Por: William França

BRASILIANAS | Palácio do Congresso Nacional, sede do Legislativo, completou 65 anos

Cúpulas são traço marcante do Palácio do Congresso Nacional | Foto: Arquivo/Câmara dos Deputados

Mobiliário e obras de arte do modernismo podem ser vistos durante a visitação guiada especial. Ano passado, 139.173 pessoas fizeram essa visita

O Palácio do Congresso Nacional completou 65 anos no dia 21 de abril. A data da inauguração da obra coincide com o aniversário de Brasília e marca a transferência do Poder Legislativo do Rio de Janeiro para a nova capital. Projetada por Oscar Niemeyer, a construção é um dos principais monumentos da cidade e a favorita do arquiteto. Suas duas cúpulas, sendo a do Senado voltada para baixo e a da Câmara para cima, são consideradas ícones do modernismo.

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Niemeyer era "apaixonado" pela solução adotada para as cúpulas, que parecem suspensas | Foto: Arquivo/Câmara dos Deputados

"Brasilianas" reproduz, abaixo, reportagem publicada pela "Agência Câmara de Notícias":

Niemeyer costumava declarar sua predileção pelo Congresso. Em entrevista concedida ao jornal Correio Braziliense em 1999, o arquiteto relembra a concepção do Palácio e seu carinho pelo projeto: "Lembro-me quando os apoios da cúpula da Câmara foram retirados e o Palácio surgiu, simples e monumental. Com as cúpulas soltas no ar, destacando a importância hierárquica que representam. Era a integração da técnica com a arquitetura. Duas coisas que devem nascer juntas e juntas se enriquecer. E me apaixonei pela solução adotada."

O arquiteto Fábio Chamon Melo é autor de dissertação de mestrado sobre a concepção do Congresso Nacional. Ele destaca as cúpulas como traço marcante do Palácio do Congresso. "O elemento determinante é a surpresa que as cúpulas causariam no horizonte da cidade", disse o pesquisador ao lembrar também o ineditismo da cúpula invertida sobre o plenário da Câmara dos Deputados. "Aquilo na década de 60 era uma grande revolução, nunca havia sido feita", completou.

Ele também explica a simbologia das duas cúpulas e sua relação com o processo legislativo. "Cada uma de uma forma mostraria que ali há duas casas distintas, mas que comungam de uma solução estrutural, solução inteligente, pois estabelece o diálogo mas diferencia as duas casas de forma potente e criativa."

Chamon considera a arquitetura e seus interiores indissociáveis. "Internamente, o edifício deveria retratar esse ambiente palaciano modernista de forma mais potente. A presença de obras de arte era fundamental para alcançar essa feição palaciana", explica.

O arquiteto Maurício Matta, servidor aposentado que já coordenou o Departamento Técnico da Câmara dos Deputados, é um entusiasta da história do Palácio. "Oscar Niemeyer sempre gostou da presença de outros artistas no seu trabalho. Ele achava que tudo deve ser integrado: arte e arquitetura, seria uma coisa só."

Matta considera o Salão Verde o mais importante da Casa e o compara a uma "praça", em frente ao Plenário. O Salão Verde, que tem esse nome pela cor do seu carpete, dá acesso ao Plenário da Câmara e é local de circulação e encontro. "Pela sua importância como praça de encontro, ali foram colocadas diversas obras de arte: um painel de azulejos de Athos Bulcão junto a um jardim de Burle Marx; o painel 'Araguaia', de Marianne Peretti; o anjo de bronze de Ceschiatti e a pintura de Di Cavalcanti", destacou o arquiteto.

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Azulejos de Athos Bulcão (E); Easy Chair (C); anjo de Ceschiatti (D) e painel de Di Cavalcanti ao fundo | Foto: Arquivo/Câmara dos Deputados

Mobiliário é um capiítulo à parte

O mobiliário, segundo Matta e Chamon, é mais um capítulo dessa história. A ideia de Niemeyer para os móveis que integrariam o Palácio do Congresso só foi executada entre 1970 e 1971. Nesse período, foi necessária a reformulação do edifício principal para retirar gabinetes que estavam instalados no Salão Verde.

Niemeyer aproveitou a oportunidade para complementar seu trabalho propondo a ambientação dos principais salões e gabinetes com mobiliário consagrado, incluindo algumas peças de sua autoria, além de obras de arte de importantes artistas nacionais. "Essa coleção possui móveis que foram desenvolvidos especificamente para o Congresso Nacional e estão disponíveis para toda sociedade que frequenta o edifício", destacou Chamon.

Maurício Matta explica ainda que a opção de incorporar obras de arte à arquitetura é uma atitude deliberada do arquiteto que prefere utilizá-las em lugar de materiais de acabamento mais caros, tradicionalmente usados para valorizar os ambientes.

"Eles estão presentes ali contando uma história, estão no cerne do pensamento que cria Brasília: a modernidade. Vamos nos apropriar de todo conhecimento, de tudo que há de bom no mundo e vamos integrar ao nosso trabalho, nosso trabalho vai ser um mix disso tudo, vai ser universal. Dessa forma, cada ambiente tem uma personalidade a partir das obras que estão ali integradas e eles são preservados e conhecidos assim", disse.

Nesse processo de concepção dos salões e gabinetes, Fábio Chamon de Melo destaca o papel de Ana Maria Niemeyer, filha de Oscar Niemeyer, que foi responsável pela escolha do mobiliário inaugural. "Ela desenha, com o pai, a primeira coleção de móveis para o palácio: os conjuntos Paris (Chapelaria e Salão Nobre) e Easy Chair (Salão Verde)."

"Como primeira cidade moderna a ser tombada no mundo, é uma grande responsabilidade do País zelar por esse bem, porque ele é tão representativo que pertence também ao mundo e não só à sociedade onde está inserido", ressaltou Chamon.

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"Candangos", de Di Cavalcanti, ao fundo, e "Araguaia", de Marianne Peretti, no Salão Verde | Foto: Arquivo/Câmara dos Deputados

Visitação é aberta e gratuita

As visitas guiadas à Câmara dos Deputados são gratuitas e abertas a todos.

São promovidas em conjunto com o Senado Federal.

Visitantes com 12 anos ou mais precisam identificar-se. É necessário portar documento oficial com foto.

Aos estrangeiros, é exigida a apresentação do passaporte.

Visitas espontâneas (sem necessidade de agendar):

  • Segundas-feiras, sextas-feiras, sábados, domingos e feriados: a cada meia hora, das 9h às 17h, saindo do Salão Negro. O visitante deve entrar no Edifício do Congresso Nacional, pela rampa principal.
  • Aos sábados, domingos e feriados, às 10h15 e às 16h15, haverá visita em inglês e às 12h15, em libras.
  • Nas terças e quartas-feiras, a visitação está suspensa.
  • Nas quintas-feiras, é necessário agendar a visita.