Segurança (ou a sensação da falta dela) é apontado como principal problema da Rodoviária do Plano Piloto pela Catedral, empresa que desde o dia 22 de fevereiro passou a responder pela gestão do terminal e adjacências
EXCLUSIVO - Na primeira entrevista à imprensa brasiliense após assumir as operações da Rodoviária do Plano Piloto - concedida por videoconferência a "Brasilianas" - o novo gestor do terminal, Enrico Capecci, reafirmou que "o respeito ao usuário" é a tônica da empresa Catedral, que foi formada para administrar o espaço pelos próximos 20 anos.
Digo "reafirmou" porque, em outubro do ano passado, quando se sagrou vencedor da licitação nacional que disputou o terminal, a tônica da fala de Enrico Capecci numa outra entrevista à "Brasilianas" foi exatamente a mesma: a de buscar o cuidado com os mais de 700 mil usuários que passam pelo terminal diariamente. "Agora, vamos começar a demonstrar esse respeito na prática", disse o diretor da Catedral.
Oficialmente, desde o último dia 22 de fevereiro a empresa passou a compartilhar a gestão da Rodoviária do Plano Piloto com o GDF. Essa transição deve durar cerca de 90 dias e, durante esse período, as receitas do terminal (aluguéis das lojas, por exemplo) continuam sendo do governo local. A gestão da empresa Catedral só será plena depois dessa fase, lá para maio.
Desde a assinatura do contrato (em 15 de outubro) até o final do mês passado, a transição cuidou da parte burocrática. "Somente agora a gente teve acesso pleno ao terminal e pôde, por exemplo, desmontar um elevador ou uma escada rolante para identificar o que está de fato acontecendo, o que está quebrado", afirmou.
Parte desses equipamentos (que estão parados há anos) já está isolada por tapumes, onde aparece (pela primeira vez) a logomarca da Catedral - empresa criada após o resultado do consórcio que disputou a licitação. Em breve, uma empresa de comunicação visual (a ser contratada, ainda) cuidará de toda a identidade visual do terminal, além dos serviços de utilidade pública.
"Vamos colocar tótens novos e exibir os horários e as linhas dos ônibus de forma mais clara. Queremos que os usuários estejam mais bem orientados, com painéis de mídia que possam ajudar nisso", disse Enrico. Os painéis do Metrópoles Digital, que "nasceram por geração espontânea" nas paredes do terminal, estão, portanto, com os dias contados.

Novas experiências no terminal
A Rodoviária do Plano Piloto "terá um novo padrão", assegura o diretor da Catedral. A ideia é que seja um local agradável e que possa estimular que mais pessoas passem e usem o terminal - o que corrobora a estratégia da Secretaria de Mobilidade do DF, de aumentar o uso do sistema de transporte público da cidade: mais pessoas usando ônibus e metrôs, em detrimento ao uso de veículos individuais.
Para isso, além das reformas estruturais previstas e de um novo layout para as lojas (e a acomodação dos camelôs), a Rodoviária ganhará espaços comuns em shoppings de alto luxo, mas pouco usuais para terminais rodoviários. Entre eles, os chamados "banheiros família" (para troca de fraldas, por exemplo), espaços próprios para amamentação e até uma sala multisensorial, voltada para o atendimento de autistas.
Uma sala multisensorial é um espaço que estimula os sentidos, como visão, audição, olfato, tato e paladar. O objetivo é criar experiências que auxiliem no desenvolvimento neurológico e mental dos usuários. Também serve para isolar momentaneamente o autista da confusão e acalmá-lo, por exemplo.
No caso de sala de amamentação em terminais rodoviários, existe uma experiência em curso em Ponta Grossa (PR). No DF, salas de amamentação são exigência nos órgãos públicos, prevista na Lei 7.057/2022, de autoria do deputado Rafael Prudente (MDB). Terminais rodoviários não estão inclusos nesta obrigação legal.
"Nenhum desses novos espaços acolhedores estão previstos no contrato. Mas achamos que são importantes, para trazer mais conforto e dar dignidade aos usuários", enfatizou Enrico. "Temos experiências com usuários autistas, que se sentem desconfortáveis no meio da barulheira, e queremos oferecer essa experiência para eles aqui em Brasília", afirmou.
A RZK Concessões, empresa por detrás da Catedral, administra outros 13 terminais urbanos do metrô e de trens (CPTM) no Estado de São Paulo. E pretende trazer essa vivência do transporte paulista e paulistano para Brasília.
"Esses espaços terão acesso controlado, justamente para preservar os equipamentos. Teremos uma equipe treinada, que conheça e possa atender bem essas pessoas", afirmou Enrico.