79% dos empregados domésticos do DF são negros – que recebem apenas 57,4% do valor médio pago aos não-negros, segundo pesquisa do IPE-DF e Dieese, com dados de 2023
Na véspera da comemoração do Dia da Consciência Negra, o Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPE-DF) e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apresentaram os resultados do boletim anual "População Negra e o Mercado de Trabalho no DF", feito a partir de dados de 2023, comparados com os de 2022.
Os dados revelados são bastante expressivos. Eles tratam da participação dos negros na População em Idade Ativa (PIA) no DF e da inserção da população negra no mercado de trabalho, com análise por setores da economia e participação dos negros enquanto trabalhadores formais.
A intenção da pesquisa é a de "alimentar o debate sobre as relações raciais que perpassam o mundo do trabalho e a necessidade de desenho de políticas públicas voltadas ao tema". O Boletim População Negras - PED-DF é elaborado anualmente desde 2008, enquanto os estudos sobre dados com recorte de cor do Distrito Federal remontam a 1999.
"Brasilianas" vai analisar os dados por agrupamento, para facilitar o entendimento de seu leitor.
Sobre a população negra em atividade
Segundo dados da pesquisa, em 2023, a População em Idade Ativa (PIA) do Distrito Federal era majoritariamente negra. Isso porque, segundo o levantamento, as pessoas que se autodeclaravam pretas e pardas somaram 60,6% dos moradores com 14 anos e mais. Com isto, estimava-se que um contingente de 1 milhão e 582 mil pessoas negras residia no DF.
Se levarmos em conta o total de residentes do Distrito Federal com idade recrutável para o mundo do trabalho (PIA), 64,5% eram economicamente ativos - dentre os quais os negros também representavam a maioria (40,0%) em relação aos não-negros (24,5%).
No último ano, de cada três negros de 14 anos e mais, aproximadamente dois estavam inseridos no mercado de trabalho, espelhando uma taxa de participação de 66,0%, enquanto a taxa de participação dos não-negros era de 62,2%. "A maior presença relativa dos negros na força de trabalho regional é principalmente impulsionada pela necessidade econômica de gerar renda", afirma o relatório da pesquisa.
Desemprego é maior entre negros
A pressão relativamente maior exercida pela população negra em busca por ocupação, somada à menor chance de sucesso, vem resultando em maior incidência do desemprego para as pessoas negras. Em 2023, 17,9% da população economicamente ativa negra estava desempregada, enquanto a taxa de desemprego da parcela não negra no mercado de trabalho era de 13,5%.
Se comparado com 2022, a taxa de desemprego para negros aumentou: era de 16,7% - um aumento de 1,2 pontos percentuais. Entre os não-negros, não houve alteração nos valores.
Características da ocupação
Em 2023, a pesquisa revelou que 60,8% da força de trabalho no DF era composta por negros e negras (cerca de 857 mil trabalhaores).
Por setor de atividade, ainda que a presença negra seja majoritária dentre os trabalhadores, a pesquisa revela nuances. Entre elas, a menor inserção relativa desta população no setor de Serviços, no qual ocupou 58,4% dos postos de trabalho.
Nos demais setores, houve sobrerrepresentação dos trabalhadores negros no comparativo com média na ocupação geral, destacando-se o identificado na Construção (74,7%), Comércio e reparação (66,5%), além da Indústria de transformação (64,4%).
Maior vulnerabilidade
Quando é feita a análise por forma de inserção, o relatório da pesquisa "aponta a condição de maior vulnerabilidade ocupacional a que está imposta o segmento de trabalhadores negros".
Segundo a PED, entre os ocupados do Distrito Federal, a participação da população negra era superlativa no emprego doméstico, onde ocupavam quase 80% dos postos de trabalho, percentual bastante acima da sua participação na ocupação total (60,8%).
Na sequência, as inserções em que os negros estavam sobrerrepresentados incluíam o trabalho autônomo (66,8%) e o emprego assalariado no setor privado, tanto com carteira assinada (65,4%) quanto sem (61,9%).
Por outro lado, a participação dos trabalhadores negros era menor que a observada na ocupação total entre os empregadores (48,5%), no setor público (47,6%) e nas demais inserções (48,7%).
A forma de inserção que agregava a maior parte da população negra, no último ano, era o emprego assalariado no setor privado com registro em carteira de trabalho, na qual estavam 42,6% dessa população. Depois, vem seguida do trabalho autônomo, que gerava 18,5% das oportunidades de trabalho.
Salários menores para negros
"Historicamente, a população negra ocupada aufere (recebe) rendimentos inferiores aos recebidos pelos não-negros, especialmente devido à maior concentração dessa população em inserções com maior grau de vulnerabilidade e que pagam rendimentos menores", afirma o relatório. Vejamos os exemplos:
No último ano, os rendimentos médios reais de negros e não-negros correspondiam a R$ 3.569 e R$ 6.221 respectivamente. Em relação a 2022, houve aumento de 1,4% para a população negra e de 9,0% para a parcela não negra - o que, segundo o relatório da pesquisa, "eleva as diferenças de remunerações entre ambos os grupos de cor".
Em 2023, os ocupados negros do Distrito Federal recebiam, em média, 57,4% do valor médio pago à parcela não-negra. Esse dado demonstra uma piora em relação a 2022, quando os negros recebiam 61,7% do valor pago aos não-negros.
Se for analisado em que segmentos houve melhora no pagamento aos negros em 2023, ela derivou dos aumentos nos rendimentos dos assalariados no setor privado sem (14,8%) e com carteira de trabalho assinada (4,3%), e do acréscimo na remuneração dos trabalhadores autônomos (5,0%).
Por outro lado, houve retração para os assalariados no setor público (-1,3%) e para os ocupados nas demais posições (-3,6%).
"Entre 2022 e 2023, as variações ocorridas nos rendimentos de ambos os grupos de cor levaram à redução da proporção auferida (recebida) pelos negros em todos os segmentos comparáveis", conclui o relatório.