De Artur Hass a Jacques Wagner
Cabe uma reflexão neste momento sobre a presença dos judeus na formação da sociedade brasileira.
Cabe uma reflexão neste momento sobre a presença dos judeus na formação da sociedade brasileira. Os primeiros judeus, não marranos ou cristãos novos, vieram no século XIX pelas mãos do Imperador Pedro II, que tinha admiração por eles e sua cultura. Pedro II visitou duas vezes a Terra Santa e falava hebraico e ídiche. A colônia foi organizada e a viagem financiada pelos barões franceses Rothschild e Ulrich, tendo os primeiros ido para o Rio Grande do Sul, onde até hoje têm presença relevante na vida gaúcha. No final do século e nas primeiras décadas do século passado, vieram muitos das regiões Polônia-Ucrânia e do Oriente Médio.
Esses imigrantes, que vieram para ficar, deixando descendência — brasileiros relevantes, já em quarta ou quinta geração — em praticamente todos os estados brasileiros, têm exemplos notáveis de dignidade e personalidade.
Arthur Haas foi um deles, vindo da região da Alsacia. Chegou a Belo Horizonte em 1894, teve cinco filhos e fundou suas empresas, entre as quais, nos anos 1920, já se destacava a Casa Arhur Haas como a mais importante revenda Ford de Minas e uma das maiores do Brasil. Ocorre que, também nos anos 1920, o industrial Henry Ford entusiasmou-se por Hitler e começou a fazer doações para o partido nazista alemão, já de discurso antissemita. Haas não hesitou em romper com a Ford, devolvendo a valiosa concessão. Meses depois, foi convidado a representar a General Motors, o que fez por quase um século. Uma lição e prova da personalidade de um grande homem, que fundou a primeira sinagoga da capital mineira e sempre esteve presente em obras sociais. Haas teve a filha Rosa casada com Wolf Klabin, que nos legou a grande empresa e os filhos Israel, Armando e Daniel, continuadores da sua obra.
Já o senador Jacques Wagner, filho de judeus poloneses, nascido no Brasil, em Copacabana, passando a mocidade praticando esportes no Clube Israelita e frequentando a sinagoga anexa, fez carreira política desde sempre na esquerda. Agora é líder do governo no Senado Federal. Vem causando perplexidade sua indiferença às posições do governo a que serve de franca oposição à legítima defesa de Israel diante do monstruoso terrorismo do ano passado. O Hamas afirma e reafirma que quer acabar com o povo judeu e é apoiado pelo Irã. Entristece a todos, não apenas os judeus, uma atitude como essa, que não se justifica. Também o senador David Alcolumbre não se manifestou e pertence à base governista, judeu sefardita.
A política do Rio sempre teve bons representantes de origem semita, como o senador Aarão Steinbruch, os deputados Milton Steinbruch, Rubem Medina, Maurício Pinkusfeld, Gerson Bergher, Silbert Sobrinho, de inquestionável identidade com a causa, que historicamente é a do Brasil.
Uma pena os senadores macularem suas biografias com esta ignominiosa omissão.