero que, com essa expansão dos serviços marítimos, muitos turistas sejam atraídos e se encantem com as vistas das lagoas", finalizou o estudante.

Com um cronograma ambicioso e diversas ações em andamento, a dragagem e revitalização das lagoas da Barra da Tijuca e Jacarepaguá prometem trazer uma nova vida para a região, enfrentando os desafios de saneamento e recuperação ambiental.