Intelectuais e historiadores reclamam dos abusos dos painéis de LED, que perturba quem mora em Brasília. E em julgamento histórico, desembargador ressignifica os valores de quem cuida e preserva a cidade. Verdadeiramente.
Recentemente, provocados por uma onda de abusos por parte dos legisladores - seja por parte dos deputados distritais, seja pelo Governo do Distrito Federal -, inúmeros brasilienses, de nascimento ou de adoção, têm aproveitado o momento para retomar a defesa do projeto original de Lúcio Costa e das obras de Oscar Niemeyer, que se tornaram icônicas e levaram Brasília a ser declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco.
O arquiteto goiano Salviano Guimarães, de 81 anos, que integrou a Câmara Legislativa do DF em sua primeira legislatura (de 1991 a 1995) e foi o primeiro presidente do legislativo distrital, disse recentemente que o que está sendo feito em Brasília é um "urbanicídio". Explicando: seria uma sentença de morte para o projeto urbanístico da Capital.
"É com pesar que acompanho essa descaracterização e essa falta de respeito para com o projeto original", afirmou à "Brasilianas" a também arquiteta e urbanista Vera Ramos. Ela acompanha de muito perto, há mais de 40 anos, todas as iniciativas (e tentativas) de deturpação das regras que levaram ao tombamento de Brasília. Inclusive da infestação de tótens publicitários que se alastraram por toda a cidade.
Segundo ela, "o verde livre e o vazio fazem parte do que foi pensado para a cidade". Por isso, os tótens luminosos agridem tanto. "Uma das identidades de Brasília é esse visual livre, o horizonte sem barreiras", complementa. "Vivemos em uma cidade-parque".
Vera Ramos presidiu o Instituto Histórico e Geográfico do DF, entidade que cuida da preservação da memória da cidade. Ela aponta que muitos dos políticos que hoje estão em cargos de relevância (tanto no Legislativo quanto no Executivo) "ficam apenas no discurso, mas estão por detrás fazendo intervenções equivocadas ou mesmo mal-intencionadas".
Autorizações deturpam a imagem da cidade
O ex-governador José Roberto Arruda (sem partido) foi o responsável pela mais importante operação de limpeza da cidade. Arruda promoveu a campanha "Brasília Limpa". Ele governou o DF de 2007 a 2010.
A proposta de Arruda foi baseada na "Lei Cidade Limpa", uma das mais emblemáticas legislações urbanas da cidade de São Paulo, criada em 2006 durante a gestão do prefeito Gilberto Kassab. Ela teve com o objetivo de regulamentar a publicidade exterior na cidade e tornar o espaço público mais limpo e organizado. Na prática, retirou quase toda a publicidade abusiva que existia na capital paulista - sobraram tão-somente os relógios digitais.
"Brasília hoje está horrível. O que estão fazendo desfigura todo o plano urbanístico da cidade. Na minha época, tirei todos os outdoors que estavam espalhados pelo Plano Piloto e sujavam a paisagem", disse o ex-governador à "Brasilianas".
