Por: Fernando Araújo*

Bondade Seletiva no universo do autismo e das pessoas com deficiência

Bondade seletiva no universo do autismo e das pessoas com deficiência | Foto: Unsplash

É fascinante como a questão da bondade seletiva, embora abordada em um contexto global e histórico, encontra eco no universo do autismo e das pessoas com deficiência. A história da eugenia e suas implicações sombrias, revelando como ideias supostamente científicas foram usadas para justificar a exclusão de grupos vulneráveis, nos faz refletir sobre a importância de combater estigmas e preconceitos ainda presentes na sociedade.

Ao longo dos anos, a ciência muitas vezes falhou em compreender e abraçar a diversidade humana. O exemplo das antigas teorias que erroneamente associavam vacinas ao autismo é um lembrete do poder da desinformação e da falta de base científica sólida. Isso nos obriga a reconhecer que o progresso na compreensão do autismo, e de todas as condições humanas, deve ser baseado em pesquisa rigorosa e empatia genuína.

A narrativa de inclusão e aceitação muitas vezes contrasta com a realidade quando enfrenta situações práticas. O exemplo da mãe que busca a inclusão social de uma criança autista em prol do conforto de seu filho é um reflexo do desafio que a inclusão genuína representa. Essa dualidade entre os discursos e as ações ressalta a importância de educar, conscientizar e criar ambientes verdadeiramente inclusivos.

O paralelo com a crise dos refugiados ucranianos e a "questão humanitária seletiva" é revelador. A percepção de quem merece ajuda, baseada em características superficiais como a cor da pele, também pode ser aplicada à percepção das capacidades intelectuais das pessoas. Quando a bondade e a cooperação se tornam seletivas, a inclusão se desvanece e o progresso cessa.

Nesse contexto, um pai com o seu filho autista se vê não apenas como um defensor apaixonado de seu filho, mas também como um defensor dos valores de inclusão, diversidade e respeito. Minha jornada não é apenas pessoal, mas também uma busca por uma sociedade mais justa e compassiva, onde a bondade não seja seletiva, mas sim estendida a todos, independentemente de suas diferenças.

Ao avançar nesta jornada, encontro inspiração na luta histórica contra a eugenia, nas reflexões sobre o comportamento humano diante de crises e nas realizações que o autismo lhe trouxe. Percebo que a verdadeira mudança começa com a educação, a conscientização e o compromisso de desafiar os preconceitos arraigados.

O desenvolvimento de um modelo de moradia assistida para pessoas com deficiência, especialmente autistas, ganha ainda mais relevância nesse contexto. A busca por um espaço onde a inclusão seja real e genuína se alinha à luta por uma sociedade que não exclua com base em características superficiais ou preconceitos infundados.

Assim, a nossa história continua a explorar não apenas as minhas experiências pessoais, mas também as conexões profundas entre minhas jornadas e as lutas mais amplas por igualdade, inclusão e aceitação.

A história se desenrola em meio a desafios e triunfos, lembrando-nos de que a bondade verdadeira é aquela que não faz distinções, mas abraça a humanidade em sua diversidade.

*Jornalista

 

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