Pesquisa de opinião anual revela demandas de usuários, que não são alardeadas pela empresa e que parecem não fazer diferença alguma para ela. Já para quem precisa dos serviços...
Às vésperas de completar 26 anos do início de suas operações (que acontece no próximo dia 17), o Metrô-DF continua com problemas estruturais que comprometem a qualidade do serviço prestado. E não se trata de falta de trens, de sua manutenção ou da abrangência restrita de suas duas linhas - que somam 27 estações e têm 42,38 km de extensão.
Na semana passada, a Companhia do Metropolitano do DF divulgou o resultado da Pesquisa de Avaliação de Serviços Prestados 2023/2024, que traz também dados sobre o perfil do passageiro do sistema metroviário. Segundo a empresa, o grau de satisfação dos usuários do Metrô-DF é de 84% - teria melhorado 3,2% em relação à pesquisa realizada em 2022/2023.
Segundo a pesquisa, o Metrô é usado por um público em dias úteis (para trabalho) e por outro aos domingos (para lazer) - especificamente, apenas 9% dos brasilienses usam o metrô todos os domingos. Dos 82% que se valem do transporte em dias úteis, ir ao trabalho ou a instituições de ensino são os principais objetivos.
Em termos de perfil, a maioria do público que usa o sistema é formada por mulheres, trabalhadores, empregados, brancos (embora a soma de pretos e pardos seja superior). A faixa etária prevalente é entre 21 e 30 anos e a faixa de renda da maioria está entre R$ 1.412 a R$ 2.640.
Os resultados mostram ainda que 56% dos usuários usam exclusivamente o metrô e fazem o restante do trajeto a pé (seja indo para o trabalho ou voltando para casa). Outros 28% fazem a integração dos modais por meio de ônibus e outros quase 10% utilizam-se de carro para chegar ou sair das estações. Quem usa bicicleta para acessar o metrô representou 2,6% dos pesquisados.
Ainda de acordo com a pesquisa, aproximadamente 68% dos usuários pagam para usar o metrô e, segundo a companhia, cerca de 160 mil pessoas se valem do sistema diariamente. Assim, numa conta de padaria, constata-se que quase um terço dos usuários acessa o sistema com gratuidade - aproximadamente 51 mil pessoas/dia. Vale lembrar que a tarifa do Metrô-DF é de R$ 5,50 e o preço vem sendo mantido com o mesmo valor desde janeiro de 2020.
Reivindicações foram ocultadas, como a de banheiros.
A divulgação da pesquisa, feita pela companhia por meio do site oficial de notícias do GDF, simplesmente omitiu alguns dados revelados pelo levantamento. Um deles é com relação à principal reivindicação feita pelos usuários: banheiros nas estações.
De acordo com uma tabela que consta no relatório (mas não relatada pela companhia), das 1.000 sugestões mais frequentes mencionadas pelos usuários do Metrô-DF, exatas 585 delas foram solicitação de banheiro.
Questionado sobre "o sumiço" dessas informações na divulgação da pesquisa, a assessoria do Metrô-DF disse a "Brasilianas", em nota, que deu destaque apenas aos serviços já prestados pelo sistema. "Em relação aos banheiros nas estações, seguimos o padrão da maioria dos sistemas metroviários do mundo, que não tem banheiros por uma questão de segurança", afirmou a nota.
O deputado distrital Roosevelt (PL) pensa diferente da empresa. Tanto que apresentou à Câmara Legislativa o projeto de lei 357, em maio de 2023, que trata sobre a obrigação de instalação de banheiros públicos nas estações do Metrô-DF.
"A instalação de banheiros públicos nas estações é uma questão de saúde pública e dignidade para a população que utiliza o transporte público. É inaceitável que as pessoas sejam obrigadas a fazer suas necessidades em locais inadequados e muitas vezes inseguros, ou então segurarem ou passarem constrangimento por fazerem em suas vestes", afirma o deputado Roosevelt, na justificativa do projeto.
Ele fez um experimento. Em junho do ano passado, colocou dois banheiros públicos na área externa da Estação Terminal Ceilândia (o Metrô não autorizou fazer em sua área interna). "Em um curto espaço de tempo, centenas de pessoas utilizaram o banheiro", disse o deputado. Há um vídeo sobre isso, no Instagram do parlamentar (assista ao vídeo aqui).
Em novembro do ano passado, foi anexado ao projeto de lei um abaixo-assinado, coletado pelo distrital em diversas estações do Metrô. Nele, mais de 1.000 pessoas assinaram, endossando a proposta. Mas, para o desconforto da população que se vale do modal ferroviário - e do próprio deputado distrital -, o projeto está parado há exatamente um ano na Comissão de Transportes e Mobilidade Urbana da Câmara Legislativa, aguardando a votação de um parecer.
Sem acessibilidade também, reclamam 28% dos usuários.
Embora na pesquisa divulgada o tema acessibilidade nas estações tenha recebido avaliação positiva por 72% dos usuários, "na vida real" o impacto sobre o cotidiano dos 28% que se disseram insatisfeitos é bastante grave - e também constrangedora.
No fim da tarde do mesmo dia em que foi divulgada a pesquisa (dia 9) - e a exemplo do que fez o deputado Roosevelt -, "Brasilianas" observou o acesso à principal estação do Metrô-DF, que fica no subsolo da Rodoviária de Brasília. Por um período de não mais do que 5 minutos, três pessoas tiveram imensa dificuldade para acessar a estação.
Uma deficiente visual precisou de ajuda para descer os 25 degraus inclinados que dão acesso ao terminal do trem. Outro, com redução de mobilidade (usava bengala), praticamente se arrastava pela escadaria, tentando subir até a Rodoviária. Um terceiro, cadeirante, estava parado no alto das escadas - e lá ficou.
Tudo isso porque O ÚNICO ACESSO para pessoas com deficiência (um elevador pequeno) estava quebrado. As 4 escadas rolantes que poderiam minimizar esse problema estavam desligadas (como estão há meses), por problemas técnicos. Neste caso, o problema é da Secretaria de Transportes e Mobilidade (Semob), que responde pela Rodoviária de Brasília. É outra história.
Questionada por "Brasilianas" sobre o problema, que enviou as fotos do flagrante ao Metrô-DF, a empresa providenciou de imediato o conserto do elevador. No dia seguinte, o equipamento havia sido religado. Embora tenha sido corrigido neste dia, é um problema recorrente - e sem solução paliativa.
Sem informação: Quando chega o trem?
Em junho do ano passado, este colunista sequer imaginava que teria espaço para tratar de temas ligadas à cidade num jornal. Mas eu, como usuário, já observava (e questionava) o Metrô sobre os problemas cotidianos. Como, por exemplo, a falta de painéis (telas de TV) com os horários de saída e chegada dos trens nas estações. Simples assim: quem acessa as estações não sabe a que horas chega ou sai o trem (lembrando que são duas linhas distintas, com destinos finais Samambaia e Ceilândia).
Ainda no ano passado, por meio da Ouvidoria, o Metrô-DF me informou (enquanto cidadão) que estava ultimando uma licitação para a compra de novos painéis. Enquanto isso, foi feito uma espécie de remanejamento. Algumas estações que tinham mais de um painel passaram a ceder monitores para aquelas que não tinham nenhum (uma delas que ficou sem painel, acreditem, era a Estação Central. Zero informações, lá).
Ainda na mesma resposta, também me foi informado que, se quisesse, eu poderia acessar o horário dos trens por meio do APP do Metrô (embora nas estações da Asa Sul não exista internet, porque são subterrâneas). Mas, eis que agora, com a divulgação da pesquisa de satisfação, é revelado que apenas pouco mais de 10% dos usuários do metrô se valem do APP. Em números graúdos: apenas 16 mil dos 160 mil usuários.
E eis que, também recentemente, mais painéis informativos de horários foram retirados. Existem estações que não têm mais nenhum dado sobre os horários. Questionado - novamente - sobre o mesmo tema, eis que um ano e dois meses depois o Metrô informa que a tal compra dos tais painéis (aqueles de um ano atrás) ainda "está em fase final do processo interno de licitação, que deve ser publicado até outubro".
Ou seja: 90% dos cidadãos, usuários do Metrô, ficarão sem informação sobre o horário de chegada e de partida dos trens pelo menos até o ano que vem (uma vez que os prazos de aquisição, por meio de licitação, nunca são inferiores a três meses).
E a prestação de serviço de qualidade ao usuário? A resposta da empresa, com certeza, virá da manchete da Agência Brasília: "Grau de satisfação dos usuários do Metrô-DF é de 84%". Problema é da minoria, dos 16% que reclamam... (eu incluso neles).