Por: Cláudio Magnavita*

Coluna Magnavita | Organizações Sociais chegam a Cabo Frio 'junto' com os R$ 55 mi da ministra Nísia

Nísia Trindade | Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

A viagem da ministra da Saúde, Nísia Trindade, ao Fórum Econômico Mundial, em Davos, não produziu o resultado esperado. Os reflexos na desgastada imagem da ministra foram pífios. No regresso, encontra o desgaste da coincidência da nomeação do filho, o  guitarrista Márcio Sampaio, da banda Ponto de Equilíbrio, como secretário de Cultura de Cabo Frio.

A leitura do gráfico de liberação de verbas do Ministério da Saúde para esta cidade indica uma movimentação atípica. 30 dias antes da nomeação do pimpolho de Nísia, o gráfico forma um verdadeiro Everest com a liberação, em 05 de dezembro, de R$ 55 milhões, de uma só vez para a cidade. Não houve generosidade semelhante com outra cidade. Um mês depois, o rapaz que confessou, em entrevista em vídeo a um blog local, que nunca teve experiência pública, afirmava que iria estar em Brasília para garimpar verbas federais. Tudo isso em vídeo, ao lado do novo secretário adjunto de Comunicação Social do município, Acy Barreto Chagas, colega de Márcio, de Niterói. Nas imagens, além de reafirmar sua falta de experiência em gestão pública, afirma ainda que nunca morou em Cabo Frio e que nela passava férias na infância, no apartamento de uma tia. Tudo muito bucólico.

A remuneração como secretário de Cultura é de R$ 9.300,00, mas o sortudo guitarrista passou a morar em uma das áreas mais nobres de Cabo Frio, uma cobertura duplex, com 286 metros, incluindo quatro suítes e vista privilegiada para o mar. Nos sites de locação, um imóvel similar, com aluguel, condomínio e IPTU, não sai por menos de R$ 7 mil reais.

Macaque in the trees
Condomínio em Cabo Frio | Foto: Reprodução

Na sua primeira e desajeitada declaração sobre a nomeação do filho, a ministra Nísia aplaudiu a contratação e se sentiu orgulhosa pela iniciativa da prefeita de escolher o desconhecido rapaz. Em uma segunda nota, o ministério considerou infundadas as notícias publicadas no Correio da Manhã, citando nominalmente o autor. Nota, aliás, que continua no site da pasta.

Infundada? Não houve a nomeação? Não houve a liberação atípica? Ela pode não ter pedido a nomeação ou negociado uma troca, mas aceitou, de bom grado, o agrado feito por uma esperta prefeita que abduziu um inexperiente candidato ao seu primeiro escalão, tendo como predicado ter as portas de Brasília abertas por ser filho de uma ministra.

Tudo estaria no campo da ética e moralidade e na mistura do público e privado se não houvesse outra intrigante coincidência. No mesmo dia 05 de dezembro, data da portaria do Ministério da Saúde sobre a destinação da verba, a prefeitura criou uma 'Comissão Especial de Seleção de Organização da Sociedade Civil' através da SEMUSA (Portaria nº 23/2023). A pasta, através do chamamento nº 002/2024, tornou pública a escolha de uma Organização Social (OS) para gerir a área de saúde de Cabo Frio. Dinheiro no caixa e OS sendo contratada às pressas. Muita coincidência...

A notícia "infundada" do Correio da Manhã correu o mundo e foi publicada nos principais veículos, redes sociais e emissoras de televisão. O Ministério Público, ligado ao Tribunal de Contas da União, pediu explicações e viu indícios de suspeição. Outro jornalista, que fez registro do desempenho da ministra, foi atacado pelo ministério. Uma assessora de Nísia, que a acompanha desde da FIOCRUZ, é quem está pilotando as respostas em detrimento dos especialistas que assessoram a ainda ministra. Um ex-titular da pasta e uma personalidade da área de saúde, amigos de Nísia, ligaram e sugeriram que o filho pedisse exoneração. Ideia que não foi aceita para surpresa dos dois. Ela considerou normal a nomeação e reafirmou estar orgulhosa pelo pimpolho.

Se o caso fosse colocado sobre o microscópio da ética, estas "coincidências" sofreriam contestações. Por que a nomeação ocorreu exatamente em um município que recebeu um tratamento atípico 30 dias antes? Questionado sobre a cobertura duplex de Cabo Frio, o Ministério da Saúde não respondeu objetivamente e limitou-se a enviar a nota genérica, que só tapa o sol de Cabo Frio com a peneira da imoralidade.

*Diretor de Redação do Correio da Manhã

 

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