Por: William França

BRASILIANAS | Encheu, viu?

Pela primeira vez, a bacia de detenção do Drenar-DF recebeu água pluvial desde a ligação de parte da nova infraestrutura de drenagem à rede antiga de captação | Foto: Anderson Parreira/Agência Brasília

65 anos após a famosa frase de Juscelino Kubitscheck que marcou o dia em que o Lago Paranoá encheu, a gestão de Ibaneis Rocha comemora com a mesma citação o enchimento - pela primeira vez - da bacia do Drenar-DF, obra de R$ 180 milhões

Quando Brasília ainda estava sendo construída e havia uma imensa oposição à proposta do presidente Juscelino Kubitschek de transferir a Capital Federal do Rio de Janeiro para o Planalto Central, foram vários os desafios enfrentados por ele. E pelos candangos.

À época, havia quem pensasse que a ideia de formar o Lago Paranoá não se concretizaria (todos os leitores desta coluna estão cientes que ele é um lago artificial, certo?)

O então colunista Gustavo Corção, do jornal "O Globo", não acreditava que, por conta do terreno arenoso do planalto central, o lago encheria. Além de escritor, Corção era engenheiro e representava a ala conservadora da sociedade carioca - uma voz respeitada para aqueles contra a mudança da capital.

Só que JK não era de se deixar levar por percalços. No dia 12 de setembro de 1959 (no dia do aniversário de 57 anos do presidente), ele inaugurou a barragem do Paranoá. A mesma que hoje está lá, no final do Lago Sul.

Oito meses depois, assim que o lago atingiu a famosa Cota Mil, o colunista recebeu um telegrama com uma mensagem bem humorada do presidente Juscelino Kubitschek: "Encheu, viu?".

Para quem não sabe, o espelho d'água do Lago Paranoá está a exatos 1.000 metros do nível do mar - e essa marca coincide com a localização do clube esportivo que leva o mesmo nome.

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Gustavo Corção, então colunista de 'O Globo', crítico da construção de Brasília | Foto: Wikipedia

Gestão Ibaneis comemora

Agora, passados 65 anos dessa história da formação do Lago Paranoá, que marca a epopéia da construção de Brasília, a gestão do governador Ibaneis Rocha (MDB) comemorou a efetividade da obra do Drenar-DF com o fato de a bacia de contenção do projeto ter enchido.

Mais precisamente, "a inaguração" aconteceu na madrugada da última quinta-feira, dia 22 de janeiro.

Após ter sido ligada na véspera à antiga e defasada rede coletora de águas pluvias, a nova tubulação do Drenar-DF recebeu as águas da chuva que cairam naquela noite na Asa Norte. Assim, pela primeira vez, a água da chuva foi parar na bacia de detenção do Drenar-DF e a lâmina de água chegou a 80 centímetros de altura.

No dia seguinte, a "Agência Brasilia", portal oficial de notícias do GDF, estampou a manchete com o "Bacia do Drenar-DF enche pela primeira vez". O motivo de festa se deu sobretudo por conta das últimas etapas da obra, que tem 7,7 km de extensão.

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Reprodução da chamada para a notícia da "Agência Brasília" que registrou o funcionamento do Drenar-DF | Foto: Agência Brasília

Foi no segundo lote que os engenheiros descobriram, durante a etapa de escavação de um túnel de mais três quilômetros, um solo mais rígido do que o previsto nos estudos iniciais feitos pelas equipes técnicas. Para lidar com o problema, foi preciso trocar o processo de escavação, que era manual.

Os operários passaram a usar escavadeiras e furadeiras hidráulicas - equipamentos especializados, munidos de brocas, capazes de perfurar e romper solos resistentes. A obra atrasou por quase dois meses, por conta de um trecho de pouco mais de 200 metros com solo muito rígido.

Nos últimos dias, foi preciso que duas frentes de trabalho simultâneas se dedicassem à escavação dos ultimos 45 metros de solo. Deu certo!

Segundo o diretor técnico da Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap) - que foi a responsável pela obras -, Hamilton Lourenço Filho, o resultado do enchimento da bacia após a ligação das redes foi considerado satisfatório. "Estamos bastante satisfeitos. Isso mostra que parte da rede liberada e a bacia já estão funcionando como o esperado, fazendo a captação da chuva", destaca.

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Lixo que chegou à bacia de detenção foi triado pelo Drenar-DF, antes de chegar ao Lago Paranoá | Foto: Joel Rodrigues/Agência Brasília

Muito lixo na rede

A bacia de contenção é uma grande caixa d'água, que vai receber a água das chuvas e fazer uma espécie de limpeza. O reservatório ocupa terreno de 37 mil m², possui uma capacidade de até 96 mil m³ de água e volume útil de 70 mil m³.

Logo na manhã desta quinta, foi possível ver muito lixo que foi levado pela rede de tubulação até a bacia de detenção. O descarte inadequado do lixo, que faz com que os materiais cheguem às galerias pluviais, é uma das causas do registro de enchentes e alagamentos na cidade.

Embora o lixo tenha chegado à bacia, o material foi triado pelo sistema do Drenar-DF. Pelo projeto, o índice de sujeira é separado da água da chuva por meio do processo de decantação. Após essa etapa, a água presente no tanque segue para os vertedores de saída do reservatório, que possuem túneis de 2,6 metros de diâmetro responsáveis por conduzir, por gravidade, o volume de água sem resíduos até o Lago Paranoá.

Os materiais acumulados e resíduos sólidos serão recolhidos pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), que ficará responsável pela manutenção do reservatório.