Por: William França

BRASILIANAS | Novacap ganha 5 regionais e quer atuar fora do DF

O presidente da Novacap, Fernando Leite, quando da vistoria às obras do Teatro Nacional, há duas semanas | Foto: Paulo H. Carvalho/ Agência Brasília

Na semana de seu 68º aniversário, a empresa mais antiga do DF finaliza sua nova estrutura, descentralizada, com o objetivo de resgatar sua gênese: ser uma empresa de vanguarda

EXCLUSIVO - O presidente da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), Fernando Leite, é só entusiasmo ao falar do processo de mudanças que está liderando à frente da empresa - a mais antiga do DF, que no próximo domingo completa 68 anos. São várias as mudanças, que ele sintetiza numa só frase: "A Novacap quer voltar ao seu futuro".

Fernando Leite recebeu "Brasilianas" na sede da empresa para uma conversa recheada de informações - muitas até então inéditas - e de tiradas bem-humoradas. Para começar, ele explicou o que quis dizer com essa frase enigmática sobre a "nova Novacap".

"A Novacap é uma empresa muito interessante. Eu diria que é sui generis. Ela foi criada há quase 70 anos para construir a cidade mais moderna do mundo, totalmente diferente de tudo o que já existia, com um projeto inovador. Queremos resgatar essa Novacap de antes e trazê-la ajustada para o futuro", explicou.

"Quando você contrata um arquiteto para fazer uma casa 'muito louca' para você, você tem de ir atrás de um pessoal também muito preparado para dar conta do projeto. A Novacap foi criada com esse perfil - para ser uma empresa moderna, diferente", disse o presidente da empresa, numa referência aos projetos modernistas da dupla Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, urbanista e arquiteto, criadores de Brasília.

"Em 1956, a Novacap era uma empresa de vanguarda, inovadora, que fez uma cidade num prazo recorde, de aproximadamente mil dias. Teve de ser uma empresa que fazia entregas rápidas, com baixo custo e com qualidade, pois se tratava da Capital do país. Passaram-se 68 anos, houve um desgaste natural, o envelhecimento, essas coisas que o tempo se encarrega de trazer. Por isso, a necessidade de resgatar a gênese da empresa", disse o presidente.

E, na prática, o que seria esse resgate? "A sociedade, hoje, quer exatamente o mesmo que queria Juscelino Kubitscheck: muitas obras ao mesmo tempo, num prazo curto e com baixo custo, sem abrir mão da qualidade. Esse é nosso propósito: atualizar a empresa para ela voltar a ter a importância e a dinâmica de antes".

Três pilares sustentam essa inovação

Fernando Leite desenhou três pilares para perseguir essa volta ao passado com olhar no futuro: pessoas, tecnologia e gestão. "Foram 30 anos sem nenhuma reestruturação. Precisávamos atualizá-los", afirmou o presidente, para logo em seguida detalhar cada um deles.

Na questão de pessoal, além de concluir no mês passado um concurso público em que foram ofertadas 120 vagas imediatas e outras 360 para cadastro reserva, para 17 cargos distintos - e que atraiu quase 52 mil interessados -, ele realizou três rodadas de PDVs (programa de desligamento voluntário), que abarcou mais de 1.000 pessoas.

"Hoje temos 1.300 colaboradores efetivos, e queremos focar na especialização de cada um deles", disse o presidente. Para isso, no ano passado foi criada a Escola Corporativa da Novacap - e uma das primeiras ações foi a de buscar erradicar o analfabetismo entre os seus funcionários. A primeira turma, com 37 alunos, foi formada no início deste ano.

"Nossa meta é que a Escola Corporativa ofereça também especializações e até pós-doutorado", disse o presidente, num deslumbre visionário. "Temos condições de sermos formadores e disseminadores desse conhecimento", afirmou.

No quesito tecnologia, as ações na Novacap passam por modernização dos equipamentos e busca de novos métodos de trabalho. Estão sendo atualizados os laboratórios de informática e o de materiais, que avaliam - por exemplo - a qualidade do asfalto e do concreto que é aplicado nas obras da cidade.

Atualmente, a Novacap já utiliza robôs para auxiliar na manutenção das redes de drenagem e águas pluvias do Distrito Federal. Os robôs são semelhantes a carrinhos de controle remoto. "Essa tecnologia de videoinspeção permite uma análise detalhada das redes de drenagem e, com isso, vamos identificar rapidamente os pontos de obstrução ou danos nas redes, evitando entupimentos ou alagamentos", explicou.

Dentro ainda do tema pessoal, a meta de Fernando Leite é terceirizar o que for possível. "Antes, a Novacap fazia tudo: a obra, a infraestrutura, o paisagismo e até os móveis eram construídos por nós. Hoje em dia, tem muita gente especializada que sabe fazer isso muito bem. Vamos descentralizar os serviços. Contratar quem sabe fazer melhor e vamos focar no gerenciamento da execução dessas tarefas", explicou.

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Robôs de videoinspeção usados no diagnóstico e manutenção das galerias de águas pluviais do DF | Foto: Renato Alves/Agência Brasília

Descentralização da zeladoria - a grande novidade

Quando o tema é gestão, vem aí uma das grandes novidades da Novacap. Será criada uma Diretoria das Cidades. "Sem aumentar o número de cargos, vamos reeestruturar a empresa e continuar com 5 diretorias. A que será criada terá a missão de cuidar da cidade, será a diretoria da zeladoria do DF", disse o presidente.

Dentro desse novo organograma, serão criadas ainda 5 regionais, que irão descentralizar esse serviço de zeladoria prestado pela empresa. Estão em fase de conclusão as obras nos pátios de serviço em Planaltina (regional Norte), Gama (Sul), São Sebastião (Leste) e Taguatinga (Oeste).

Além de manter maquinário e pessoal na sede da Novacap (Setor de Áreas Públicas, perto do SIA, que vai atender o Plano Piloto), a região de Ceilândia e Sol Nascente ganhará também uma regional. "É onde tem a maior população do DF, precisa de uma atenção especial", afirmou o presidente.

"Vamos estar com as máquinas e o pessoal mais próximos das obras, para evitar perda de tempo em deslocamento", explicou Fernando Leite. "Vamos cuidar de tapar os buracos das vias da cidade, de cuidar das obras urbanas, das praças, fazer as podas de árvores, tudo o que for preciso - e mais perto das demandas. Portanto, mais rápido e com menor custo", completou.

A Novacap quer ir além do Quadradinho

As mudanças no organograma aguardam apenas a reunião dos acionistas, prevista para este mês. O Governo Federal detém 48% do conselho administrativo e financeiro da empresa e o Governo do Distrito Federal os demais 52%. "São dois votos que vão consolidar toda essa nossa modernização", afirmou Fernando Leite.

O orçamento da Novacap para este ano, é da ordem de R$ 700 milhões - sendo que pouco mais de R$ 500 milhões são para custeio (mão-de-obra). A Novacap quer também reforçar o seu caixa por meio das emendas parlamentares - como vem fazendo a sua empresa-prima, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF).

Por ora, a Novacap já começou a fazer obras além daquelas previstas no Orçamento do GDF. Está à frente, por exemplo, desde o mês de junho, da finalização da nova sede do Tribunal Regional Federal da 1ª Região - uma obra com recursos do Judiciário federal, iniciada em 2013, que foi abandonada quando estava com 40% de sua execução e que ficou quase uma década parada.

E o projeto ambicioso da "nova Novacap" não para por aí. "Estamos nos organizando e quero que a Novacap faça obras por todo o país. Pelo nosso estatuto, podemos atuar em qualquer lugar. E seremos uma empresa capaz de realizar projetos e obras especiais além do nosso Quadradinho", sentencia o presidente. "Queremos mais... E vamos atingir esses objetivos!", sentenciou Fernando Leite.

Oxalá assim o seja!

 

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A obra da nova sede do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) foi retomada em junho e está sob gestão da Novacap | Foto: Renato Alves / Agência Brasília