A nova etapa da reforma do Teatro Nacional vai custar 4,5 vezes mais do que foi gasto na Martins Pena - que será inaugurada mesmo no dia 20 deste mês
A reforma da sala Villa Lobos vai custar 4,5 vezes mais do que foi gasto na reforma da sala Martins Pena, estimou ontem o governador Ibaneis Rocha (MDB), ao anunciar a continuidade das obras de reforma do Teatro Nacional Claudio Santoro.
O edital de licitação para a conclusão das reformas do maior espaço cultural do DF será publicado no dia 18 deste mês pela Novacap - que será responsável por supervisionar a obra. Dois dias depois (como tinha antecipado esta coluna) será reaberta a sala Martins Pena.
O investimento do Distrito Federal será na ordem de R$ 320 milhões para a reforma da sala Villa Lobos, que tem 1.200 lugares. Na Martins Pena, que tem 400 lugares, o custo chegou à casa dos R$ 70 milhões. Os recursos são de fonte direta do caixa do GDF.
"Os recursos estão assegurados e, certamente, Brasília terá todo aquele espaço em funcionamento para que a população possa usufruir de mais um espaço cultural importante da nossa capital", afirmou Ibaneis Rocha.
"Fiz o compromisso de revitalizar esses ambientes do Distrito Federal que estavam fechados há muitos anos e sem nenhuma providência. No que diz respeito ao teatro, vencemos a primeira etapa da obra", completou o governador.
Conforme havia antecipado esta coluna, a inauguração da Martins Pena será na sexta-feira, dia 20, último dia útil antes do Natal. "Aguardamos com essa inauguração dar sentido de retomada para a sociedade e para o setor cultural do Distrito Federal."
A nova licitação contempla as etapas 2, 3 e 4, que incluem as salas Villa-Lobos, Alberto Nepomuceno, Espaço Dercy e anexo e uma fase extra, denominada como a quinta, que prevê a instalação de elevadores de palco.
O Teatro Nacional está fechado há 10 anos. Ele foi interditado pela Defesa Civil e pelo Corpo de Bombeiros após terem sido feitas 13 exigências, entre elas rota de fuga, acessibilidade, sistemas de combate a incêndio e de exaustão. As demandas surgiram após o incêndio na Boate Kiss, tragédia que matou 242 pessoas e feriu 636 outras na cidade de Santa Maria (RS), em janeiro de 2013.
Reforma com requalificação acústica
Os projetos da nova etapa da obra foram todos encaminhados para a aprovação prévia do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Os detalhes e exigências foram ajustados e será feita uma requalificação acústica na Villa Lobos, uma vez que o espaço é a sede da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional.
Os custos mais elevados na segunda etapa são justificados pela grandeza do espaço. Além de receber três vezes mais público que a Martins Penna, ela exigirá mais equipamentos e tecnologia, uma vez que sempre teve uma grave deficiência acústica, reconhecida pelo próprio Oscar Niemeyer, autor do projeto.
Segundo o site Concerto, empresa que atua há mais de 20 anos com comunicação e comércio na área da cultura, o projeto acústico, feito sob supervisão do Iphan, ficou a cargo da empresa Solé Associados, que trata do planejamento e concepção de teatros, tendo participado de projetos com o da Sala São Paulo e da Sala Minas Gerais. Em 2013, ela foi contratada - por meio de uma licitação pública - para elaborar o projeto de readequação e modernização do Teatro Nacional (quando ele ainda estava em funcionamento).
Por meio de métodos científicos, que envolvem também medições das ondas sonoras, foi possível identificar o principal problema acústico da sala, que é a sua geometria física. O espaço tem uma largura excessiva fazendo com que as ondas sonoras não sejam rebatidas de forma adequada. Além disso, o forro tem um desenho indesejável - que não é do projeto original -, que suprime o som. Esse problema estrutural acaba ainda potencializado por materiais impróprios utilizados, como carpetes e forrações.
Para o novo estudo, o escritório avaliou novas práticas e tendências restaurativas - inclusive uma solução eletroacústica que capta o som original e o redireciona por meio de caixas acústicas -, mas concluiu que, basicamente, o projeto de reforma desenvolvido em 2013, aquele que na época fora aprovado pelo Iphan, ainda era o melhor e mais aconselhado. Apenas alguns novos materiais tecnologicamente mais avançados foram incorporados.
O que será entregue agora
Há dois anos, quando foi licitada, a reforma da sala Martins Pena estava orçada em R$ 49, 7 milhões. A vencedora foi a Porto Belo Engenharia e Comércio, que apresentou a melhor proposta, orçada em R$ 49,7 milhões. Os reajustes aconteceram, segundo a Novacap, por ajustes previstos em contrato.
Essa primeira etapa contou reforma das instalações prediais, sobretudo elétrica, hidráulica e de climatização; recuperação estrutural; restauração de pisos e revestimentos acústico, esquadrias e de mobiliários, além de atualização tecnológica e de segurança das estruturas e dos mecanismos cênicos, respeitando os requisitos de acessibilidade. Todos os trabalhos levaram em consideração as diretrizes de preservação do tombamento.
As duas novas saídas de emergência estão prontas, bem como novos banheiros, o reservatório externo de incêndio com capacidade para 350 mil litros de água, as salas onde serão armazenados os cinco geradores de energia - dois deles já foram instalados -, o sistema de ventilação e os novos elevadores.
A Sala Martins Pena está praticamente concluída com carpetes, cortinas e as novas poltronas instaladas. Atualmente, a obra está em fase de acabamentos, pinturas e testes necessários para a reabertura.