Mesmo passados 64 anos da construção da Capital, e com todas as atuais técnicas de construção e equipamentos, engenheiros ainda consideram “um grande desafio” construir a estrutura criada pelo arquiteto para a sede do TRF-1
Projetada em 2006 quando o arquiteto Oscar Niemeyer tinha 99 anos de idade (ele viveu até quase 105 anos), a nova sede do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) está sendo construída desde novembro do ano passado pela Novacap. O processo construtivo desta sede do tribunal se arrasta há 17 anos - e só deve ficar pronta em 2029.
O conjunto de prédios é gigantesco. Localizado num terreno de 52 mil m² na Quadra 5 do Setor de Administração Federal Sul (SAF Sul), a construção da futura sede do TRF-1 tem um custo estimado em R$ 850 milhões - valor a cargo da Justiça Federal. Com uma área de construção de aproximadamente 165 mil m², o novo complexo será composto por quatro blocos e três subsolos.
A nova sede do TRF-1 segue em obras. Atualmente, entre outros serviços, as equipes do local trabalham na execução da passarela de ligação do Bloco A (prédio dos desembargadores) ao Bloco C (salas de sessões). E é essa estrutura que está sendo considerado um grande desafio arquitetônico para os engenheiros, pois é composta de um percurso curvo e inclinado, devido à diferença de altura dos dois edifícios.
A passarela tem 54 metros de extensão em sua maior curvatura e quase 6 metros de altura no ponto mais alto (no Bloco A), descendo suavemente até o ponto de junção com o Bloco C. Tudo isso apoiado em apenas um pilar. E, exatamente aí, onde está o grande desafio: sustentar toda essa estrutura em somente um ponto. "Estamos conseguindo", ressalta a engenheira civil da Novacap, Joice Kozlowski.
"Estamos falando de uma imponente obra de concreto armado de grande complexidade devido ao seu grau de curvatura. Estamos diante de um verdadeiro desafio para a engenharia", enfatiza a engenheira. "Para tirar essa estrutura do papel foi preciso empregar técnicas e soluções inovadoras para garantir sua durabilidade e estabilidade", complementa.
A ideia de Niemeyer é conectar todos os 4 prédios
Projetista da passarela, o engenheiro Pedro Afonso de Oliveira Almeida ficou a cargo de definir como conceber um projeto tão audacioso. A ideia de Niemeyer foi a de conectar todos os quatro prédios do complexo, por meio de rampas.
O especialista explica que, apesar de ser apenas uma viga de sustentação, a estrutura é "pendurada" por suportes em cada prédio, o que garante seu apoio. "São dois raios de curvatura em cada parede. A parte interna tem um raio maior e a externa tem um raio menor. Ela tem uma sessão variável a cada metro. Não é uma situação trivial de pontes curvas", finaliza Almeida, que também é professor da Universidade de São Paulo (USP).
Responsável por uma equipe de cerca de 80 funcionários, o diretor da Coordenadoria de Obras da Nova Sede do TRF1 da Novacap, o engenheiro Gabriel Del Duca, lembra também que a construção segue por outras frentes como o reforço da fundação e dos pilares, bem como na armadura do piso e das paredes, a empena de concreto e o fundo do Bloco C, após a finalização da segunda e da terceira lajes do prédio.
Segundo a Novacap, as estruturas dos blocos A (gabinetes dos desembargadores) e D (setor administrativo) estão concluídas. As obras do Bloco C (salas das turmas, para sessões) se encontram em execução, enquanto as do Bloco B (onde ficará o plenário) vão começar em breve.
"Nós estamos revisando todos os projetos e retomamos aquilo que era possível, e começamos pelo Bloco C, que está em andamento", disse o presidente da Novacap, Fernando Leite, à Agência Brasília, do GDF. "Estamos com 42% da concretagem pronta. Pretendemos concluir essa concretagem ainda neste próximo semestre. Depois vem uma licitação para conclusão dos trabalhos."
Por que a Novacap?
Após quase uma década de paralisação, a decisão de buscar uma alternativa para a retomada das obras foi do governador Ibaneis Rocha (MDB), que ofereceu a Novacap para trabalhar na atualização de projetos, na realização de licitações, na contratação e no acompanhamento da obra até sua entrega definitiva (prevista para daqui a 5 anos). A Novacap vai receber R$ 19 milhões pelo serviço.
Em 21 de novembro do ano passado, foi assinado um contrato entre o TRF-1, o Conselho da Justiça Federal (CJF) e o Governo do Distrito Federal (GDF). Durante a assinatura do contrato, o governador Ibaneis Rocha disse que "a obra é de suma importância para o Judiciário brasileiro".
O governador também relembrou seus tempos de advocacia ao falar da nova sede do tribunal: "Eu estou governador, mas tenho uma história na advocacia que foi 100% formulada dentro do Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Quando surgiu a oportunidade dessa parceria, nós não medimos esforços para que ela pudesse ser efetivada. Tenho certeza de que nós estamos fazendo o bem para Brasília, o bem para a Justiça Federal como um todo, e isso nos agrada muito, porque será um legado para todos nós."
Sobre o TRF-1
Os tribunais regionais federais (TRFs) representam a 2ª Instância da Justiça Federal, ou seja, julgam recursos contra as decisões da 1ª Instância. Foram instalados em 1989, em substituição ao Tribunal Federal de Recursos.
Com sede em Brasília, o TRF-1 tem jurisdição no DF e nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Piauí, Rondônia, Roraima e Tocantins.O "Processômetro" indica que o TRF-1 tem 64.516 processos distribuídos, e soma 448.159 em tramitação. É considerado um dos maiores tribunais do país, em volume de processos. Ao todo, 43 juízes compõem a Corte.
Atual presidente do TRF-1, o desembargador João Batista Moreira comentou o andamento da obra. "O TRF-1, hoje tem cinco prédios espalhados por Brasília. Estamos bem-instalados, mas com espaços muito exíguos, de modo que há essa necessidade [dessa nova sede]".
