Por: William França

BRASILIANAS | Audiência pública poderá salvar Fundação Athos Bulcão

Proposta para a sede da Fundação Athos Bulcão, no Setor de Difusão Cultural (antiga Funarte) | Foto: Fotos: Fundação Athos Bulcão

Macaque in the trees
Projeto do arquiteto Lelé Filgueiras para a Fundação Athos Bulcão | Foto: Fundação Athos Bulcão

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Athos Bulcão notabilizou-se por desenhar grafismo em azulejos, mas também pintou telas e fez painéis e murais | Foto: Fotos: Tuca Reinés

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Athos Bulcão e Oscar Niemeyer, criador de Brasília | Foto: Fundação Athos Bulcão

Exatos 16 anos após ter sido prometida "ao pé do caixão", a construção da sede para a entidade é retomada. Se aprovada a concessão do terreno, projeto está pronto conficae

A secretária-executiva da Fundação Athos Bulcão, Valéria Cabral, contou à "Brasilianas", em detalhes, os momentos que vivenciou em 2008 quando o mestre das artes gráficas - que se imortalizou nas dezenas de azulejos e murais espalhados por Brasília - morreu, em 31 de julho daquele ano, aos 90 anos. "Ao pé do caixão, o então governador José Roberto Arruda prometeu que ele (Athos Bulcão) teria um local que reverenciasse sua obra, para que todos pudessem conhecer sua arte e sua história".

Arruda teve de deixar o GDF pouco tempo depois. Daí, no dia 2 de julho de 2009, quando o artista completaria 91 anos, numa solenidade com direito a concerto da Orquestra Sinfônica da Polícia Militar e do quinteto da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, o então governador em exercício, Paulo Octávio, lançou a pedra fundamental da sede da fundação, que seria construída no Setor de Difusão Cultural, no Eixo Monumental (ao lado da antiga Funarte), num terreno de 1.300 m². "Agora podemos dizer que Athos terá um espaço digno e merecido para uma exposição permanente de sua vida e obra", disse P.O., na ocasião.

Paulo Octávio renunciou ao GDF logo depois e, segundo Valéria Cabral, "o terreno foi desdoado". Desde então - de governador a governador - ela tenta fazer com que a proposta da construção da sede se viabilize. Agora, que está com as contas estouradas e devendo até impostos ao próprio GDF, a Fundação Athos Bulcão vê nova chance de salvação: a Secretaria de Cultura convocou a população do DF para uma audiência pública que pode decidir - enfim - pela concessão do terreno.

Por ser uma entidade privada (ainda que sem fins lucrativos), o GDF só pode conceder o terreno, sem licitação, se houver essa anuência popular. "O secretário Cláudio Abrantes se sensibilizou com a nossa situação. Se não tivermos esse terreno, a gente fecha tudo", afirma a secretária-executiva da entidade, que há 28 anos zela pela memória do artista. "Compareçam, por favor. Todos, sobretudo a classe artística", apelou Valéria Cabral.

A audiência pública será realizada no dia 12 de julho (numa sexta-feira), às 11h, no Auditório do Museu Nacional da República. No dia 2 de julho (dez dias antes da audiência), completam-se 116 anos do aniversário do artista. "Eu espero comemorar esse aniversário com esse presente para o Athos", afirma Valéria.

Projeto do renomado Lelé Filgueiras deve custar R$ 8 milhões

Passada a (esperada) concessão, para que a Fundação Athos Bulcão possa trabalhar a promoção, documentação, preservação, pesquisa e difusão da obra do artista brasiliense, a próxima etapa será a de levantar fundos para a edificação do projeto, que foi criado em 2009 pelo arquiteto Lelé Filgueiras - o mesmo que projetou os hospitais da Rede Sarah em todo o país. Ele é considerado um mestre na concepção de edifícios que usam a iluminação e ventilação naturais como elementos-chave. E em todos os hospitais da Rede Sarah, tem obras de Athos Bulcão.

O prédio proposto para ser a sede da fundação ocupa 70% do lote. Nos restantes 30% foram previstos jardins que se integram à área da administração e um café. "A cobertura ondulada se eleva na parte central do edifício formando uma grande claraboia, protegida por policarbonato que ilumina o salão de exposições", descreve o projeto. "A área do jardim que se integra ao edifico é protegida do devassamento por painel executado com peças de argamassa armada proposto por Athos para o hospital Sarah de Salvador", completa.

O projeto prevê um auditório para 180 lugares, além de um grande palco com pé direito de 6 metros de altura, permitindo seu uso para teatro e música. O teto da plateia e do palco é formado por lâminas metálicas móveis que permitem o escurecimento total do espaço. O projeto é estimado em R$ 8 milhões, e poderá ser financiado por meio da Lei Rouanet, de incentivo à Cultura.

"Já disse para um tanto de gente que o Athos vai ficar assombrando, no pé da cama, se não cumprir o que está sendo prometido", finaliza Valéria Cabral, em tom de pilhéria. Mas, pelo jeito, o fantasma do artista é bonzinho... ninguém o levou a sério, ao longo desse tempo todo!