Por: William França

BRASILIANAS | Setor de tecnologia do DF se reúne para superar desafios

Representantes das nove entidades constituintes do GForTI | Foto: Divulgação/GForTI

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Gilberto Lima Junior, presidente do Instituto Illuminante de Inovação Tecnológica e Impacto Social e um dos coordenadores do evento de lançamento do GForTI. | Foto: Divulgação/GForTI

O projeto GForTI será criado amanhã. Entre as propostas, está a de transformar o Setor Comercial Sul em porto digital, além de formar 20 mil profissionais por ano.

As nove principais entidades representativas da Tecnologia da Informação (TI) do DF, incluído os dois sindicatos patronais, passam agora a estar, formalmente, unidas no Projeto GForTI, que será criado nesta quinta-feira (8). O setor passa a concentrar forças, num movimento único, em busca de respostas políticas, negociais e legislativas, entre outras metas.
“Estamos há mais ou menos 4 anos trabalhando de alguma forma em conjunto, mas, agora, vamos formalizar nosso ecossistema”, disse à “Brasilianas” Gilberto Lima Júnior, do Instituto Illuminante e um dos coordenadores do lançamento do projeto – que começará oficialmente a trabalhar em outubro.
Gilberto Lima disse que uma das principais propostas do GForTI, ao reunir as instituições mais relevantes de Tecnologia da Informação e da Comunicação do DF numa figura jurídica própria, é consolidar Brasília como um dos mais importantes centros de inovação do Brasil. “Já temos credibilidade, até porque algumas entidades estão atuando há 40 anos, e o setor é robusto, mas temos gargalos importantes a superar, ainda”, afirmou.
Um rápido diagnóstico do segmento local: as empresas de TI estão entre as 3 maiores arrecadadoras de ISS no Distrito Federal. Existem 45 instituições de ensino que oferecem cursos superiores na área de tecnologia da informação e de comunicação. O DF tem um mercado comprador estimado em R$ 69 bilhões, por ano (muito por conta do Governo Federal).
“Temos ainda outras características ímpares”, completou Gilberto Lima. “Temos a maior quantidade de doutores e PHDs no tema, por habitante, em todo o Brasil e, como não podemos ter fábricas ou grandes indústrias no DF, estamos vocacionados a explorar esse nicho”, completou.
Estão juntos no GForTI as seguintes instituições (em ordem alfabética): 1) Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica e Inovação (ABIPTI) ; 2) Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (ASSESPRO/DF); 3) Brasil Startups; 4) Centro de Tecnologia de Software de Brasília (TECSOFT); 5) Federação das Associações das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (ASSESPRO/Nacional); 6) Instituto Illuminante de Inovação Tecnológica e Impacto Social; 7) Instituto MultipliCIDADES; 8) Sindicato das Empresas de Serviços de Informática do DF (SINDESEI/DF); e 9) Sindicato das Indústrias da Informação do Distrito Federal (SINFOR/DF).

O setor, embora expressivo economicamente, nunca havia se entendido e, agora, com o GForTI, abandona as rivalidades. Inclusive, reunindo as startups. Com isso, analistas do setor esperam que projetos que ainda engatinham, como o Parque Tecnológico Biotic (localizado próximo à Granja do Torto) ganhem fôlego.
Outra expectativa do grupo é que, com a organização, o próprio GDF passe a prestigiar mais as empresas locais. Uma das queixas é que, constantemente, as compras do governo local são feitas em outros Estados - quase sempre com resultados deficientes.

Teremos o nosso ‘Downtown’

São vários os ecossistemas que inspiraram o grupo brasiliense a juntar as forças. Além das experiências conhecidas fora do país, como em Portugal e no Texas e em Las Vegas (nos EUA), há casos brasileiros. O de Santa Catarina é o mais vistoso deles, pois hoje faz com que o seguimento de TI em Florianópolis venha arrecadando mais tributos do que o de turismo. “Isso, numa cidade essencialmente turística”, completou.
Outro case inspirador, e o mais antigo deles, é o do Porto Digital de Recife (PE), criado no ano 2000. É localizado no coração do centro do Recife e hoje é composto por mais de 400 empresas e instituições. A região, antes degradada (tinha se tornado zona de prostituição e de drogas) e de pouca influência na economia local, vem sendo requalificada de forma acelerada em termos urbanísticos, imobiliários e de recuperação do patrimônio histórico edificado.
Gilberto Lima aponta o Setor Comercial Sul como uma área de Brasília que poderá ser revitalizada e requalificada para abrigar empresas de TI e de Comunicação, tal como fez Recife. “Teremos o nosso ‘downtown’”, afirma Gilberto Lima, referindo-se à expressão que sugere um centro de cidade pulsante, onde se realizam negócios.
Hoje, o SCS enfrenta justamente esse desafio: o de achar uma nova vocação. Ainda há inúmeros moradores de rua, que se misturam (ainda) com zonas de prostituição. E o comércio não é mais o forte da região. O governador Ibaneis Rocha (MDB) tentou, no início do seu primeiro mandato, transformar 30% do setor em moradias. Acabou desistindo, após veto do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Depois, por meio da Lei Complementar distrital nº 1.021/2023, o GDF passou a autorizar mais de 280 novas atividades comerciais, institucionais e de prestação de serviços no Setor Comercial Sul, tais como faculdades, creches, educação profissional de nível técnico, serviços de tecnologia da informação, entre outros. Menos moradia.

Faltam profissionais qualificados no DF

Outro gargalo a ser enfrentado pelo setor de TI é a carência de mão-de-obra qualificada. A despeito de haver um razoável número de faculdades e cursos técnicos, o GForTI estima que há uma carência local de aproximadamente 20 mil profissionais, por ano, entre analistas, programadores e engenheiros. “Uma das finalidades do nosso grupo é atacar esse problema”, afirmou.
Uma outra proposta do GForti é a de buscar linhas de financiamento e de fomento para as empresas. “Hoje a grande parte do setor trabalha a partir de capital próprio. Precisamos ter acesso mais facilitado a linhas de crédito”, explicou o coordenador do grupo.
Também está entre as metas do grupo a de trabalhar para que o próprio setor público, distrital e federal, conheça melhor o novo Marco Regulatório de TI, que permite, por exemplo, a contratação direta de startups sem a necessidade de pregão. “Os gestores ainda não se arriscam nessa modalidade”, afirmou.
A iniciativa do GFortI conta com apoio da Secretaria de Ciência e Tecnologia e do Parque Tecnológico Biotic, além da Frente de Tecnologia da Câmara Legislativa, presidida pela deputada Doutora Jane (MDB).