Temos que acabar com o câncer da discórdia que está matando o Brasil
A grande luta é todos compreendermos que estamos em guerra e só venceremos focando em suprimentos
A grande luta é todos compreendermos que estamos em guerra e só venceremos focando em suprimentos
Por Cláudio Magnavita*
Ninguém é insubstituível. A solução do médico carioca Nelson Teich tranquiliza uma pasta que atravessa uma turbulência política na hora mais inadequada do país. Não há derrotados e vitoriosos. Houve uma mudança de comando que atendeu todos os pré-requisitos de currículo e subordinação à Saúde. O novo ministro carrega bagagem técnica, reconhecida internacionalmente, em uma das áreas mais sensíveis da medicina, a oncologia.
Página virada. Agora é hora de pacificar e unir, sobretudo estabelecer um momento no qual os protagonistas sejam exclusivamente o país e o seu povo. Sem curtos-circuitos, é hora de seguirmos em frente.
O governador de São Paulo, João Dória Jr. deu o primeiro passo e, nas redes sociais, parabenizou o novo ministro. É hora de arrancar os retrovisores e seguirmos em frente por que estamos com inimigos demais externos e, entre eles, o fatal coronavirus, para perdemos tempo com lutas na própria trincheira.
O presidente Jair Bolsonaro escolheu um novo técnico e com um currículo médico que foi fruto de longos anos de estudos e especialização, inclusive no exterior. Bagagem internacional capaz de restabelecer, no cenário internacional, um bom relacionamento com a Organização Mundial de Saúde e demonstrar que prevaleceu a ordem unida e a hierarquia. Foi restabelecido o diálogo, e não a imposição de pontos de vista.
Esta guerra tem um fator para qual todos devemos voltar nossas atenções, a dos suprimentos e dos equipamentos necessários, para não colapsar o nosso sistema de saúde.
A imprensa, agora sem carniça para atrair os abutres do conflito político, deve começar a focar nestes suprimentos de guerra. Na cidade do Rio, assistimos ontem o desembarque de equipamentos que foram adquiridos no ano passado em quantidade pela Prefeitura e que agora começam a chegar. O nosso hospital de campanha no Riocentro terá até tomógrafo, que foi desembarcado esta semana.
Aviões da FAB estão se deslocando até a China em uma operação militar para garantir que 806 respiradores e 400 máquinas de anestesia (que podem ser usados como respiradores), que foram comprados em um período de normalidade, comecem a chegar.
O curioso e sem querer ser místico, as supercompras de saúde realizadas em 2019 pelo prefeito Marcelo Crivella, para serem pagas em até cinco anos, lembram muito ao personagem bíblico Noé, que montava a sua arca, sendo ridicularizado por muitos, antes mesmo das chuvas do diluvio. Toda a compra milionária da Prefeitura, que se fosse hoje, custaria o dobro e dificilmente se acharia no mercado, se encaixa perfeitamente nas necessidades de hoje. Como ele é bispo, talvez tenha recebido um sinal que nenhum dos mortais soube. É o nosso Noé carioca pronto para colocar na sua arca milhares de necessitados.
Para buscar os equipamentos já necessitamos de aviões militares. Este é o mundo real e não o disse-me-disse que tanto vem irritando a população, trancafiada em casa e já no stress de uma quarentena sem fim.
O mundo real é a guerra por suprimentos. Temos fábricas. Em Santa Catarina, uma das maiores confecções, não pode fazer máscaras e roupas de proteção porque o governador não permite. No Amazonas, um hospital desenvolveu com canos de PVC e plásticos cápsulas que garantem uma melhor oxigenação dos pacientes. Quem tem compartilhado estas melhores práticas? Quem na União coordena este compartilhamento com os Estados e municípios e financia?
Hoje todos dependem da União. Só o Governo Federal possui a Casa da Moeda. A agenda de votações está chegando ao fim. Debates, barganhas, disse-me-disse não tem mais espaço.
Pagina virada na saúde! Nova equipe, pessoas mais descansadas e com perspectiva de quem não estava no olho do furacão. Nos hospitais e até em longas cirurgias, é salutar a troca de turno. O medo e a incerteza assustam e desgastam. São todos humanos. Não temos robôs na gestão pública da saúde. Temos uma equipe zerada para dar continuidade ao trabalho de guerra.
Sem ser o arauto do apocalipse, o que está ocorrendo no Equador pode ocorrer aqui. Temos milhões de pessoas vivendo em comunidades com condições sub-humanas. A elite encastelada no conforto de suas casas não percebe que, se forem confirmadas as piores previsões, não adiantará ter os melhores planos de saúde, que eles não irão funcionar. Não haverá equipamento disponível e nem vagas. O esforço agora é de guerra, sem siglas partidárias, sem regionalismos, sem partidarismo. Todos nós dependemos do Governo Federal. Caberá à União ser o trator da retomada e agora ser o comandante supremo desta guerra.
O ministro Paulo Guedes está tendo de reaprender. A sua turma liberal sabe como fazer a locomotiva correr nos trilhos, porém se ela desencarrila, cabe ao estado paternalista colocar os equipamentos e levantar a locomotiva e vagões, colocar o trem nos trilhos novamente.
Precisamos de paz e união para enfrentar o inimigo coronavírus e a paralisia econômica. Precisamos confiar no governo e nos dirigentes eleitos e escolhidos para ganharmos esta guerra. A nossa luta agora é por suprimentos, não apenas para nos proteger na saúde pessoal e das empresas. Só unidos, serenos e em paz venceremos esta guerra. O câncer da discórdia, que tomou conta da nação, tem agora um oncologista para extirpá-lo. Será uma missão para entrar na história e justificar toda uma existência.
*Cláudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã