Por: William França

BRASILIANAS | Recomposição do cerrado aumenta vazão de água de represa em 36%

Imagem da vegetação do cerrado recuperada, ao lago do curso d´água. Ao fundo, uma área de plantio de grãos, irrigada por pivô | Foto: Divulgação/Instituto Espinhaço

Projeto-piloto do programa Pró-Águas Cerrado, na Fazenda Sanga Puitã, aqui no DF, recuperou 100 hectares de área nativa em cinco anos

Cinco anos após os primeiros plantios de mudas do cerrado, para a recomposição de uma área degradada, o Instituto Espinhaço, gestor do programa Pró-Águas Cerrado, realizou uma visita técnica, no último final de novembro, à Fazenda Sanga Puitã, que fica na Região Administrativa do Paranoá, na divisa do DF com Cristalina (GO). Como resultado, atestou o aumento em 36% da vazão de água natural na propriedade.

“Esse é um momento fantástico, é a consolidação de um sonho”, afirmou o secretário da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Abastecimento do DF, Rafael Bueno, que integrou um grupo de autoridades locais e federais, na visita feita à propriedade rural.

O Pró-Águas Cerrado iniciou seu trabalho em 2019 na fazenda, numa espécie de projeto-piloto, e desde lá já fez intervenções em aproximadamente 100 hectares de área (o equivalente a 100 campos de futebol), buscando a recomposição da vegetação. Foram plantadas cerca de 70 mil mudas nativas, de diversas espécies utilizadas.

Na visita, os técnicos constaram que houve o aumento de vazão de água na nascente, que as áreas de recarga foram recompostas e que a biodiversidade já vem demostrando os seus resultados, com o retorno de pássaros e de animais típicos do Cerrado para a região, por conta da recomposição da flora original.

Assista ao vídeo que relata a visita técnica, clicando aqui.

Fazenda abriga centro de pesquisas

A Fazenda Sanga Puitã é uma propriedade poli-produtiva que utiliza alta tecnologia em suas atividades. São 1.000 hectares de área, com 350 hectares utilizados para agricultura de sequeiro e 280 hectares para agricultura irrigada, 240 hectares para pastagens e 175 hectares de matas preservadas. Na pecuária, ela trabalha com ovinos de corte, vacas de cria e equinos.

“É uma alegria muito grande. Se não tiver água, não tem agronegócio. Não tem produção. O que tem de mais importante nesse projeto é a sua sustentabilidade”, afirmou Wilfrido Augusto Marques, proprietário da fazenda. Em suas terras, ele também abriga um centro de pesquisas e a Escola Superior do Agronegócio Internacional.

Segundo Wilfrido Marques, após a recomposição do Cerrado a represa da fazenda teve um aumento de água de 36% no seu volume de água, o que viabiliza a ele a utilização de até cinco pivôs de irrigação – o que, por sua vez, permite três plantios por ano. “Isso no Brasil é inédito”, afirmou.

“É um case de sucesso, porque a gente entende que um empresário, que claramente apostou numa área técnica, e que, a partir dessa aposta dele, ele tem ganhos produtivos de extrema importância e ele passa a ser um embaixador, digamos assim, de uma melhoria efetiva”, disse Erika Michalick, gerente de Sustentabilidade do Grupo CNH (multinacional italiana que fabrica equipamentos e serviços para a agricultura).

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Wilfrido Augusto Marques, proprietário da fazenda Sanga Puitã | Foto: Divulgação/Instragram

Exemplo serve como modelagem

Para o presidente do Instituto Espinhaço, Luis Oliveira, o sucesso da Sanga Puitã serve de modelagem “para que outras propriedades rurais, no DF e no bioma Cerrado, possam perceber a importância da recomposição nativa e das ações de conservação do solo e água para a segurança hídrica e para a resiliência dos territórios.”

Em maio, “Brasilianas” anunciou, em primeira mão, a adesão do Distrito Federal à rede de recuperação de áreas degradadas propostas pelo Instituto Espinhaço. A experiência já estava em curso em Minas Gerais, no Tocantins e em Goiás (com o projeto “Juntos Pelo Araguaia”, que há dois anos está trabalhando na recuperação de todo o leito do rio).

A formalização da parceria entre o Instituto Espinhaço – OSCIP responsável pela gestão do projeto Pró-Águas Cerrado – e a Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, junto com a Emater-DF, prevê o investimento de R$ 850 milhões, em 7 anos. O dinheiro virá todo da iniciativa privada. A ideia é resgatar a segurança hídrica do DF, com o reflorestamento de áreas de cerrado equivalentes a 10 mil campos de futebol.

Segundo o secretário de Agricultura do DF, o programa Pró-Águas Cerrado, além de recuperar a água e o solo, também tem um importante componente ambiental. “Ele traz sustentabilidade, vai trazer também crédito de carbono, mais uma fonte de renda para os produtores” Rafael Bueno.

“Esse é um programa que o Brasil tem de repetir, em todas as partes. Produzindo árvores, se colhe água”, avaliou Augusto Nardes, ministro do Tribunal de Contas da União, que também integrou o grupo técnico que fez a visita à Sanga Puitã.

Para o presidente da Emater-DF, “ao se cuidar do meio ambiente ele responde positivamente”. E completou: “A água é nosso maior bem, e com esse projeto do Instituto Espinhaço, vamos também produzir água e recuperar as áreas degradadas do Distrito Federal.”

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Equipe técnica que visitou a Sanga Puitã. Ao fundo, a represa que teve aumento em 36% de sua vazão | Foto: Divulgação/Instituto Espinhaço