Por: William França

BRASILIANAS | Dinheiro não anda de ônibus? Na TCB e no Metrô, anda sim!

Os ônibus articulados da TCB foram largamente utilizados no DF, até os anos 1990 | Foto: Ônibus antigos de Brasília/Facebook

O Metrô-DF e TCB, embora sejam empresas públicas, ficam de fora do esforço do GDF de retirar o dinheiro de dentro dos ônibus

Desde o dia 15 de maio, quando a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) anunciou a (então radical e intempestiva) medida de retirar a circulação de dinheiro em espécie de dentro da frota de ônibus urbanos do DF, "Brasilianas" tem acompanhado de perto a evolução (e resistências) por parte dos diversos setores do DF às novas medidas.

Recentemente, após conseguir (mais uma) vitória na Justiça, a Semob anunciou que mais 99 linhas de ônibus deixariam de receber dinheiro em espécie a partir do último dia 15. A primeira leva foi de 52 linhas. Assim, no total, 151 linhas de 5 empresas do sistema de transporte público coletivo do DF passam a receber somente pagamento por meio eletrônico.

Esse pacote de linhas de ônibus não engloba nenhuma das 3 linhas operadas pela Sociedade de Transportes Coletivos de Brasília, a TCB. Sim, caro leitor... a TCB opera tão-somente 3 (três, por extenso) linhas, das 933 que existem em todo o DF. Isso representa 0,003% do sistema de ônibus urbanos.

As quase simbólicas linhas da TCB são as seguintes: a linha 0.108 (Rodoviária do Plano Piloto / Três Poderes), a 108.3 (Rodoviária do Plano Piloto / STJ – TST / Pier 21 / CJF) e a 131.3 (Rodoviária do Plano Piloto / Cruzeiro Novo Velho / Sudoeste), que faz 5 viagens durante a madrugada (conhecida como Corujão).

Macaque in the trees
Os ônibus da TCB estavam presentes em todo o DF. Hoje, a empresa opera apenas 3 linhas urbanas. | Foto: Ônibus antigos de Brasília/Facebook

Para relembrar: a TCB foi fundada em 8 de maio de 1961 e foi a primeira empresa de transporte coletivo criada em Brasília. Até os anos 1990, foi uma das maiores empresas de transporte público do país. Entre as décadas de 1960 e 1980, a empresa viveu seu apogeu: era considerada modelo nacional em transporte público urbano, tendo alcançado, na década de 1960, cerca de 96% das linhas de ônibus do Distrito Federal, abrangendo Brasília e as regiões administrativas mais antigas, como Taguatinga, Sobradinho, Gama, Planaltina e Brazlândia.

Sabe quantos ônibus urbanos tem a empresa, hoje? Lamento, leitor, mas também não sei te informar. Apesar de ter pedido essa informação, por meio de todos os canais possíveis e por várias vezes, a Assessoria de Imprensa da TCB não informou a esta coluna qual a frota da empresa. Mas sabe-se, por registros históricos, que os últimos 8 veículos foram incorporados à frota em 2019 – curiosamente, são somente esses mesmos veículos que estão rodando atualmente. Mas será que estão todos em circulação?

Macaque in the trees
Ônibus da Piracicabana, que opera na mesma linha que a TCB, entre a Rodoviária e a Praça dos Três Poderes | Foto: Joel Rodrigues/Agência Brasília

Enfim... Sabe-se que a frota da empresa de transporte público do GDF tem a idade média de 5 anos. Bem diferente do que costuma bradar o titular da Semob. "Nós temos a frota de ônibus mais nova do Brasil. O Distrito Federal pode se orgulhar disso", afirmou no mês passado o secretário Zeno Gonçalves. O que ele levou em conta, por exemplo, foi a idade média da frota da empresa Piracicabana, que é de 2 anos e meio.

Também questionada sobre um cronograma ou projeto de renovação de sua frota, a TCB manteve o mesmo silêncio anterior. E sobre o tema, a Secretaria de Transporte também não falou nada. "Sobre o cronograma de renovação dos veículos, é com a própria TCB", disse a Semob, por nota.

Voltando ao dinheiro fora do ônibus

 A TCB não tem nenhuma linha envolvida no projeto de "dinheiro não anda de ônibus" – embora a linha 109.4, da Piracicabana, faça o mesmo trajeto da linha 108, da TCB, entre a Rodoviária e a Praça dos Três Poderes, dando a volta na Esplanada dos Ministérios. Essa linha opera somente com cartões. Ou seja, não está incluída na estratégia de não aceitar dinheiro.

Para justificar, a empresa afirma que "desde o dia 1º de julho, todos os veículos estão aceitando as formas de pagamento eletrônicas: cartões de débito e crédito; PIX; Cartão Mobilidade; além de dispositivos com tecnologia de pagamento por aproximação, como smartphones, smartwatches e pulseiras inteligentes, sendo o mais moderno disponível no mercado". Faltou afirmar que recebe dinheiro, também.

O Metrô-DF é uma história à parte. Embora ele utilize para acesso nas catracas o mesmíssimo Cartão Mobilidade que é fornecido pelo Banco BRB, não há nenhuma menção, interação, integração, citação ou qualquer coisa que o valha e que reúna a operação entre esse cartão e a estratégia da Semob de retirar dinheiro dos ônibus. Parecem universos distintos e concorrentes, até.

E qual poderia ser a ligação? Por exemplo, o estímulo para que os passageiros possam se valer dos guichês da bilheteria do metrô para fazer a recarga de seus cartões, facilitando a transferência do dinheiro para o meio eletrônico. O cartão é o mesmo, fornecido pela mesma empresa, e que tem a mesma finalidade.

Sobre isso, o Metrô-DF disse à "Brasilianas" que são dois os "motivos alegados" pelos usuários para não utilizarem o Cartão Mobilidade (o fornecido pelo BRB). "Motivo um: é que há a necessidade de um cadastro para utilizá-lo; e Motivo dois: os usuários informam que não são usuários do modal rodoviário."

Questionado por esta coluna, o Banco BRB disse que "as regras de funcionamento dos cartões Mobilidade e dos bilhetes avulsos são definidas pela Secretaria de Mobilidade do DF". Também encaminhou uma explicação técnica, que trata sobre a incompatibilidade de os bilhetes emitidos pelo Metrô-DF (que são válidos apenas para um dia e só podem ser lidos em catracas fixas) serem lidos pelos sistemas móveis e que dependem de da cobertura de sinal 3G/4G, usados nos ônibus urbanos.

Bem... o fato é que, para a Semob, não existe nem o Metrô-DF nem a TCB nos seus esforços de tirar o dinheiro dos ônibus. Aguardemos os próximos capítulos dessa novela que, tal como as suas similares mexicanas, estão cheias de reviravoltas e traições...