Campanha na França começa com ataque de aliados de Macron a coligação de esquerda

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Por: Michele Oliveira

A campanha para a eleição legislativa na França começou nesta segunda (30) com ataques de membros do governo Emmanuel Macron à aliança de esquerda liderada por Jean-Luc Mélenchon. O pleito que define os 577 deputados da Assembleia Nacional acontece em dois turnos nos próximos dias 12 e 19.

Em mensagem aos candidatos da coligação Juntos, que apoia o presidente recém-reeleito, a primeira-ministra Élisabeth Borne chamou de "casamento forçado" a chapa adversária composta pelo partido França Insubmissa (do terceiro colocado no primeiro turno presidencial) em associação com socialistas, comunistas e verdes.

Para ela, assim como a ultradireita de Marine Le Pen, a ultraesquerda detém um radicalismo de "slogans e atitudes", enquanto a coalizão governista representa "o radicalismo de ações e resultados". Borne também concorre a uma cadeira pelo Renascimento, novo nome da legenda centrista de Macron.

O tom agressivo apareceu também nas palavras da porta-voz do governo, Olivia Grégoire. Em entrevista ao jornal Le Parisien, ela acusou a aliança de esquerda de ser um acordo meramente eleitoreiro, não em torno de convicções. Mélenchon estaria buscando, portanto, não uma maioria para levar o país à frente, mas uma minoria para bloqueá-lo.

"Os cargos estão à frente dos franceses", afirmou Grégoire, que também busca uma vaga no Legislativo.

Chamada de Nova União Popular Ecológica e Social (Nupes), a coligação de esquerda, ao lançar sua campanha nesta segunda, buscou reforçar o discurso de mudança.

"Nossa tarefa é refletir e iluminar os caminhos do futuro, enfrentando dezenas de problemas que ninguém enfrentou", discursou Mélenchon, que decidiu não tentar a reeleição na Assembleia.

A diferença entre os tons evidencia, segundo observadores, a fase defensiva pela qual Macron passa no início de seu segundo governo, depois de ser reeleito em abril. As pesquisas de intenção de voto mostram uma disputa acirrada no primeiro turno entre sua coligação e a aliança de esquerda, embora, no segundo turno, a projeção do número de assentos coloque o governo em vantagem para obter a maioria legislativa.

Além disso, o novo gabinete tem lidado com repercussões negativas desde que foi anunciado, no último dia 20. Isso apesar dos esforços do presidente de reunir nomes com credenciais de política verde e social, como forma de mostrar que ouviu as frustrações expressas pela alta abstenção e pelo apoio do eleitorado aos extremos.

O titular da pasta da Solidariedade, Damien Abad, por exemplo, foi acusado de estupro por duas mulheres -ele nega. E a confusão antes da final da Champions League, no último sábado (28), na região de Paris, forçou os ministros dos Esportes e do Interior a responderem a críticas por má organização e excessos cometidos pela polícia -eles culparam torcedores ingleses do Liverpool.

"Há um sentimento de tensão no partido de Macron, o que ajuda a explicar as reações agressivas de Grégoire e Borne", avalia Victor Poirier, diretor de publicações do Instituto Montaigne, think tank de políticas públicas em Paris.

"Se eles tiverem que depender de alguém para conseguir a maioria absoluta na Assembleia, isso pode levar a uma série de questões sobre reformas que o governo pretende aprovar."

Para garantir a maioria absoluta, uma coligação precisa eleger ao menos 289 deputados. O número permitiria ao governo levar adiante sua agenda sem precisar negociar com outras forças políticas. Em 2017, a aliança pró-Macron conquistou 350 assentos, sendo 308 só por seu partido.

Segundo o instituto de pesquisas Ipsos, esta eleição está muito mais aberta do que há cinco anos. A maioria absoluta para o centrista não era, a três semanas do primeiro turno, uma certeza, mas as projeções divulgadas no último dia 23 indicam vantagem para Macron.

Apesar do equilíbrio entre a aliança presidencial (28% das intenções de voto no primeiro turno) e a de esquerda (27%), o governo ainda conquistaria a maioria das cadeiras, com um número entre 290 e 330 deputados. O bloco liderado por Mélenchon ficaria com algo entre 165 e 195 assentos.

A diferença entre as intenções de votos e a projeção de vagas na Assembleia é explicada pelas regras eleitorais. O sistema não é proporcional e favorece os grandes partidos.

Para vencer em um dos 577 distritos, um candidato precisa atrair, no primeiro turno, mais da metade dos votos válidos e ao menos 25% do total do eleitorado. Quando não tem vencedor, o segundo turno é realizado entre candidatos que tenham recebido ao menos 12,5% dos votos do total.

Além disso, historicamente, o vencedor da eleição presidencial tende a atrair mais eleitores às urnas, enquanto os derrotados costumam sofrer uma desmobilização de parte dos apoiadores. O voto na França não é obrigatório, e a abstenção, de acordo com o Ipsos, pode ultrapassar os 50% no próximo dia 12.

No caso da coligação de Macron, a posição central no espectro político também tende a favorecê-lo. Segundo Poirier, o presidente deverá se beneficiar à direita, atraindo votos dos republicanos -cuja coligação obteve 130 cadeiras em 2017 e agora tem projeção de conquistar entre 35 e 65-, e à esquerda. "Parte da esquerda moderada considera Mélenchon extremo demais e pode votar em candidatos apoiados pelo presidente."

No campo do outro extremo, Le Pen não atendeu aos chamados de Eric Zemmour, quarto colocado no pleito presidencial, para consolidar uma aliança de ultradireita.

Os levantamentos indicam que seu partido deve perder força em relação à votação que ela teve no final de abril -a Reunião Nacional está em terceiro na sondagem, com 21% das intenções para o primeiro turno–, ainda que ganhe espaço em relação a cinco anos atrás.

A projeção aponta de 20 a 45 deputados para a sigla, ante 8 eleitos em 2017.

A política de ultradireita disse publicamente que não tem intenção de concorrer mais uma vez ao cargo de chefe de Estado, após três reveses. Depois de semanas fora de cena, anunciou sua campanha de reeleição para a Assembleia.