
No dia em que o Plano Real completa 30 anos, nesta segunda-feira, vale a pena relembrar uma das aventuras mais curiosas que este colunista (então repórter da Folha de S.Paulo) viveu, nos tempos de cobertura política. Esse título, acima, foi o mesmo publicado no jornal paulista em 1994.
O repórter Valteno de Oliveira, da TV Bandeirantes (onde ele hoje é apresentador), recebeu uma informação da Polícia Federal de que moedas de real - que nem haviam circulado ainda - tinham ido parar num contêiner de lixo próximo ao Supremo Tribunal Federal (STF). Eram 200 moedas de R$1. A partir da dica, que ele compartilhou comigo, fomos atrás de entender o que tinha acontecido. E encontramos os personagens.
Os catadores Manoel Francisco de Freitas, (então 44 anos) e Edilson Alves da Silva (de 24), encontraram um saco plástico do Banco do Brasil recheado com as moedas, em meio ao lixo em um contêiner. Depois, descobriu-se que elas tinham saído da Agência do BB no Senado, que as descartou sem querer no meio das embalagens de papel.
Os dois chegaram a gastar parte do dinheiro numa padaria comprando cachaça, cigarros, pão e leite. Eles só foram surpreendidos quando Manoel tentou trocar parte do dinheiro na agência do BB do Supremo. Daí, o caso foi parar na Polícia Federal, que instaurou inquérito para apurar as responsabilidades pelo abandono do dinheiro numa lata de lixo. Das 200 moedas, a PF conseguiu recuperar 172.
Corrigido pela inflação brasileira, o R$ 1 daquela época equivalem a R$ 8,08. Ou seja, o real tinha oito vezes mais poder de compra há 30 anos. Era possível comprar, por exemplo, 10 pãezinhos (que custava cerca de R$ 0,10 cada). O litro da gasolina custava apenas R$ 0,55 - assim, os R$ 200 que foram parar no lixo comprariam 363 litros do combustível.
Os dois catadores não foram presos. O Banco Central foi informado sobre as moedas e abriu uma auditoria no Banco do Brasil. Isso porque as moedas encontradas pelos catadores estavam dentro de um saco plástico, e o Banco Central só usa saco de pano. A irregularidade foi apenas administrativa.