Um Chico como você nunca ouviu

Entre sopros e metais, Alexandre Caldi dá um toque camerístico às canções do compositor

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Por Affonso Nunes

Chico Buarque de Hollanda é, sem dúvida, um dos mais brilhantes poetas brasileiros. Geralmente, o brilho de sua escrita e a refinada combinação de palavras em suas canções escondem o grande melodista que é. Acaba de chegar às plataformas musicais um álbum que inverte um pouco essa lógica. Acompanhado pelos jovens instrumentistas do Quarteto Metacústico, o saxofonista e flautista Alexandre Caldi lança “Buarqueanas”, com 11 releituras de temas de Chico, que faz 77 anos neste sábado (19). Presente de luxo!

Editado pela gravadora Biscoito Fino, a mesma de Chico, “Buarqueanas” é um mergulho inundado de lirismo sobre eternas canções. Alexandre Caldi desceu a fundo na obra do homenageado para criar arranjos originais em quais os sopros sa?o acompanhados pela cla?ssica formac?a?o de quarteto de cordas, com Thiago Teixeira e Lui?sa Castro (violinos), Diego Silva (viola) e Daniel Silva (violonceo). Os arranjos assinados pelo músico de sopros não ofusca a turma das cordas. O equilíbrio nas camadas sonoras nos remete a um território parecido com algumas trilhas sonoras de Nino Rota para os filmes de Fellini.

Sobre o título do álbum, Caldi abre o jogo: “Buarqueanas” e? explicitamente uma alusa?o ao termo Bachianas, cunhado por Heitor Villa-Lobos para a se?rie de obras que fez em homenagem ao compositor alema?o Johann Sebastian Bach.

Em sua homenagem a Chico, Caldi na?o se furta a utilizar refere?ncias da mu?sica de concerto. Requisitado como arranjador por algumas das mais importantes orquestras dos pai?s, o músico tem trazido para os seus trabalhos o aprendizado adquirido nessas experie?ncias. “Nunca me conformei com a ideia, divulgada por curiosos e às vezes até por músicos profissionais, de que Chico Buarque seria melhor letrista do que músico. Apesar de sua indiscutível habilidade com as palavras, provada nas parcerias com Tom, Edu, Francis e tantos outros, e que se estende à literatura, sempre reconheci, nas canções em que Chico é o único autor, um refinamento peculiar na arquitetura de suas melodias e harmonias”, pontua

Para o músico, o grande desafio ao criar arranjos para tantas melodias incríveis, foi mostrar que elas prescindem das letras para atrair o ouvinte. “Então busquei um ambiente de concerto, acompanhado por um quarteto de cordas, o que me ampliou os horizontes para tratar dessas músicas com a riqueza que elas merecem”, justifica.

“Alexandre Caldi nos mostra, mais uma vez, como e? sauda?vel e instigante atravessar fronteiras musicais, cruzando a linha que separa a canc?a?o popular da mu?sica de ca?mara, e descobrir novos e insuspeitos universos musicais”, endossa o maestro Tim Rescala.

A bela capa de “Buarqueanas” é de Marina Lutfi, sobre um quadro de seu pai Sérgio Ricardo, músico, compositor, ator e diretor de cinema falecido em julho do ano passado. Sérgio e Chico eram grandes amigos.

No álbum, Alexandre Caldi se reveza entre a flauta e os saxofones tenor, alto e soprano, em arranjos ousados e impactantes. Uma experie?ncia auditiva especial de canções de Chico Buarque, como “Joana Francesa”, “Tanto Amar” e “Noite dos Mascarados”, entre outras.