BRASILIANAS | Após 64 anos, a TCB deixa de operar ônibus urbanos
Sem alarde, decisão do Conselho Diretor suspende a operação das últimas 3 linhas da empresa. TCB vai se dedicar a nichos, como transporte escolar e serviços de saúde
Sem alarde, decisão do Conselho Diretor suspende a operação das últimas 3 linhas da empresa. TCB vai se dedicar a nichos, como transporte escolar e serviços de saúde
EXCLUSIVO - Às vésperas de completar 64 anos de operação no transporte público do Distrito Federal, que seriam comemorados no próximo dia 8 de maio, a Sociedade de Transportes Coletivos de Brasília Ltda. - mais conhecida pela sigla icônica TCB - deixou de operar as últimas três linhas de ônibus urbanos que vinha mantendo nos últimos anos.
A decisão não foi anunciada por ninguém. Aliás, a empresa não divulga nada há tempos - seu site está completamente desatualizado. A única coisa que indicou o fim das operações foi "o sumiço" dos ônibus que faziam as linhas, que saiam da Rodoviária do Plano Piloto, e que agora passam a ser operadas pela Piracicabana, uma das cinco empresas concessionadas que operam o sistema de transporte público do DF. O guichê da empresa, na Rodoviária do Plano Piloto, também está lacrado com cadeados.
Este colunista, como já foi dito por várias vezes, é usuário do serviço de transporte público do DF, metrô e ônibus urbanos incluídos. Por vários motivos, sobretudo por comodidade e pelas vantagens que pagar apenas R$ 5,50 para ir e outro montante igual para voltar para casa. Eu senti a falta repentina dos ônibus da TCB.
Alguns dos ônibus da TCB que eu usava eram os da linha 0.108, que liga a Rodoviária do Plano Piloto à Praça dos Três Poderes. Além dela, ainda estavam operantes a 108.3 (Rodoviária do Plano Piloto / STJ - TST / Pier 21 / CJF) e a 131.3 (Rodoviária do Plano Piloto / Cruzeiro Novo Velho / Sudoeste), que fazia cinco viagens durante a madrugada (conhecida como Corujão).
Ônibus com idade-limite
Os ônibus da TCB que estavam em circulação eram 100% elétricos (até então, os únicos do transporte público do DF, que abandonou a nova matriz energética). Tinham piso baixo e ar-condicionado. Foram adquiridos na gestão do governador do PSB Rodrigo Rollemberg (2015-2018), e já estavam no limite de seu tempo de uso para troca da frota, embora estivessem até bem conservados.
Desde 2019, a frota de ônibus do sistema de transporte público do Distrito Federal passa por uma renovação, que ocorre para garantir que os veículos não ultrapassem o prazo de sete anos (ou dez, no caso dos articulados e padrons) em circulação. Do total de 3 mil ônibus, quase todos já foram trocados. Com isso, a média de idade da frota do DF é de apenas três anos e meio, a menor do país - segundo o GDF.
Os sinais de que as coisas não estavam bem já eram dados desde o ano passado. Os ônibus da TCB ficaram de fora dos esforços iniciais da Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) de implantação do projeto "Dinheiro não anda de ônibus" - só aderiu em setembro, três meses após o início da iniciativa.
Falta de transparência
Em novembro e em dezembro, os motoristas e cobradores da TCB abandonaram os uniformes. Houve dias que o motorista até usava uma camiseta regata - sem contar nas camisetas de times de futebol, que se tornaram onipresentes. A falta de padronização dos funcionários da empresa gerou reclamações.
Enquanto isso, internamente, no final de dezembro encerrou-se mais uma rodada do Plano de Demissões Voluntárias (PDV) da empresa. O prazo havia sido reaberto em setembro, por decisão da Diretoria Colegiada da TCB. Não há dados sobre quantos funcionários aderiram à medida e tampouco quantos efetivamente permanecem na empresa.
Na linha da não-transparência das ações, a Assessoria de Imprensa da TCB é, juntamente com a do Detran-DF, uma das que simplesmente ignoram as demandas feitas pela imprensa. Isso, apesar de a nota sobre o PDV preconizar que a empresa "reafirma seu compromisso com transparência e comunicação aberta" - seja lá o que isso for, na definição da TCB...
Novo foco para a empresa
"Brasilianas" apurou que a diligente Diretoria Colegiada da TCB (que no site da empresa aparece com agenda de trabalho no dia 31 de dezembro e com seu presidente em despacho interno em pleno feriado do dia 1º de janeiro) fez uma avaliação dos custos operacionais e concluiu que a empresa não tinha como reverter o déficit que vinha registrando - considerando ser a TCB uma empresa pública.
Segundo apuração desta coluna, a TCB há tempos está repensando o foco da empresa. Deve reforçar o trabalho que já vem desenvolvendo, como por exemplo ter a gestão e ser a operadora dos ônibus escolares que atendem aos estudantes das escolas públicas do DF. Essa ação iniciou-se em janeiro de 2020, no primeiro ano do mandato do governador Ibaneis Rocha (MDB).
Em setembro de 2021, a TCB passou a ser responsável pelo transporte de pessoas idosas e com deficiência e as com mobilidade reduzida severa, para atendimento na rede pública de saúde, utilizando-se de vans adaptadas. Esse programa, batizado de "DF Acessível", é bancado pela Secretaria de Economia do DF.
A partir deste ano, por meio de um convênio com a Secretaria de Saúde do DF, a TCB começará a fazer o transporte gratuito de pacientes com doença renal crônica (DRC) para hemodiálise. Ele atenderá pacientes que fazem tratamento contínuo e têm mobilidade reduzida. O serviço será oferecido dentro do Complexo Regulador em Saúde ou em rede conveniada e foi batizado de "DF Acessível TCB - Hemodiálise".