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Estação final do Trem da Morte resume caos da extinta rota da Noroeste do Brasil

| Foto: Reprodução/ Eduardo Anizelli

Por: Marcelo Toledo

Mais de 40 vagões abandonados há muitos anos, lixo no vão entre os trilhos e a plataforma de embarque, mato tomando conta dos vagões, pichações em toda a estação, a maioria dos vidros quebrados e parte da estrutura principal desabada.

Esses são alguns dos muitos problemas que a principal estação ferroviária de Corumbá, a última da rota iniciada em Bauru da extinta Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, apresenta.

Batizada como Trem da Morte devido aos incidentes ocorridos com a gradual perda de investimentos na ferrovia e também por conta do Trem da Morte original, que liga Puerto Quijarro, cidade boliviana vizinha a Corumbá, a Santa Cruz de la Sierra, a rota da Noroeste do Brasil era composta por 1.272 quilômetros e foi percorrida em toda a sua extensão pela Folha.

A rota boliviana ganhou o nome devido ao grande número de acidentes e por ter sido, no passado, utilizada para o transporte de doentes.

Moradores da região da estação dizem que o local está abandonado pelo menos desde 2015 e que é constantemente utilizado por moradores de rua e usuários de drogas, que contribuíram para provocar os estragos, inclusive um incêndio.

Os bancos que um dia foram instalados hoje estão quebrados e seus pedaços estão jogados em meio a restos de comida e embalagens plásticas. No banheiro, tudo foi quebrado e havia roupas no chão, além de um forte mau cheiro.

Janelas de ferro e portas também foram arrancadas e cacos de vidros das janelas quebradas há anos ainda estavam espalhados no local quando lá estive com o repórter fotográfico Eduardo Anizelli.

"A última vez em que foi pintada houve conversa de reativação de um trem turístico até Miranda, mas ficou só na conversa. Ninguém cuida desse lugar", disse o motorista de aplicativo Augusto Ferreira, que costuma ficar na região à espera de chamadas de usuários.

A Noroeste do Brasil, que começou a ser construída em 1905, passou a fazer parte da RFFSA (Rede Ferroviária Federal S.A.) em 1957, onde ficou até a concessão à Novoeste na década de 90.

Da empresa, em parceria com a Ferroban e a Ferronorte surgiu a Brasil Ferrovias, que depois passou a ser Nova Novoeste, até ser incorporada à ALL (América Latina Logística).

Esta, por sua vez, foi absorvida pela Rumo Logística, atual detentora da concessão da ferrovia, mas o contrato inclui apenas algumas estações -não é o caso da estação de Corumbá.
Das 122 estações erguidas entre Bauru e Corumbá, ao menos 80 foram demolidas ou estão em processo avançado de deterioração, abandonadas ou fechadas, sem uso algum. A maior parte delas está sob responsabilidade do governo federal.

A cidade sul-matogrossense, dada a sua extensão territorial, chegou a ter 11 estações ferroviárias, a maioria delas sem uso algum ou demolidas.