Jornalista, filósofo e "músico bissexto", o mineiro Fabiano Lana se inspira na literatura para fazer experimentos musicais
As vozes polifônicas e polirritmias de Clarice Lispector em seu livro "Água Viva" se transformaram em "Chaya" (nome de batismo ucraniano da autora), música que encabeça o novo álbum do jornalista, filósofo e músico Fabiano Lana, lançado esta semana. "É uma peça que trabalha com a troca incessante de tempos dos compassos, de ritmos e de tons", explica o autor.
"Água Viva", publicado pela primeira vez em 1973, foi considerado pela própria autora como uma obra de ficção. Mas os críticos entendem que o livro não tem um gênero literário definido, perpassando os gêneros de romance, ensaio e poesia. Tal como a música de Fabiano Lana.
"Essa obra escrita em primeira pessoa, nos traz as divagações de uma pintora solitária, que durante toda a narrativa faz uma série de reflexões e digressões, sobre questões da existência, do ser ou não ser, do poder das palavras. Um fluxo de consciência que marca a trama desse romance por inteiro", resume o texto sobre o livro, que também serve para orientar (ou seria desorientar) o ouvinte que aprecia "Chaya".
Thaise Mandalla se torna a voz de Chaya quando a música ganha letra e se torna canção, em "As vozes de Chaya".
O EP tem outras duas faixas. "Pássaros de Madeira" se refere às esculturas produzidas por moradores do Vale do Catimbau, na transição entre o agreste e o sertão de Pernambuco. Ainda esculpidas pelos povos da região exatamente como séculos antes da chegada dos colonizadores.
Qualquer lugar do mundo é o "Fim do mundo" ou o começo do mundo num planeta que se aproxima do esférico.
"Executo o violão de cordas de aço, sob efeitos, produção e arranjos de Fernando Jatobá, que também foi baixista, guitarrista e manejou os sintetizadores", afirma Lana. Marcus Moraes e Wladimir Aufioni tocam guitarra e baixo em "No fim do mundo". Thiago Cunha sempre na batera. Esdras Nogueira está nas flautas.
A capa é sobre uma foto tirada pelo próprio Fabiano Lana de uma oca de uma tribo Macuxi em Roraima, com o trabalho de arte de Barbara Vasconcelos.
Ouça este álbum: Chaya - Spotify

Sobre o artista
Com uma formação que remonta a Fundação de Educação Artística, prestigiosa escola de música de Belo Horizonte, Fabiano Lana expõe em sua obra múltiplos estilos, que vão desde a música instrumental brasileira, jazz, indie rock, música regional, o barroco de Minas e elementos eletrônicos - o que estiver ao seu alcance. "Para formar um mosaico de sons e cores musicais", afirma o perfil do artista no Spotify.