Por: William França

BRASILIANAS | Brasília visualmente poluída (4): Painéis gigantes surgem do nada nas laterais dos prédios

Empena ocupada por um painel de LED gigante, do "Metrópoles", no mesmo lugar em que foi vetada (há apenas uma semana) a instalação de equipamentos semelhantes | Foto: Fotos: Ivan Felix/Brasilianas

 

Macaque in the trees
Painel luminoso institucional do "Correio Braziliense" instalado na L4-Sul. Esse painel não tem empresa responsável nem qualquer indicação de autorização de instalação. | Foto: Ivan Felix/Brasilianas

Jornais locais travavam a “guerra das empenas” – no fim das contas, hoje a cidade está tomada por painéis irregulares. E que surgem do nada, sem saber quem autorizou.

No quarto episódio desta série sobre a poluição visual na cidade, não se pode passar desapercebida a guerra que se instalou, há pelo menos seis anos, e que envolvem dois dos maiores grupos de comunicação da cidade: de um lado, o jornal “Correio Braziliense” e, de outro, o site de notícias “Metrópoles”.
A briga toda tem como pano de fundo a insistente tentativa do “Metrópoles” em instalar painéis gigantes nas empenas (fachadas que não tem janelas, normalmente nas laterais) de prédios de propriedade do ex-senador Luiz Estevão, sobretudo no Setor Bancário Sul. Eles ficam voltados para a região central da cidade, com imensa visibilidade.
O “Correio Braziliense”, por sua vez, sempre fez reportagens denunciando os abusos e irregularidades dos painéis do “Metrópoles”. Fez, em nome da preservação do tombamento pela Unesco uma verdadeira campanha junto a órgãos de defesa do Patrimônio para que esse painel gigante fosse removido. Ganhava liminar. Perdia liminar. Até que uma pendenga política local deu uma solução.

Em 6 de fevereiro de 2018, o “Metrópoles” havia instalado um painel gigante, de 246 metros quadrados, com 22 metros de altura, na empena de um prédio. Segundo a empresa, com todas as autorizações necessárias. Em maio daquele ano, o painel exibiu uma série de anúncios do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Saúde fazendo críticas ao governador de então, Rodrigo Rollemberg (PSB), falando em incompetência, omissão e má gestão do governo.
Oito dias depois – segundo o “Metrópoles” – a Agefis (agência de fiscalização da época, hoje DF Legal) apresentou notificação para que fosse desligado o painel, alegando desconformidade com as regras. Em 2 de junho, uma operação comandada pelo próprio Rollemberg retirou “os engenhos publicitários irregulares da cidade”. Um deles, foi o painel do “Metrópoles” – que acusou censura e declarou guerra a Rollemberg. Ações judiciais devolveram o equipamento ao “Metrópoles”, mas sem que ele pudesse ser religado.
Em julho de 2020, o já governador Ibaneis Rocha sancionou uma lei que alterava o Plano de Diretor de Publicidade, permitindo que painéis de LED de publicidade fossem instalados e veiculassem conteúdos jornalísticos em regiões tombadas do Distrito, assim como os setores Comercial e Bancário Sul e Norte. O projeto de lei havia sido apresentado pelos distritais Delmasso (Republicanos) e Rafael Prudente (MDB) e foi aprovado – e sancionado – em menos de um mês.
Daí o painel voltou a ser religado. Mas, 3 meses depois, em outubro, por conta de uma ação judicial de 2018, o Tribunal de Justiça do DF mandou desligar – e apreender os equipamentos. Foi tirado o painel do “Metrópoles” da empena. Depois, por meio de uma ação julgada procedente pela 5ª Turma Cível do TJDFT, o “Metrópoles” retomou a permissão de instalação, uma vez que a licença de instalação do equipamento seguia válida.

Agora a guerra acabou... os inimigos estão do mesmo lado!

E hoje em dia? O fato é que o painel do “Metrópoles” do Setor Bancário Sul “deu filhotes”. Hoje, por exemplo, tem um outro, semelhante, que foi recentemente instalado (galhardamente) na empena do Centro Comercial Boulevard – no Setor de Diversões Sul. Na mesmíssima fachada em que, há uma semana, o governador Ibaneis vetou a autorização dada pela Câmara Legislativa para transformar o Conic numa grande caixa de painéis de LED.
Quem autorizou? Ninguém sabe... Quem reclamou? Ninguém....
Agora, o “Correio Braziliense” desistiu de brigar com o “Metrópoles” e aderiu à mesma ferramenta e estratégia. Tem alguns painéis de LED espalhados pela cidade (bem menos que o concorrente) nos quais faz exatamente o mesmo que o “Metrópoles”: autopromoção, divulgando os eventos que têm interesse ou que são patrocinadores... Ah, é claro... algumas notícias também!
No caso dos painéis do “Correio Braziliense”, um que está instalado na L4-Sul, perto do Setor de Embaixadas, não tem nenhuma informação de quem autorizou. Nenhuma plaquinha, nada. Nem o nome da empresa que responde por ele. É como se tivesse “surgido do nada”, na beira da rodovia... Coisas de Brasília (visualmente) poluída. Ninguém sabe de nada!