Por: William França

BRASILIANAS | Bombeiros preparam regulamentos para uso de carro elétrico

Oficiais dos bombeiros do Estado de São Paulo recebem os diretores da ABVE. (da esq. para a dir).: Tadeu Rezende (ABVE), tenente-coronel Max Schroeder (CBPMESP), Ricardo Bastos (presidente da ABVE), capitão Ronaldo Ribeiro (CBPMESP), Alexandre Polesi (ABVE). | Foto: Divulgação

Macaque in the trees
A preocupação dos bombeiros é com os equipamentos de recarga dos veículos | Foto: Divulgação

O DF se consolida com o 2º lugar na venda de carros elétricos no país. O Corpo de Bombeiros estuda regras, que poderão impactar condomínios e garagens, para evitar incêndios.

O Distrito Federal apareceu, de forma consolidada, como o segundo maior mercado de carros elétricos no País. Nos primeiros seis meses deste ano, o DF emplacou 6.525 carros elétricos - de todas as tecnologias: BEV (100% elétricos), PHEV (híbridos elétricos plug-in), HEV (flex e a gasolina não plug-in) e os micro híbridos MHEV (com baixo grau de eletrificação).

Para efeito de comparação, no ano passado, no mesmo período, foram emplacados 2.008 veículos no DF, o que significa o crescimento de aproximadamente 320% de um ano para outro. A frota, de quase 10 mil veículos, está começando a impactar não somente o meio ambiente (por não ser poluente), mas a vida de quem mora em condomínios ou edifícios residenciais - ou mesmo comerciais.

Isso porque o que move esses veículos, sobretudo os 100% elétricos, é (por óbvio) a energia que é carregada nos carros, por meio de tomadas. Eles podem ser recarregados em casa, no trabalho, em carregadores privados de acesso público ou em estações de recarga públicas.

Há vários modelos de carregadores: existem os modelos residenciais de carregamento lento, cujo valor médio varia entre 2 e 3 mil reais, enquanto os dispositivos semirrápidos, indicados para estabelecimentos comerciais e corporativos, podem chegar a 15 mil reais. Alguns veículos, mais sofisticados, têm sua própria estação de carregamento, chamada de wallbox.

Aí é que começam algumas confusões, sobretudo quando há vários envolvidos na gestão do edifício, como num condomínio. O certo é que o proprietário do veículo é quem deve arcar com os custos da energia consumida (nisso há consenso). O que ainda gera polêmicas é como e onde instalar esses pontos de recarga - e quem paga por esse serviço.

"Brasilianas" tem acompanhado essa discussão. Há várias receitas: alguns condomínios decidem colocar ponto de energia em todas as vagas de garagem e, daí, rateiam o custo da instalação entre todos. Outros deixam por conta do usuário interessado essa instalação. Há ainda os que já preveem esse tipo ligação desde a sua construção (normalmente prédios mais novos e em áreas nobres, como o Noroeste, Sudoeste e Águas Claras).

Risco de incêndio e de explosão da bateria? É um risco verdadeiro?

Numa discussão paralela, existem condomínios que estão preocupados é com o risco de incêndios. Já houve casos de síndicos que quiseram até mesmo "expulsar" os carros elétricos das garagens cobertas, fazendo com que eles fiquem estacionados apenas nas áreas externas dos prédios. Isso porque há uma "lenda urbana" de que as baterias dos carros elétricos explodem.

A Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), afirma que um veículo elétrico tem 61 vezes menor chance de pegar fogo que um veículo equivalente com motor térmico. Alguns fabricantes, como a BYD (líder mundial na categoria), reforçam esses dados. Ela afirma que "as chances de ocorrer um incêndio em um veículo elétrico da marca são 80 vezes menores que em modelos a gasolina ou diesel".

O problema maior, informam os especialistas, está na forma de ser feita a recarga da bateria. Entre as causas, estão níveis inadequados de tensão ou corrente - resultado de improvisos na ligação das centrais de abastecimento ou de "tomadinhas adaptadas" -, sobrecargas ou carregador defeituoso e até mesmo alguns externos, como altas temperaturas.

Os especialistas informam que, o ideal, é que as instalações sejam propostas por engenheiros eletricistas e acompanhados por técnicos habilitados. As regras devem levar em conta a completa observância à NBR 5410 (Instalações elétricas de baixa tensão) e à NBR 17019 (Instalações elétricas de baixa tensão - Requisitos para instalações em locais especiais - Alimentação de veículos elétricos).

O Corpo de Bombeiros prepara regulamentação

Questionado por "Brasilianas" o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal, por meio do Departamento de Segurança Contra Incêndio (DESEG), criou um Grupo de Trabalho para elaboração de uma Proposta de Norma Técnica (PNT) visando disciplinar a segurança contra incêndio nos pontos de recarga para veículos elétricos em edificações comerciais e residenciais multifamiliares no Distrito Federal. Não há prazos, ainda, para a conclusão desses estudos.

A PNT, após ser elaborada e aprovada pelo Conselho de Segurança Contra Incêndio do CBMDF, será levada à consulta pública para conhecimento, avaliação e discussão com a sociedade. Em São Paulo, que é o maior mercado de carros elétricos do país (com mais de 30% da frota), o Corpo de Bombeiros Militar daquele Estado está nesta fase, desde maio.

Voltando ao DF... Após a consulta pública, ouvidas as contribuições da sociedade, será elaborado um texto final que será assinado pelo Comandante-Geral do CBMDF, já como Norma Técnica (NT), a qual passará a vigorar em todo o Distrito Federal a partir de então. Não há como prever prazo para a conclusão desse processo - entretanto, o DESEG está trabalhando para que isso se dê no menor tempo possível, observados os prazos necessários.

Ainda em nota à coluna, os Bombeiros do DF informaram que já é possível adiantar que alguns itens de segurança, já conhecidos, devem ser adotados nas normas como, por exemplo, a presença de chuveiros automáticos nas garagens. Certamente, será um custo extra para os condomínios.

O Corpo de Bombeiros disse ainda que tem acompanhado o debate sobre veículos elétricos e sua rápida expansão comercial no Brasil e principalmente no Distrito Federal, participando de fóruns, encontros e eventos diversos eventos sobre o assunto.

A previsão da ABVE é que 2024 terminará com um novo recorde, de mais de 150 mil veículos eletrificados vendidos no ano. Isso significaria um crescimento superior a 60%, sobre os 93.927 veículos vendidos em 2023.

Uma verdade há de ser dita: apesar de o risco ser menor para incêndios, quando acontece de os carros elétricos pegarem fogo, é bem mais difícil de ser contido. A duração e intensidade dos incêndios de elétricos o tornam mais complicados de apagar por conta do uso de baterias de íons de lítio, que são difíceis de manter frias.

Por conta disso, os bombeiros do DF informam que "diante da importância do tema e considerando a necessidade de combate a incêndio diferenciado da empregada em veículos com motores a combustão, o CBMDF está estudando técnicas de combate a incêndio e salvamento nesses veículos de forma específica".

Assim como a corporação de São Paulo, os bombeiros do DF vêm realizando tratativas com a Associação Brasileira de Veículos Elétricos a fim de conhecer, estudar e parametrizar a segurança nos pontos de recarga e desenvolver técnicas adequadas de combate a Incêndio e Salvamento de vítimas nos veículos elétricos.