'Brasilianas' apurou que a governadora em Exercício, Celina Leão, está irritada com a falta de compromisso por parte da gestão da empresa. Mas não é a única autoridade do GDF a reclamar, e a empresa já está também no radar da CLDF e do TCDF.
O sistema do metrô parou este final de semana para instalar painéis de informação (que não foram ligados!) e para corrigir falhas. "Mas o sistema voltou pior", afirmou ontem uma autoridade do GDF. A (des)informação no Metrô-DF é, portanto, só ponta do iceberg
"Falta de cumprimento de prazos combinados". "Falta de empenho na solução de problemas". "Pouca ou nenhuma proatividade para buscar soluções". "Dinheiro não falta, mas, cadê os projetos?" "Não faz sentido. O governador já pediu, mas não sabemos por que não foi feito".
Essas são algumas das frases que "Brasilianas" ouviu ao longo dos últimos meses, quando questionou a várias autoridades do próprio Governo do Distrito Federal sobre a gestão do Metrô-DF. Há tempos essas críticas vêm sendo são feitas, por diversos motivos. E a maior parte dessas críticas são direcionadas ao diretor-presidente, Handerson Cabral Ribeiro, à frente da Companhia do Metropolitano do DF desde 2019.
Às queixas relatadas pelas autoridades, esta coluna soma outras: "Cadê a acessibilidade prometida?". "Onde estão os painéis de informação para os usuários, prometidos desde outubro do ano passado?". "Quando o Metrô vai atualizar os mapas "de orientação" que são exibidos nas estações e nos trens, que ainda retratam a situação do sistema como estava no início dos anos 2000?"
Afilhado político do presidente do PSD-DF, o empresário Paulo Octávio - partido que pertence à base do governo Ibaneis Rocha desde novembro de 2022 - Handerson Cabral apresenta-se como "CEO do Metrô-DF" (e não diretor-presidente) e como "conselheiro da CEB Lajeado S.A." (que no perfil dele, no Linkedin, está escrito de forma errada, com G). Apresenta-se ainda com "carreira profissional desenvolvida no setor de infraestrutura de transportes, sobretudo no DNIT".

Celina Leão cobra prazos
Dentre as autoridades mais irritadas está a governadora em Exercício, Celina Leão (PP). E ela tem as suas razões: em novembro do ano passado, Celina liderou uma missão oficial à China, com o intuito de conhecer o sistema metroviário daquele país e ver alternativas (inclusive de financiamento) para aplicar no DF. Fez a viagem pensando num eventual mandato à frente do GDF, entre 2027-2030.
Handerson Cabral estava entre os integrantes dessa missão oficial. No retorno, Celina se comprometeu a dar celeridade para a aquisição de 15 novos trens, com quatro vagões cada, que deverão (ou deveriam?) repor a frota antiga (alguns remontam ao início do sistema) e reforçar a atual linha que liga a Rodoviária do Plano Piloto a Ceilândia e Samambaia.
Hoje, o tempo médio de espera entre os trens é de 6 a 12 minutos, em horário de pico. A intenção, com o reforço da frota, seria reduzir à metade esse tempo.
Até porque, com a ampliação das linhas de Samambaia (contrato já assinado) e de Ceilândia (contrato em análise pelo TCDF), a ideia é que essas linhas passem de 180 mil para 420 mil usuários por dia. Para que isso aconteça, são necessários novos trens.
E, como disse uma das autoridades ouvidas por esta coluna, "não se acha um trem numa prateleira" - do tipo, comprou e levou. É preciso encomendar com muita antecedência para que seja feita a entrega (até porque ela acontecerá, possivelmente, no outro lado do mundo). Em média, a entrega demora de dois a três anos após a assinatura do contrato.
Sem audiência pública não há licitação
"Brasilianas" apurou que, desde dezembro, Celina está aguardando que o Metrô-DF marque a audiência pública que dará início ao processo de licitação internacional para a compra dos novos trens. Essa etapa (fundamental) sequer foi agendada.
"A própria Celina se empenhou para que tudo corresse em tempo, para que as compras pudessem ser feitas o quanto antes. Senão, novos esses trens não vão chegar nem no final do (ainda provável) mandato dela, daqui a cinco anos", confidenciou um assessor da vice-governadora à coluna. "Ela recebeu críticas pela viagem que fez à China. Apostava na compra desses trens para minimizar esse fato", completou.
A audiência pública é uma exigência em licitações internacionais, de acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU). "E uma oportunidade para que a sociedade participe do processo de contratação pública, um espaço de diálogo entre o poder público e a sociedade. Os participantes podem expressar opiniões, sugerir propostas e debater ideias", explica o tribunal.
A irritação de Celina Leão vai além desse atraso nesta licitação. Ela já elegeu a mobilidade urbana como prioridade de sua (provável) campanha ao GDF. Tanto que "já encomendou" o VTL da W3, o VLT do Aeroporto e o VLT para o Entorno (que vai até Luziânia), além da segunda linha do metrô no DF, que vai ligar 11 outras Regiões Administrativas que hoje não são servidas pelas linhas atuais. Todas essas promessas, de alguma forma, dependem da Companhia do Metropolitano no DF. "Se não saem nem a compra dos trens, que é menos complexa, quem dirá o restante?", completou o assessor da (irritada) governadora em Exercício.

'Dinheiro não falta. Mas, cadê os projetos?'
A má conservação das estações (como a da Estação Galeria, que está há anos com as paredes sem pastilhas) e das próprias instalações específicas do metrô, como as catracas, foram críticas de outra autoridade do GDF, esta ligada ao segmento de Obras. "Não entendo. Não falta dinheiro para isso. O governador (Ibaneis Rocha) está investindo no transporte público, quer deixar isso como legado de seu mandato. Mas, cadê os projetos? Não existem", relatou.
Há problemas que afetam a infraestrutura. Há um vazamento de esgoto que "inunda" a Estação da 112 Sul de mal-cheiro, sobretudo nos dias mais quentes. Apesar das queixas relatadas à empresa, o tal odor desagradável marca presença há meses, a cada passagem do trem pela estação.
Neste último final de semana, o Metrô-DF não funcionou - quebrando o ciclo do "Vai de Graça", programa de Ibaneis Rocha que caiu nas graças da população. Segundo a nota oficial da Companhia, entre as atividades que deveriam ter sido realizadas pela companhia estavam "a análise dos trilhos e troca, se necessário; a manutenção dos trens; a capina e a roçagem das vias; a instalação de painéis nas plataformas; a limpeza das caixas d'água das estações do túnel; a manutenção das máquinas de chave; além da instalação de aparelhos de ar-condicionado nas salas técnicas para garantir a adequação térmica dos equipamentos".
Desde dezembro do ano passado, o Metrô-DF vem afirmando a esta coluna que vai trocar os painéis de informação aos usuários, aqueles que deveriam demonstrar os horários e as linhas dos trens. Para isso, foi feita uma licitação (que deveria ter sido concluída em outubro de 2024) e foram comprados 248 painéis, ao custo de R$ 13,7 milhões. Apesar da (outra, nova) promessa da companhia, feita em nota oficial, ontem as estações estavam como sempre estiveram nos últimos anos: sem nenhum painel de informação funcionando.
E quem quiser se orientar pelos mapas do metrô, que são expostos nas estações (ou mesmo dentro dos trens), pode esquecer. Os mapas trazem estações que já estão prontas - algumas desde o início dos anos 2000, tais como as da 102 Sul, 106 Sul, 110 Sul, 112 Sul, Guará e Estrada-Parque - mas aparecem como "em obras". O mesmo acontece com os adesivos dentro dos vagões. Todos defasados.
"Essa falta de informação é sabida, tem nos incomodado, mas é um problema que a gente não consegue resolver. Só cabe ao Metrô. Mas ele não faz", reclamou outra autoridade do GDF.
"Brasilianas" apurou que ontem de manhã, bem cedo, a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob-DF) foi acionada pelo gabinete de Celina Leão para evitar uma paralisação do sistema de transporte público. Após a manutenção, o Metrô-DF não voltou a contento, e teve de haver reforço nas linhas de ônibus, sobretudo as que servem Ceilândia. "Quase foi um caos", concluiu a autoridade.

"CEO" do Metrô não anda no sistema que preside
Mas, como o próprio presidente do Metrô-DF declarou a "Brasilianas", desde que assumiu a presidência da autarquia (em 2019) ele só viajou nos trens da empresa por duas vezes. Ele disse que prefere usar apenas o carro oficial. Certamente, se perambulasse pelas estações, e tivesse algum cuidado com a empresa que dirige, talvez esses problemas que incomodam tanto os usuários (e, agora, as autoridades) já tivessem sido resolvidos. Há tempos.
Ah... E "Brasilianas" ouviu queixas, também, de que os diretores da autarquia trabalham "como deputados". Na prática, significa que vêm presencialmente ao trabalho de terça a quinta-feira e, às segundas e sextas, mantém agenda livre. Mas ainda não concluiu esta apuração, que segue...