A Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs (AB2L), promoveu na terça-feira (29), no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo, a primeira edição presencial do AB2L Lawtech Experience, que reuniu 2.500 inscritos e grandes nomes do setor jurídico e tecnológico em uma feira que contou com palestras, workshops, exposições e 65 estandes entre as 300 Lawtechs associadas.
Uma das presenças ilustres no evento foi do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux, que falou sobre a influência das novas tecnologias nos tribunais. Ele citou a música Daddy’s Car, composta por uma inteligência artificial da gravadora musical Sony a partir de obras dos Beatles. “Quem é o autor da música? Não se sabe, a inteligência artificial juntou e fez uma bela música. Claro que isso vai gerar problemas jurídicos. Quem é que vai receber os direitos autorais?”, indagou o ministro.
Fux também ressaltou a importância das novas tecnologias: “Nós vivemos em um país em que o ser humano é o centro da realidade do direito, tanto que a constituição federal tem como fundamento a dignidade da pessoa humana. A via digital hoje permite que o cidadão carente tenha mais acesso à justiça do que tinha anteriormente, pois não precisa de deslocamento para espaços físicos. Com um clique ele já resolve o problema dele. Como um recado aos associados da AB2L eu deixaria o seguinte: eu sempre entendi o direito como um instrumento da vida e da esperança. E a esperança dessa população está justamente no futuro da justiça digital”, exalta.
Antes do ministro do STF, Daniel Marques, advogado, filósofo e presidente da AB2L, abriu o ciclo de palestras e ressaltou que a inovação no direito chega para suprir as demandas impostas pelas transformações: “A sociedade clama por novas ferramentas e caminhos que transformem o modo em que o serviço jurídico é entregue para as pessoas. As Lawtechs e Legaltechs surgem como uma maneira de ajudar os advogados a exercerem melhor a profissão. Mas muito mais importante do que nós, advogados, são as pessoas para quem nós prestamos serviços. É impossível em uma sociedade hiper conectada o advogado não usar ferramentas de tecnologia para oferecer os melhores serviços. O direito não é para servir o advogado, mas a sociedade. E essa nobre missão só será cumprida diante de novos modelos de gestão, novas tecnologias e uma nova cultura jurídica”.
O advogado especialista em propriedade intelectual, Marcelo Mazzola, revelou que as novas tecnologias obrigam os advogados a sempre estarem atualizados. Ele falou sobre um caso em particular: “Recebi de um cliente uma ligação dizendo que o cavalo dele foi atropelado no metaverso e ele queria entrar com uma ação indenizatória”, disse. Ele elogiou o uso de robôs dentro dos tribunais, que acabam acelerando o trabalho. “O que o homem fazia em 30 segundos, o robô faz em 5 segundos”, comemorou. “Não aprendemos sobre essas inovações na faculdade. Estamos aprendendo com o avião no ar”, finalizou.
Para que os advogados possam ser formados já adaptados a esse meio, é importante também uma renovação na grade de ensino nas universidades, explica Ricardo de Abreu, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie: “Temos estudado trabalhar com inovação, tecnologia, uma nova formação em direito pensando em empreendedorismo. Eu acredito que para além das propriedades técnico profissionais, nós precisamos pensar na interdisciplinaridade e também em competências sócio emocionais, que são necessários para este novo profissional do direito, nesse novo cenário que está se desenhando com a influência desse novo ambiente tecnológico”.
Outra palestrante presente no AB2L Lawtech Experience, Celina Botinno, Diretora do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio), falou sobre a importância da abertura e interoperabilidade dos dados para a inteligência jurídica, e elogiou a oportunidade da troca de conhecimentos entre nomes relevantes do setor: “Acredito que todas as experiências que estamos tendo aqui vai contribuir para que o ecossistema siga aberto e vai fomentar todas essas soluções que a tecnologia tem nos dado”.
Para Bruno Bioni, diretor-fundador do Data Privacy Brasil, o evento foi capaz de reunir profissionais inovadores e o network foi muito positivo. Ele palestrou sobre dados abertos, transparência e inteligência artificial: “Toda a ideia de abertura de dados é instrumental para pensar na informação em estágio bruto enquanto bem comum, bem coletivo, para ele poder gerar uma inteligência que seja coletiva e a partir disso a gente possa pensar em inovação. Então, quando a gente fala de abertura de dados no poder judiciário, a gente está falando em como a sociedade civil que olhe um judiciário com uma produtividade melhor, em que a gente possa pensar em sistemas mais inteligentes de distribuição de processos”, disse Bioni.
Também presente no AB2L Lawtech Experience, o diretor do ITS Rio, Ronaldo Lemos, disse que ficou “chocado” com o tamanho do evento: “Eu vou a muitos eventos de música e isso aqui está do tamanho de um evento musical. É impressionante o que eu estou vendo aqui, o que mostra a força desse ecossistema que não tem marcha ré, que vai sempre seguir em frente e o mais importante: um ecossistema que dialoga com o judiciário e gera um ciclo virtuoso. Inovações que o judiciário provocou lá atrás, como a digitalização dos processos, chegaram ali na frente e provocaram o surgimento de um ecossistema, que por sua vez geraram mais inovações absorvidas pelo judiciário, que vai gerar mais inovações de cá e depois de lá. Virou uma dança muito positiva”.
O evento também contou ainda com as presenças internacionais de Mary O’Carroll, diretora de comunidade da Ironclad e ex-Legal Operations do Google e de Jennifer McCarron, diretora de Legal Operations e tecnologia na Netflix.
Antes do encerramento, a AB2L entregou o Certificado AB2L de Departamento Jurídico 4.0, selo que premiou 41 departamentos jurídicos que estão fazendo diferença no setor da inovação dentro do direito. “O departamento jurídico do futuro não é mais visto como um patinho feio da empresa, um centro de custos ou departamento do não, mas é um centro de negócios, que gera pontes e viabiliza as iniciativas dos outros setores. Para receber o certificado o Departamento Jurídico deve cumprir critérios objetivos que os ajudarão a inovarem e antecipar o futuro”, disse Daniel Marques, parabenizando as empresas ganhadoras do prêmio.