BRASILIANAS | Cálculos para o valor do subsídio levam em conta dados defasados, de 2019

Ninguém tem os números corretos sobre quantos passageiros são tranportados. As empresas que operam no Entorno não fazem nenhum controle

Por William França

Tabela com custos e despesas (estimados) que foram apresentados para definir pelos subsídios ao transporte

Ninguém tem os números corretos sobre quantos passageiros são tranportados. As empresas que operam no Entorno não fazem nenhum controle

A proposta de subsídio para o transporte público do Entorno de Brasília, e que foi aprovada ontem pelos governos do DF e de Goiás, foi sugerida a partir de cálculos feitos por técnicos do Instituto Mauro Borges (IMB), de Goiás, a partir de um levantamento (estimado) de passageiros que circulam nas linhas do Entorno e nos custos atuais das tarifas. Os dados que foram analisados são os últimos disponíveis: são de 2019 e, certamente, estão defasados.

Até porque, ninguém sabe quantos são os passageiros transportados pelas sete empresas que operam o sistema de ônibus semiurbanos (os que ligam o DF ao Entorno). Pelas regras atuais da ANTT, seis dessas empresas não têm controle de catraca nem de bilhetagem e fazem, elas mesmas, autodeclaração de quantos passageiros transportam.

"É um absurdo, mas é o que a ANTT aceita atualmente. Essa falha foi o que impediu que o GDF desse continuidade ao convênio que recebeu da ANTT para gerir o transporte do Entorno", explicou o secretário de Mobilidade do DF, Zeno Gonçalves, a "Brasilianas".

Segundo ele, à época, a primeira coisa que o GDF exigiu foi que essas empresas instalassem validadores (catracas). "Nós não poderíamos atestar as viagens com base em autodeclaração, mas elas se negaram. Entraram com uma ação contra o GDF e fez com que a gente desistisse", completou.

Como foi calculado o subsídio

"Brasilianas" teve acesso à tabela com a síntese dos estudos (vide abaixo). Ela leva em conta o preço pago pelos passageiros e quanto essas linhas de ônibus representam na demanda de oito cidades do Entorno: Luziânia (que responde por 19,7% do total), Novo Gama (9,7%), Planaltina (9,1%), Águas Lindas (24,3%), Santo Antônio do Descoberto (7,7%), Céu Azul (6,8%), Valparaíso (10,9%) e Cidade Ocidental (11,8%).

A tabela foi produzida com os preços atuais, antes do aumento de 2,919% autorizado pela ANTT e que está previsto para entrar em vigor na zero hora do próximo domingo. De acordo com esse estudo, o preço médio da tarifa pago pelos usuários do Entorno é R$ 8.74. Essa é a chamada "tarifa técnica".

Os estudos produzidos pelo Governo de Goiás prevêem que a tarifa custe R$ 5,00 (a serem pagos pelo passageiro). Seria um valor intermediário aos R$ 4,30 (de Goiânia) e R$ 5,50 (do DF).

Assim, a diferença entre o que seria cobrado dos passageiros (R$ 5,00) e a tarifa técnica (R$ 8,74) é de R$ 3,74. Esse seria o valor do subsídio a ser custeado pelo DF e GO.

Levando em conta um número médio de passageiros mensal, de aproximadamente 150 mil passageiros (dados de 2019), o valor total do subsídio mensal seria de R$ 17 milhões. Por ano, o valor total do subsídio seria de R$ 203 milhões.

Ontem, durante a reunião que se decidiu pelo subsídio, foi dito que as passagens poderão custar entre R$ 5,00 e R$ 8,00 (para os passageiros), dependendo de quantos quilômetros tem a linha do ônibus.

Governo Federal ficou de fora do rateio

Inicialmente, a intenção do Governo de Goiás era de que essa conta do subsídio fosse dividida por três: entre o DF, Goiás e o Governo Federal. Mas houve negativa por parte da Casa Civil da Presidência e do Ministério dos Transportes, uma vez que poderia abrir precedentes para que outras regiões metropolitanas integradas fizessem o mesmo pleito.

Por exemplo: Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) e ainda Teresina (PI) e Timon (MA). Ambas são áreas com as mesmas configurações que o DF e o Entorno.

Mas, agora, com a decisão dos GDF e do Governo de Goiás de somente eles ratearem o subsídio, caberá ao Governo Federal entrar com investimentos em infraestrutura para as linhas de BRTs, que poderiam ligar o DF a Luziânia (orçado em R$ 1 bilhão) e a Águas Lindas (estimado em R$ 700 milhões), além de uma série de outros investimentos em terminais rodoviários, duplicação de rodovias e estruturação de paradas - sem contar, claro, a renovação da frota de ônibus.

O Governo Federal tem recursos para essa finalidade com o chamado PAC Mobilidade, que prevê investimentos de R$ 26 bilhões.

 

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