Por: Por Cláudio Magnavita

Deputado Rodrigo Amorim na beira do abismo da ingratidão

Por Cláudio Magnavita*

Quem esteve com o governador Cláudio Castro em Petrópolis sentiu que o sucesso do evento o fez ficar um pouco menos nervoso, mas ele estava profundamente irritado com as notícias que chegavam da Assembleia Legislativa e do comportamento do seu afilhado, o deputado estadual Rodrigo Amorim. Foi o governador que cacifou a ida de Amorim para a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), colocando para os parlamentares que eram desfavoráveis o seu aval pessoal ."O Rodrigo Amorim é meu amigo pessoal e não irá me trazer problemas , confio plenamente nele", teria avalizado o governador ao outros parlamentares.

Desde o episódio da placa com o nome da Marielle Franco, Rodrigo Amorim flutua nas relações que constrói. Cheias de altos e baixos. Foi amigo irmão do ex-governador Wilson Witzel - e família -, fazendo-o frequentar o Laranjeiras na maior intimidade. Depois, foi um dos mais impiedosos defensores do impeachment. No mandato anterior, fazia dupla com o deputado Alexandre Knoploch, em ações festivas e pirotécnicas, como arrancar faixas da prefeitura e andar com escolta armada, com fuzil. Chegaram a abordar um assessor do senador Flávio Bolsonaro, que estava em uma moto.

Amorim conseguiu a reeleição e Knoploch na suplência. Ele surfou na onda da direita e do Bolsonarismo, mas foi eleito pelo PTB. Não conseguiu ser acolhido pelos afilhados de Bolsonaro no PL. Advogado de formação, deveria ter como o exemplo o irmão, o vereador Rogério Amorim, que é médico cirurgião neurologista e ainda opera. Uma pessoa sensata, que muitas vezes fica constrangida com a pirotecnia excessiva do irmão. Os dois ficaram mais juntos após um triste episódio de orfandade precoce, que os uniu muito e lhe deram uma visão diferente da vida.

Ao decidir macular sua relação com o governador Castro, o parlamentar deveria ser coerente com o seu currículo de advogado e ter tomado algumas atitudes, como a devolver a placa reservada do seu veículo oficial, os cinco servidores do setor de segurança que estão cedidos ao seu gabinete, mandar entregar as armas de grosso calibre que estão aquarteladas para seus anjos da guarda pagas pelo erário público e, principalmente, entregar, por iniciativa própria, as cartas com o pedido de exoneração de todos os seus indicados, especialmente os que dividem os R$ 150 mil de Gratificações Especiais (GEE) da Secretaria de Trabalho.

Agindo desta forma, o deputado Rodrigo Amorim teria toda a autoridade moral para convocar secretários, espinafrar agentes públicos e fazer oposição ao governador que sempre lhe deu acolhida e que o ajudou na reeleição. Coisas básicas na política e que dariam autoridade moral ao deputado. Sem agir com desprendimento, ele se habilita a receber o carimbo de traidor, desleal, inconsequente e chantagista. Rótulos que não se aplicavam até agora na sua vida. Todos sabem que ele procura o certo, extrapola e, por trás do seu comportamento pitbull, tem um coração e um ser emocional, capaz de se emocionar, ficar com olhos mareados e ser fraterno. É exatamente por isso que ninguém está entendendo o seu comportamento com o governo que o apoia de forma incondicional, fortalece a sua base política e tem sido, até então, tolerante com os devaneios públicos, como o que ocorreu com a guarda municipal em plena rodovia federal e, agora, na questão da CPI, na qual cravou um punhal na terceira costela do seu governador amigo.

O deputado Amorim, como presidente da CCJ, tem a chance de aprimorar o seu currículo no parlamento e usar o seu conhecimento jurídico, como bom advogado, para fazer um trabalho exemplar e conseguir o respeito dos seus pares. Se a sua opção for migrar para a oposição ferrenha ao governo do seu fraterno amigo, que a faça. Que realize isso na política, de P maiúscula, e aja como São Francisco, que, ao deixar o seio da sua família, despiu os trajes de nobre da corte e cruzou o portal do palácio que residia da forma que veio ao mundo. Ficar com o bônus de ter um amigo governador e, ao mesmo tempo, fazer uma oposição fratricida, não é nem um pouco digno. Esta é uma métrica que não deveria ser aplicada somente a Rodrigo Amorim, e ser estendida para líderes partidários, aliados, neo-aliados, novos secretários e parlamentares. Para ter legitimidade em ser oposição, que entregue primeiro o seu quinhão, ou será visto como traidor ou insaciável.

*Diretor de redação do Correio da Manhã

 

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