BRASILIANAS | Moedas de Real vão parar no lixo

Descobriu-se que elas tinham saído da Agência do BB no Senado, que as descartou sem querer no meio das embalagens de papel.

Por William França

Moedas de real, embaladas num saquinho (como o da imagem) foram encontradas por 2 catadores de lixo, antes do lançamento oficial da moeda, em 1994

Divulgação/Pimp My Carroça - A dupla de catadores, como esses da foto, recolhiam caixas de papelão do Senado Federal. Num deles, havia 200 reais em moedas

No dia em que o Plano Real completa 30 anos, nesta segunda-feira, vale a pena relembrar uma das aventuras mais curiosas que este colunista (então repórter da Folha de S.Paulo) viveu, nos tempos de cobertura política. Esse título, acima, foi o mesmo publicado no jornal paulista em 1994.

O repórter Valteno de Oliveira, da TV Bandeirantes (onde ele hoje é apresentador), recebeu uma informação da Polícia Federal de que moedas de real - que nem haviam circulado ainda - tinham ido parar num contêiner de lixo próximo ao Supremo Tribunal Federal (STF). Eram 200 moedas de R$1. A partir da dica, que ele compartilhou comigo, fomos atrás de entender o que tinha acontecido. E encontramos os personagens.

Os catadores Manoel Francisco de Freitas, (então 44 anos) e Edilson Alves da Silva (de 24), encontraram um saco plástico do Banco do Brasil recheado com as moedas, em meio ao lixo em um contêiner. Depois, descobriu-se que elas tinham saído da Agência do BB no Senado, que as descartou sem querer no meio das embalagens de papel.

Os dois chegaram a gastar parte do dinheiro numa padaria comprando cachaça, cigarros, pão e leite. Eles só foram surpreendidos quando Manoel tentou trocar parte do dinheiro na agência do BB do Supremo. Daí, o caso foi parar na Polícia Federal, que instaurou inquérito para apurar as responsabilidades pelo abandono do dinheiro numa lata de lixo. Das 200 moedas, a PF conseguiu recuperar 172.

Corrigido pela inflação brasileira, o R$ 1 daquela época equivalem a R$ 8,08. Ou seja, o real tinha oito vezes mais poder de compra há 30 anos. Era possível comprar, por exemplo, 10 pãezinhos (que custava cerca de R$ 0,10 cada). O litro da gasolina custava apenas R$ 0,55 - assim, os R$ 200 que foram parar no lixo comprariam 363 litros do combustível.

Os dois catadores não foram presos. O Banco Central foi informado sobre as moedas e abriu uma auditoria no Banco do Brasil. Isso porque as moedas encontradas pelos catadores estavam dentro de um saco plástico, e o Banco Central só usa saco de pano. A irregularidade foi apenas administrativa.