Titular da Secretaria do Entorno de Goiás afirma que o DF não pode deixar a região de fora de seus planos de mobilidade. "Queremos parceria"
A secretária do Estado de Goiás para o Entorno do Distrito Federal, Maria Caroline Fleury de Lima – conhecida como Carol Fleury –, entende que a atual discussão sobre a atualização do Plano Diretor de Transporte Urbano do DF (PDTU) é um momento para unir os esforços dos entes federativos em prol da melhoria de toda a Região Metropolitana.
“Hoje reunimos mais de 1,7 milhões de pessoas em volta do Distrito Federal. Obviamente, quando se fala em transporte urbano existe um impacto importante sobre o território da Capital Federal”, disse Carol Fleury à “Brasilianas”. “Queremos trabalhar como parceiros, construir soluções que integrem todos. Não queremos ficar apenas na dependência das decisões do DF.”
Diariamente, cerca de 225 mil pessoas se deslocam do Entorno para o DF. A grande maioria por conta do trabalho – embora ainda exista pressão nas áreas de Saúde e Educação. O problema que persiste é o da mobilidade”, disse a secretária.
“Conseguimos ampliar a nossa rede de hospitais, com novas unidades em Águas Lindas, Formosa e Luziânia. E temos novas escolas aqui em Goiás, com ensino de qualidade”, afirmou a secretária – sem deixar “de jogar confetes” na gestão do governador Ronaldo Caiado (União). “Afinal, a educação goiana ficou em 1º lugar no Ideb 2023.”
Por conta do nó hoje existente no transporte urbano, Carol Fleury se fará presente na reunião que acontece hoje, na Câmara Legislativa do DF, para discutir o PDTU – que traçará metas e planos para os próximos 15 anos no setor. “Precisamos fazer lembrar a todos que montar um planejamento desta envergadura sem envolver todos os vizinhos é jogar dinheiro fora”, complementa.
Críticas ao tratamento dispensado ao Entorno
A secretária do Entorno reconhece que o transporte interestadual é de péssima qualidade. “Os ônibus são velhos, a passagem é cara e eles não atendem a quem precisa”, sintetiza, com rara sinceridade para gestores públicos.“Quem é do Entorno não é sardinha, para ficar apertado num ônibus como se estivesse numa lata”, disse Carol Fleury.
Ela critica ações anteriores que tentaram – unilateralmente – resolver o problema. Como foi a tentativa de intervenção do GDF, em 2021, por meio de uma decisão da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que durante um ano e meio transferiu a gestão do Serviço de Transporte Interestadual Semiurbano de Passageiros (linhas do Entorno) para a Secretaria de Mobilidade do DF (Semob). Não houve resultados efetivos e o GDF “devolveu” a gestão.
“Não pode ser assim, não podem desprezar o que o Estado de Goiás pode fazer. Esse foi o erro”, disse a secretária. Ela aposta as fichas num grupo de trabalho em nível federal que está concluindo o desenho de um consórcio Inter federativo, reunindo todos os entes e agentes envolvidos na questão: União, DF, Goiás e Minas Gerais, além de agências reguladoras, empresas e usuários.
“Certamente, assim como é o transporte público no Distrito Federal, teremos de dar subsídios para que seja efetivo o transporte no Entorno. Mas quanto? E de que forma?”, questiona a secretária, exemplificando algumas das questões que estão sendo levantadas no grupo. Segundo ela, a expectativa é que até novembro sejam concluídos os trabalhos e seja definido o desenho deste consórcio.
Mas não é só com os ônibus urbanos que a secretária se preocupa. “Queremos uma integração efetiva. Não faz sentido o que tenho visto, como algumas ideias absurdas”, completa. E quais são elas?
“Como a de que o passageiro que vem em um ônibus do Entorno ter de descer quando entrar no território do DF e passar para outro veículo. A mudança em si não é problema. A questão é onde e como vai ficar esse passageiro... Seria de um lado da rodovia e teria de cruzar um pedaço a pé, no meio de carros, sem proteção alguma. Acham que a gente vive igual bicho, que pode ficar trocando de lugar como se muda de curral?”, sentencia a secretária – sem rodeios.
Ela completa: “Defendemos todos os modais, seja BRT, trens urbanos (VLT), ciclovias... tudo o que venha para melhorar a vida das pessoas do Entorno. É nisso que o plano do DF tem de pensar.”
E quem é Carol Fleury?
Ela é a primeira secretária de Estado do Entorno do Distrito Federal no Governo de Goiás, em uma pasta que foi criada em fevereiro de 2023. Nasceu em Manaus, mas se considera também filha de Brasília, cidade para a onde se mudou ainda na infância.
Formada em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB), Carol é mestre em Economia pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP) e possui especialização em Direito Público pelo Centro de Ensino Unificado de Brasília (CEUB).
Sua trajetória profissional é marcada por uma vasta experiência na gestão pública e articulação política. Entre 2021 e 2022, esteve à frente da Secretaria Especial de Assuntos Parlamentares da Secretaria de Governo da Presidência da República. Além disso, atuou como assessora parlamentar no Congresso Nacional e exerceu o cargo de Secretária Municipal de Finanças em Águas Lindas de Goiás.