Por: William França

BRASILIANAS | Dança e dramaturgia em 'A escultura', no SESC de Taguatinga

Yara de Cunto e Giselle Rodrigues se apresentam em "A Escultura", que tem direção de Adriano Guimarães | Foto: Ismael Monticelli/Divulgação

A bailarina e coreógrafa Yara de Cunto estreia o espetáculo de dança e dramaturgia 'A escultura', que aborda a passagem do tempo e seus efeitos sobre o corpo, que foi concebido e dirigido por Adriano Guimarães

Neste mês de setembro, a bailarina e coreógrafa Yara de Cunto estreia o espetáculo de dança e dramaturgia "A escultura", que aborda a passagem do tempo e seus efeitos sobre o corpo. Concebido e dirigido por Adriano Guimarães, o espetáculo conta com a participação especial da também bailarina e coreógrafa Giselle Rodrigues.

Serão cinco apresentações no Teatro Paulo Autran do Sesc Taguatinga, com sessões nos dias 17,18, 23, 24 e 25 de setembro, às 20h30. Após cada apresentação, bailarinas e diretor participam de uma conversa com o público.

"A Escultura", dirigido por Adriano Guimarães, é o primeiro espetáculo de uma trilogia, protagonizado por Yara de Cunto - bailarina, coreógrafa, atriz e pessoa com deficiência, aos 85 anos. A dramaturgia se constrói a partir da profunda relação de Yara com a dança e de momentos marcantes de sua vida, revisitados no palco.

Reencenando esses acontecimentos, que antes se desenrolavam em um corpo jovem, ela agora os explora com um corpo moldado pela passagem do tempo, revelando a plasticidade do envelhecimento que emerge dessa transformação. Partindo de narrativas íntimas e pessoais de Yara, o espetáculo toca no universal ao lançar provocações sobre as inevitáveis transformações causadas pelo tempo.

Assim como nossos dedos se formam individualmente no útero através da morte celular programada, que separa um dedo do outro, também somos moldados ao longo da vida. A ação do tempo nos trabalha como um escultor, subtraindo e revelando a forma - o rosto, o volume da bochecha, o vinco da ruga.

Contudo, ao contrário de uma escultura finalizada, nosso processo nunca termina. A morte celular programada é contínua, segue equilibrando nossa existência por meio dessa constante subtração. A passagem do tempo não é um carimbo que estabelece sua marca de forma definitiva, mas um fluxo, um movimento, uma obra eternamente em processo.

No palco, Yara dança e performa momentos marcantes de sua trajetória. Ao lado de Yara, está a bailarina e coreógrafa Giselle Rodrigues, com mais de 30 anos de trajetória. Juntas em cena, ambas desafiam a percepção convencional de que a carreira na dança está intrinsecamente ligada ao vigor físico da juventude, mostrando que a passagem do tempo - e mesmo as deficiências, como a perda da visão de Yara - não são barreiras intransponíveis.

"As limitações, falhas e fracassos podem, ao contrário, alimentar processos de criação, como lembra Samuel Beckett: "tentar de novo, falhar de novo, falhar melhor". Em um mundo que valoriza o alto desempenho, a maximização do tempo e a otimização dos resultados, os desvios de percurso são muitas vezes ignorados. No entanto, é no tropeço que a potência pode emergir. "A Escultura" não se concentra no que uma mulher de 85 anos "ainda pode fazer", mas sim no que ela "faz hoje", explorando a realidade atual com toda sua força e presença", diz o diretor Adriano Guimarães.

O espetáculo conta com tradução em Libras e audiodescrição em todas as sessões. A entrada é gratuita e livre para todos os públicos. Metade dos ingressos é reservado para pessoas com mais de 60 anos e pessoas com deficiência. Os ingressos devem ser retirados na bilheteria do teatro. Este projeto é realizado com o fomento do Programa Funarte Retomada 2023 - Dança e conta com o apoio do Sesc, Fecomércio e Senac.

 

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Yara de Cunto - em A Escultura - Direção Adriano Guimarães | Foto: Ismael Monticelli/Divulgação

Sobre as bailarinas

Referência na dança no Brasil, Yara de Cunto está na base da formação de diversas gerações de intérpretes-criadores de dança contemporânea no Distrito Federal. Em 1950, aos 11 anos, ingressa na escola de ballet do Teatro Municipal do Rio de Janeiro até formar-se bailarina clássica profissional, em 1954. Lá, performou em diversas apresentações como: Divertissements, 1953, e A Menina Preguiça (1953).

Destacou-se como protagonista em Cinderela (1954), com direção e coreografia de Dennis Gray. Em 1956, aos 16 anos, passa a integrar a Companhia de Ballet IV Centenário, da cidade de São Paulo, dirigida pelo húngaro Aurelvon Milloss. Foi atriz e bailarina pioneira da televisão, participando semanalmente em telenovelas e programas de dança da TV Tupi (1954-1958). Trabalhou com Tônia Carrero e Margarida Reis nos anos 1960, na peça "Calúnia", dirigida por Adolf Celi. Dividiu o palco também com Rubens Corrêa e Ivan Albuquerque em "Oscar", antes da fundação do antológico Teatro de Ipanema.

Fundou o Balé do Teatro Guaíra (Curitiba), um dos mais importantes do país. Fez ainda a versão de "As Três Irmãs" pelas mãos do genial Ruggero Jacob. Em Brasília, fundou o Ballet Asas e Eixos e realizou trabalhos em parceria com o diretor Hugo Rodas.

No final dos anos 1990, foi diretora da companhia de dança baSiraH - Dança Contemporânea. Voltou aos palcos em 2013, para uma série de apresentações onde performou sob a direção dos Irmãos Guimarães, com quem realizou vários projetos como coreógrafa, atriz e bailarina. Em 2023, foi contemplada com o Prêmio Mestres e Mestras da Funarte.

Coreógrafa, bailarina, doutora em Artes/UnB, professora do Departamento de Artes Cênicas da Universidade de Brasília, Giselle Rodrigues atuou como dançarina e coreógrafa do grupo Endança por 16 anos. Participou como coreógrafa convidada do American Dance Festival (1993). Estudou coreografia na London Contemporary Dance School at The Place (Inglaterra-1997/98). Atua como coreógrafa desde 1985, tendo trabalhos apresentados no Brasil e em festivais internacionais.

Em 1997 criou o baSiraH - Dança Contemporânea, do qual dirigiu por 12 anos, sendo responsável pela montagem de mais de 20 espetáculos. Atualmente integra o grupo Teatro do Instante e coordena o Núcleo Experimental em Movimento (grupo de pesquisa - UnB), e desde 2016 é curadora do Festival Movimento Internacional de Dança de Brasília. (MID).

Sobre o diretor

Com mais de 30 anos de atuação, o diretor e dramaturgo Adriano Guimarães é reconhecido internacionalmente pelas pesquisas transdisciplinares envolvendo performance, teatro, literatura e artes visuais, acumulando diversas nominações e prêmios em sua trajetória. Desde 1998, desenvolve uma pesquisa em torno da obra de Samuel Beckett, concebendo exposições, instalações, vídeos, performances e espetáculos teatrais, como: Fôlego, 2015, Quadrado, 2014-2015, Sopro, 2014-2015, OFF ON, 2011, Todos os que Caem, 2003, Felizes Para Sempre, 2001.

Dirigiu o primeiro longa-metragem, intitulado NADA, que se encontra em circuito de festivais internacionais e nacionais. Dirigiu mais de 60 peças teatrais, entre as mais recentes: A Ponte, texto de Daniel MacIvor (2018-2019); O Imortal, baseado no conto de Jorge Luis Borges (2018-2019); Ruído, texto de Adriano Guimarães e Denise Stutz - Projeto Microteatro do Castelhinho do Flamengo (2016). Hamlet - Processo de Revelação (2015-2017); Barca di Venetia per Padova, madrigal de Adriano Bachieri (2014); Nada - uma peça para Manoel de Barros (2012-2013); Ganhou o Prêmio Questão de Crítica/RJ 2012 de Melhor Elenco, com o espetáculo Nada - Uma Peça para Manoel de Barros, e o Prêmio Shell 1996 de Melhor Direção, com a peça Dorotéia.

Participou de inúmeros festivais e realizou exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior, tendo sua trajetória marcada por mostras como a Bienal de São Paulo e o Panorama da Arte Brasileira. Concebeu e publicou diversos livros e proferiu oficinas, palestras e seminários.

Serviço:

A escultura

Espetáculo de dança e teatro

Com | Yara de Cunto

Participação especial | Giselle Rodrigues

Direção e concepção | Adriano Guimarães

Onde | Teatro Paulo Autran | Sesc Taguatinga

Endereço | Setor B Norte CNB 12 Área Especial 02/03 - Taguatinga, Brasília - DF

Localizador | https://maps.app.goo.gl/b5pNjoxLtXC91JEG8

Sessões | 17 e 18 de setembro (terça e quarta) e 23, 24 e 25 de setembro (segunda, terça e quarta)

Horário | 20h30

Após cada sessão acontece uma conversa entre as bailarinas, o diretor e o público

Entrada | Gratuita

50% das entradas reservadas para pessoas com mais de 60 anos e PCDs

Classificação indicativa | Livre para todos os públicos

Acessibilidade | Tradução em Libras e Audiodescrição em todas as sessões

Este projeto é realizado com o fomento do Programa Funarte Retomada 2023 - Dança e conta com o apoio do Sesc, Fecomércio e Senac.

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