O jornalista e escritor Beto Seabra lança hoje (17) o seu segundo romance, "Lembranças de um tempo sem memória", publicado pela Arribaçã Editora (Cajazeiras - PB, 2024). A "noite de autógrafos" é a partir das 18h, no Beirute da 109 Sul, dentro do projeto "Beira Cultural". O livro tem 341 páginas e custa R$ 60.
No posfácio do livro, o escritor e pesquisador Marcos Fabrício Lopes da Silva afirma que o livro de Beto Seabra, diante de escolhas plurais, "nasce do desassossego autoral e experimenta descanso em um lócus territorial privilegiado: o florescimento do amor". Quer dizer então que ao falar de morte, desaparecimentos, história política e tudo mais, estamos na verdade é buscando uma resposta ao desamor?
"Lembranças de um tempo sem memória", tenta enfeixar tudo isso em trezentas e poucas páginas. Quem ler, saberá responder se ele conseguiu. Quer compreender melhor o enredo? Segue a degustação:
"As lembranças se misturam, os fatos são muitos. Mas é preciso escrever sobre todas as coisas que aconteceram. Vamos começar pelo fim.
Aldair trabalha em uma plataforma de petróleo em Macaé, estado do Rio de Janeiro, e recebe um convite do amigo Milton, um pintor, que vive em Brasília e o convida para uma exposição de quadros para celebrar os 50 anos de carreira. Estamos em 2016. Ano do golpe jurídico-parlamentar, ou impeachment, como preferem alguns, contra Dilma Rousseff.
Ao ver o convite, Aldair mira um dos quadros nele fotografado, que retrata uma festa junina no início dos anos 1970, quando Brasília ainda era mais poeira e cerrado que cidade de concreto.
A imagem o remete às pessoas que estavam naquela festa junina, e, portanto, dentro do quadro de Milton. Onde estará Nélio? Desapareceu e não se sabe se está vivo ou morto.
Na mesma época um crime chocou a cidade. O jornalista Mário Eugênio foi assassinado a mando do esquadrão da morte do Distrito Federal, formado por militares e policiais. O regime militar definhava e o País se preparava para eleger, ainda que de forma indireta, um presidente civil após vinte anos de ditadura. Estamos em 1984.
De volta a 2016, Aldair viaja para Brasília para ver a exposição de Milton e encontra o amigo Vicente, outro personagem daquele quadro pintado lá atrás. E reencontra Susana, sobrinha de Vicente, que Aldair conheceu adolescente, mais de década atrás, e que pretende fazer um documentário sobre a superquadra onde todos aqueles personagens cresceram. E onde o já dito quadro foi pintado.
Com um livro de memórias sobre a sua juventude em Brasília iniciado, Aldair primeiro vê em Susana uma concorrente, mas depois se convence de que os dois podem trabalhar juntos. Ele ajudando a dar corpo ao documentário dela. Ela inspirando-o a buscar as respostas que faltam para suas memórias, a começar pelo paradeiro de Nélio.
Outros fatos surgem: um caso de abuso sexual contra um amigo de infância de Aldair volta à tona, muitos anos após ser soterrado pelas lembranças. Além disso, Aldair e Susana decidem seguir no encalço de um possível responsável pelo desaparecimento de Nélio. Seria possível, 32 anos depois?
Mais uma pista para descobrir o destino de Nélio, vivo ou desaparecido para sempre, seria o destino de uma cigana, por quem o rapaz fora apaixonado na adolescência. Para onde teria migrado o povo dela, depois de deixarem Brasília expulsos pela polícia do regime militar?"