Imagens da construção do terminal, reveladas somente agora, são exibidas em mostra fotográfica. 'O sonho foi menor que a realidade', afirmou o seu criador, Lúcio Costa. 'Ali é a casa deles (dos brasilienses)'
O processo de concessão da Rodoviária do Plano Piloto acabou por revelar, num arquivo perdido, fotos históricas da construção do terminal rodoviário. "Elas estavam no meio de arquivos, que fomos olhar agora para a transferência da gestão", explica o secretário de Transporte e Mobilidade do DF, Zeno Gonçalves.
A mostra é composta por 12 imagens, cinco delas das obras e uma em que ele está pronto e remete à data da conclusão do terminal, que foi inaugurado no dia 12 de setembro de 1960 - cinco meses após a inauguração da cidade e data de aniversário de 58 anos do então presidente Juscelino Kubitscheck. As outras seis mostram o funcionamento dos primeiros anos da Rodoviária do Plano Piloto.
Projetada por Lúcio Costa, quando de sua concepção ele explicou que "a complexidade da Plataforma Rodoviária de Brasília deve ser compreendida através dos limites entre as escalas de seu projeto arquitetônico e urbanístico. A imagem de uma superestrutura com 700m de extensão revela uma estrutura de superfícies elaboradas e articuladas para a construção dos espaços da Plataforma."

"A Plataforma Rodoviária é o cerne do Plano Piloto de Lucio Costa", escreveu o arquiteto e professor da UnB Eduardo Pierrotti Rossetti. "Sua implantação no ponto ideal do cruzamento dos dois eixos definidos por Lucio Costa se transforma e se apresenta como um projeto arquitetônico complexo e de grandes dimensões. A Plataforma é o ponto fulcral do tecido urbano de Brasília, determinando um lugar privilegiado, constituindo-se como a gênese do desenho urbano do projeto de Lucio Costa", completou.
O próprio criador a descreveu, quando apresentou o projeto do Plano Piloto de Brasília: "Dotados de feixes de pistas automobilísticas no sentido Norte-Sul e Leste-Oeste, calçadas, e áreas de estar, entre zonas de sombra e passeios a céu aberto, estas superfícies se convertem elas mesmas - através de seu desenho - em novos lugares e espaços urbanos. A infraestrutura e o programa da Plataforma se integram às demandas urbanas correlatas ao cotidiano da cidade", afirmou Lúcio Costa.

'O sonho foi menor que a realidade. A realidade foi maior, mais bela'
Em março de 1987, em um dos vários depoimentos em que relatou a epopéia da concepção e da construção de Brasília, Lúcio Costa fez menção carinhosa ao terminal rodoviário. "Brasilianas" reproduz abaixo o texto, que integra a exposição que está em cartaz:
"Eu caí em cheio na realidade e uma das realidades que me surpreenderam foi a rodoviária, à noitinha. Eu sempre repeti que essa plataforma rodoviária era o traço de união da metrópole, da capital, com as cidades-satélites improvisadas da periferia. É um pouco forçado, em que toda essa população que mora fora entra em contato com a cidade.
Então, eu senti esse movimento, essa vida intensa dos verdadeiros brasilienses, essa massa que vive fora e converge para a rodoviária. Ali é a casa deles, é o lugar onde eles se sentem à vontade. Eles protelam, até, a volta para a cidade-satélite e ficam ali, bebericando.
Eu fiquei surpreendido com a boa disposição daquelas caras saudáveis. (...) Então eu vi que Brasília tem raízes brasileira, reais, não é uma flor de estufa como poderia ser, Brasília está funcionando e vai funcionar cada vez mais. Na verdade, o sonho foi menor que a realidade. A realidade foi maior, mais bela. Eu fiquei satisfeito, me senti orgulhoso de ter contribuído."

'Coisas melhores estão por vir'
A transferência operacional da Rodoviária do Plano Piloto para o empresa Catedral, do consórcio liderado pela RZK Empreendimentos Imobiliários Ltda., começou no dia 22 de fevereiro, com a assinatura da Ordem de Início pelo governador Ibaneis Rocha (MDB).
Até o dia 22 de maio (por 90 dias), a gestão da rodoviária está sendo compartilhada entre a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) e o consórcio, que trabalharão juntos no planejamento das ações para a transferência completa da administração do local ao consórcio empresarial.

Na exposição em cartaz em frente à sede da administração do terminal, o atual administrador, Renato Silveira Barbosa, prevê melhores momentos para o terminal. "Cada passo em direção à mudança é um passo rumo a um futuro melhor. Acredite que as melhores coisas ainda estão por vir", escreveu.
A área concedida abrange todo o complexo rodoviário. Também estão incluídos os estacionamentos superiores e inferiores próximos ao Conjunto Nacional e ao Conic, no Setor de Diversões, que passarão a ser rotativos. A Catedral vai administrar o local pelos próximos 20 anos, período em que prevê investir R$ 120 milhões no local.

