Faça o que eu digo, mas não faça o que faço

Denúncia contra presidente da cbat por uso indevido de recursos. E agora, doutor?

Por Cláudio Magnavita*

Wlamir Motta Campos, presidente da CBAt e Paulo Wanderley, do COB


"Não bata palma para doido. Deixa ela fazer o que ela quiser. Não entra nessa. Ela quer polemizar, atrito, palanque. Eu não vou entrar nessa ela faz o que ela quiser. Ela mandou mensagem para ouvidoria? Deixa a ouvidoria fazer o trabalho. Ela que cobre a ouvidoria".

É assim que Wlamir Leandro Motta Campos, presidente da Confederação Brasileira de Atletismo, responde à preocupação de seus pares sobre denúncias de má administração na entidade.

Um relatório de irregularidades na CBAt, com mais de 300 páginas, foi encaminhado à ouvidoria da entidade máxima do atletismo no Brasil. Nelas, há denúncia sobre evidência de superfaturamento na compra de medalhas - como exemplo, na compra para o Campeonato Brasileiro SUB 23 de 2022. Cada medalha custou o valor de R$ 68 reais, sendo que o valor praticado pela empresa fornecedora no mesmo período era de R$ 25 reais.

Outra denúncia é a que coloca o presidente da CBAt como Diretor Jurídico da ADAB. Mas para ser diretor jurídico de alguma entidade, não é preciso ser advogado, ter OAB ativa? Pois bem, ele nunca foi advogado, muito menos possui carteira da OAB.

No relatório também se questiona a contratação de pessoal e de empresas para fornecimento de serviços sem processo licitatório ou qualquer modo de concorrência.

Mas, o que mais chama atenção é a falta de transparência na gestão financeira da entidade. Alguém que, desde a campanha para assumir o cargo, se intitulou ficha limpa, idôneo e gestor profissional, não deixa sua entidade ser transparente para a população. No portal, não há publicação de despesas da entidade, o que infringe a Lei Pelé e a Lei Geral do Esporte.

Atas de reuniões de agosto de 2023 que não foram publicadas até hoje no site da CBAt. Por quê? Existem suspeitas de que repasses oriundos da Lei Agnelo Piva estavam sendo utilizadas para pagamentos não previstos para esses recursos, em momentos de ausência de fluxo de caixa e que, posteriormente, as contas eram repostas. Cadê o COB para averiguar isso?

Outro exemplo de falta de transparência foi o uso do Fundo de Reserva da entidade, R$ 4.7 milhões, com base em autorização do Conselho de Administração, porém nunca prestou contas para que esse valor foi utilizado. E ninguém questiona. Ninguém. Nem o COB.

O favorecimento em contratos com a Loterias Caixa para a ADAB está registrado. Foram R$ 2,4 milhões para a entidade do presidente da CBAt para "palestras falando de atletismo". Cadê a prestação de contas sobre onde foram essas "palestras"? Estranho, para não dizer outra coisa.

Em fevereiro deste ano, o Conselho Fiscal da CBAt se reuniu em um hotel na região do Ibirapuera para deliberar sobre o balanço fiscal da entidade. Mesmo com inúmeras denúncias de seus federados, a comissão aprovou o relatório, porém fez ressalvas importantes no documento assinado por quatro auditores: "Este Conselho Fiscal orienta que sejam observados os apontamentos feitos na ata da reunião, publicada no sítio eletrônico da confederação, levando em consideração princípios de eficácia e eficiência institucional e otimização de recursos".

É quase um "você finge que trabalha e eu finjo que acredito". É justamente na questão do uso indevido de recursos que a CBAt falha e o Conselho Fiscal, mesmo assim, aprova o balancete financeiro do ano anterior? Piada.

Segundo nossa apuração, a CBAt enviou os atletas brasileiros para o Mundial deste ano apenas para "um treino de luxo". Ora, a pergunta que não quer calar: qual o sentido em se gastar verba pública, após dois anos de déficit, se o intuito não era preparação olímpica?

Outras perguntas que também precisam de resposta: o que essa gestão está fazendo de diferente para melhorar o desempenho dos atletas? Para essa competição, qual origem da verba da delegação? É COB? Caixa?

Para uma administração que se intitula como melhor gestão que as anteriores e que diz colocar em prática o profissionalismo, não é isso que estamos vendo no dia a dia. Outra prova de incompetência é a queda no número de medalhas dos últimos mundiais para cá: em 2018, em Birmingham, foram três finais e uma medalha com 7 atletas no evento; quatro anos depois, em 2022, em Belgrado, foram cinco finais e duas medalhas com uma delegação de 17 pessoas. Agora em 2024, em Glasgow, pasmem... nenhuma medalha, apenas 1 final com 20 atletas na competição.

O contraditório faz parte das regras editoriais do grupo Correio da Manhã e, por isso, o espaço está aberto para manifestação da CBAt e do COB.

 Diretor de Redação*