Pela primeira vez, o DF tem um boletim sobre seu comércio exterior. Mas apenas os dados de exportação refletem a realidade local
Pela primeira vez em sua história, o Distrito Federal passa a ter um boletim para tratar dos dados de seu próprio comércio exterior e passa a conhecer a sua balança comercial local. Para auxiliar o leitor: agora podemos descobrir o que é produzido no DF e consumido em outros países do mundo.
O primeiro Boletim do Comércio Exterior do Distrito Federal, divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa e Estatística do DF (IPE-DF), trouxe também a primeira surpresa: os morangos frescos cultivados em Brazlândia são a nossa maior produção local e já são exportados para Portugal. E também para o Panamá.
Os morangos representam quase 20% do que o Brasil exportou dessa fruta nos três primeiros meses deste ano e colocam o DF como o terceiro maior exportador de morangos frescos do país.
Considerada a capital do morango, Brazlândia é responsável por cerca de 96% da produção do DF: produziu 6.310 toneladas do fruto em 2023, enquanto o total desenvolvido em todo o DF foi de 6.589 toneladas.
Além disso, 502 dos 559 produtores brasilienses desenvolvem o fruto na cidade, em 176,69 hectares de área plantada. As espécies mais cultivadas no DF são Camarosa, San Andreas, Portola, Festival, Camino Real, Sabrina, Alpina 10 e Tudla.
Mas os dados relatados no boletim do comércio exterior também demonstram que há uma deturpação quando se olham as importações. Isso porque não demonstra apenas o que os brasilienses compram de outros países (o que seria o correto numa leitura sobre a balança comercial), mas incluem as compras feitas pelo Governo Federal.
Assim, pelos dados, cerca de 75% das importações do Distrito Federal são compostas por cinco produtos imunológicos e medicamentos, principalmente da Alemanha. Compras feitas pelo Ministério da Saúde, para distribuir em todo o país - não somente para o DF.
Embora seja este o primeiro boletim, os dados históricos do ComexStat, do Ministério de Desenvolvimento, Industria, Comércio e Serviços (divulgados agora pelo GDF), indicam que o DF sempre teve um imenso défict na sua balança comercial. Se mantidas as atuais regras (de contar as compras governamentais no mesmo dado), a balança comercial nunca deixará de ser negativa.
Pelo relatado, no primeiro trimestre deste ano as exportações que tiveram origem no Distrito Federal totalizaram US$ 49,6 milhões, enquanto as importações somaram US$ 335,1 milhões. Portanto, um déficit comercial de US$ 285,5 milhões, o que representa aproximadamente 85,20% das importações. Quase impossível reverter esse dado - que é deturpado em sua origem.
Quando se olha o cenário nacional, o DF responde por uma pequena fatia do comércio exterior nacional: apenas 0,1% das exportações e 0,6% das importações do Brasil (mesmo considerando as compras do Governo Federal).
Para a coordenadora de Análise Econômica e Contas Regionais do IPE-DF, Adrielli Dias, é essencial aproveitar as oportunidades reveladas no boletim: "Compreender a dinâmica do comércio exterior do DF é fundamental para orientar estratégias de integração internacional, buscando ampliar a competitividade em nichos específicos e superar os desafios estruturais para diversificar a pauta comercial."
Nas exportações, o DF tem destaque em carnes e sorgo, além dos morangos
Nas suas exportações, ainda que minúsculas, o Distrito Federal tem se destacado em nichos específicos. A capital se posicionou como o terceiro maior exportador de sorgo para semeadura e também o terceiro de morangos frescos, além de ocupar a nona posição nas exportações de carnes congeladas de aves.
Por outro lado, embora seja uma importante produção local e gere impactos econômicos no Quadradinho, o DF ainda tem participação limitada na exportação de produtos como soja e milho. Sozinho, o setor agropecuário representou 21,1% das exportações nesse período.
Em quantitativo e fazendo a comparação com os dados nacionais, nos três primeiros meses deste ano o DF exportou o equivalente a 19,6% do morango fresco produzido no país, 11,8% do sorgo em grãos para semeadura e 1,4% das carnes e miudezas de galos e galinhas.
A indústria de transformação foi a principal responsável pelas exportações (78,9%). A exportação de carne de aves congelada é um dos destaques apontados no Boletim do Comércio Exterior do Distrito Federal. Cerca de 58,5% das carnes de aves exportadas pelo Distrito Federal têm como principal destino a Arábia Saudita. Japão, Gana e Jordânia completam a lista dos maiores compradores de carnes de aves.
A China se destaca como o maior importador de soja, absorvendo 78,0% do total exportado desse produto, seguida pela Tailândia.