Neoenergia inaugura no segundo semestre sua primeira usina de energia limpa do país, que abastecerá todos os tipos de veículos elétricos. Na contramão da pretendida (e não autorizada) termelétrica em Samambaia
EXCLUSIVO - Enquanto o Distrito Federal ainda tenta absorver a notícia da pretensão de ser instalada uma termelétrica em Samambaia, às margens do (já muito poluído) rio Melchior - revelada por este "Correio da Manhã"-, a Neoenergia anuncia a inauguração, no segundo semestre, da sua primeira usina hidrogênio verde no Brasil, que funcionará em Taguatinga.
"Protagonista da transição energética no Brasil, a Neoenergia segue investindo cerca de R$ 38 milhões, do programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)", afirma nota da empresa, ao anunciar semana passada ao governador Ibaneis Rocha (MDB) a previsão da inauguração da usina.
Os investimentos para esta usina foram anunciados em agosto do ano passado, após assinatura de acordo entre a empresa e o GDF, com o objetivo de reforçar a importância do desenvolvimento dessa nova tecnologia na capital federal e o de estabelecer uma parceria para a obtenção das autorizações necessárias.
Taguatinga é a Região Administrativa que durante muitos anos foi a líder na arrecadação de ICMS no DF. Hoje, com pouco mais de 200 mil habitantes, está (literalmente) cercada por Vicente Pires, Águas Claras, Samambaia e Ceilândia. Perdeu um pouco de sua pujança econômica, mas ainda mantém um forte comércio popular.

Usina poderá abastecer até ônibus e caminhões elétricos
Segundo a Neoenergia, a escolha por Brasília se deu por motivos estratégicos: a capital do país é um polo econômico-político relevante no cenário nacional e tem uma história forte atrelada ao transporte automotivo.
"Existe um potencial de viabilidade e visibilidade para o projeto-piloto, que traz para o Brasil uma infraestrutura pioneira para introdução e demonstração dos veículos a célula de combustível de H2V, com zero emissões de CO2. A planta de produção e abastecimento também ficará aberta para contribuir com pesquisa e desenvolvimento (P&D) desse novo vetor energético, além de oferecer capacidade para abastecimento veicular", afirma nota da empresa.
O ponto de abastecimento de H2V do Distrito Federal receberá energia renovável proveniente de uma usina fotovoltaica de 150kWp, e terá capacidade para abastecer veículos leves, industriais e comerciais, e pesados, como ônibus e caminhões, contribuindo para o processo de descarbonização de segmentos ainda difíceis de reduzir suas emissões de CO2, como é o caso do setor de transporte pesado de longa distância.
Modelo do DF será similar ao espanhol
Hoje, o grupo Iberdrola, controlador da Neoenergia, possui mais de 60 projetos de hidrogênio verde e/ou derivados em desenvolvimento ao redor do mundo, dois deles já em operação desde 2022, na Espanha, sendo um deles voltado para mobilidade urbana.
O projeto de em curso em Taguatinga é bem semelhante ao da Iberdrola, planta que abastece o transporte público rodoviário da Zona Franca de Barcelona, mas com algumas especificidades para atender as necessidades brasileiras e em uma escala menor.
Enquanto a planta de Barcelona foi projetada com abastecimento em pressão única, ideal para veículos pesados, como ônibus, a de Brasília consegue abastecer em duas pressões. Isso permite contemplar uma gama maior de veículos, como ônibus, empilhadeiras, caminhões e veículos leves de passeio, por exemplo.
Idéia de termelétrica vai na contramão
A revelação, em primeira mão, de que o DF poderia ter uma termelétrica em Samambaia foi feita pela repórter Thamiris de Azevedo, deste "Correio da Manhã", no mês passado.
Segundo a Termo Norte, a Termelétrica 1470MW seria movida a gás natural e se utilizaria do Rio Melchior (já poluído na classe 4) para o resfriamento do equipamento.
Ourtogas emitidas pela ADASA são objeto de análise judicial em Ação Civil Pública, uma vez que a Termo Norte utilizou estudos de 2012, que não condizem com o cenário atual.
Diz a empresa "que a água captada será devolvida mais limpa". Especialistas analisam que o empreendimento é um risco para a saúde pública e para o meio ambiente.
Para o presidente da Instituto Brasília Ambiental, Rôney Nemer, a térmoelétrica vai na contramão das políticas públicas de sustentabilidade que o GDF está aplicando.
O Ibama afirma que estão sendo cumpridas todas as etapas do processo de licenciamento, mas isso não significa que as licenças serão concedidas. A audiência pública que discutirá o assunto, suspensa por decisão judicial, ainda não foi marcada.
