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Gibis pra todos os gostos

Por Rodrigo Fonseca

Especial para o Correio da Manhã

Mesmo alvejada pela alta imparável nos preços do papel e na luta com royalties, o mercado de quadrinhos no Brasil segue em fervura máxima, apostando cada vez mais na diversidade a fim de arrebatar um novo público leitor e preservar sua claque consumidora do passado. Confira o que há de novo no cardápio:

ÁRDUO AMANHÃ (editora Tordesilhas): Eleanor Davis ganhou o LA Times Booker Prize por um estudo precioso sobre o limite entre inércia e resiliência numa narrativa que celebra a união, na amizade e no amor. Sua protagonista, Hannah, uma cuidadora de idosas cheia de dúvidas em suas cabeças, é "a" personagem de quadrinhos do ano em nossas livrarias. Seu namorado é maconheiro profissional que vive da erva e sonha finalizar uma casa do campo, para plantar legumes e cânhamo. Já Hannah só quer ter um bebê. O traço é de uma elegância modiglianesca.

CHEW - O SABOR DO CRIME VOL. 1: AO GOSTO DO FREGUÊS: VOLUME 1 (Ed. Devir): A casa que alfabetizou gerações de brasileiros com RPGs e livros de Lourenço Mutarelli importa este achado da Image Comics. "Chew" lembra o seriado "Monk", só que beira um lado fantástico. Seu protagonista, Tony Chu, é um policial "cibopata", ou seja, ele consegue extrair impressões psíquicas de tudo o que come. O roteiro é de John Layman e o desenho de Rob Guillory.

"VIDA BESTA - FIM DO MUNDO" (editora Mino): Compilação das tiras do Robert Crumb de Florianópolis, o cartunista Galvão Bertazzi. A analogia com o pai de Fritz the Cat é menos pela anatomia calipígia avantajada e mais pelo espírito cronista, de tom existencialista. Em 80 páginas, Galvão esbanja humor e depura sua filosofia.

"OS GUARDIÕES DE MASER - LIVRO 1: A SEGUNDA LUA" (editora Graphite): Obra-prima do italiano Massimiliano Frezzato. Sua trama se ambienta em Kolonie, um deserto povoado por alguns poucos humanos cuja memória foi tirada por anos de guerra e ignorância. Neste planeta hostil, um homem está procurando a Torre, sua única chance de trazer vida de volta àquele mundo. Frezzato desafia as leias da gravidade numa narrativa retrofuturista.

ARENA (editora Pipoca & Nanquim): Uma espécie de "O Grande Dragão Branco" em HQs na forma de uma radiografia da noite de São Paulo a partir dos inferninhos e da indústria de lutas do MMA, desenhada com hiper-realismo por Alan Patrick. Nas carrapetas do roteiro, Alexandre Callari escreve um personagem fascinante: Rômulo Cruz, o Triturador. De longe, a melhor HQ nacional do ano. Até agora.

NECTARINA (editora Veneta): Uma relevante aquisição sociológica para qualquer gibiteca que aposte na luta contra a homofobia. Na trama, a pequena Nessie ajuda sua tia, Ray, a driblar os percalços de seu namoro com Bron, jovem assombrada por fantasmas da intolerância.

BAD MOTHER (editora Panini Comics): Tratado sobre empoderamento feminino, disfarçado de "Breaking Bad", esta minissérie de Christa Faust, desenhada por Mike Deodato Jr., sai agora no Brasil encadernada, celebrando o carisma de uma personagem gente como a gente: April Walters. Uma mãe suburbana falida que pega em armas quando sua filha é ameaçada pela máfia. O roteiro é uma surpresa após a outra.

TARZAN, O SENHOR DA SELVA (ed. Pipoca & Nanquim): Nostalgia alguma resiste às 308 páginas de arqueologia quadrinística aplicada ao legado de aventuras do Conde de Greystoke, criado em por Edgar Rice Burroughs (1875-1950) em 1912. Seu miolo tem como recheio as HQs escritas em 1977 por Roy Thomas, amparada pela pena renascentista do desenhista John Buscema. Os diálogos devassam qualquer sanha imperialista ou racista que tenha assombrado o herói.

GRANDES AVENTURAS DO FANTASMA (editora Mythos): A empresa que mais publica fumetti (termo italiano para HQs), com Tex e Zagor, investe no Espírito Que Anda numa perspectiva originalíssima. Esse almanaque é dedicado a histórias de Kit Walker editadas na Itália pela Cia. Fratelli Spada, por bambas dos quadrinhos como Gallieno Ferri, Senio Pratesi e Nanno Silvestrini.

XEQUE-MATE (editora Panini): Brian Michael Bendis e Alex Maleev unem forças pra reciclar um dos marcos da espionagem nas HQs de super-heróis, que vai virar série da HBO Max, sob aa batuta de James Gunn: a agência Xeque-Mate. Seus operativos mascarados, delineados em analogia a um tabuleiro de xadrez, unem forças ao Arqueiro Verde, Questão, Tália Al Ghul, Lois Lane e a Justiceira para salvar o mundo. Parece um bom filme de 007.

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