Por: Cláudio Magnavita*

Coluna Magnavita | O xadrez Faulhaber: sai Pedro Paulo e unge o 'imberbe Cavaliere' para vice de Eduardo Paes

Cavaliere será o provável vice da chapa de Paes | Foto: Reprodução/Instagram

Quem saiu vitorioso na escolha do candidato a vice de Eduardo Paes foi o marqueteiro Marcello Faulhaber, o ex de Crivella, que já havia ungido Eduardo Cavaliere como o nome preferido. O anúncio foi feito de forma lacônica, jogando no colo do deputado Pedro Paulo a responsabilidade de ter recuado em prol da família. Vale lembrar que uma semana antes, a própria esposa do deputado, Tati Infanti, já havia sepultado este tema em uma brilhante intervenção nas redes sociais. A página foi virada no mundo político e o nome de Pedro Paulo voltou a ser o primeiro na lista.

Na quarta, 31 de julho, no evento do estádio do Flamengo com a venda do terreno do Gasômetro, com o deputado Pedro Paulo, vestido com a camisa rubro negra, e rasgando elogios ao dono da ideia, Eduardo Paes levantava a bola do seu fiel aliado. Para os leigos, era uma sinalização de que o rapaz estaria fortalecido; já para os eduardistas de plantão, a leitura foi inversa. Tanto carinho público soava como prêmio de consolação. Quem fez essa leitura acertou na mosca. Não foi ele o escolhido. Nesta disputa, Faulhaber foi ético e, como marqueteiro de Crivella, não usou a mesma artilharia usada pela campanha de Marcelo Freixo, hoje aliado de Paes.

Os mesmos eduardistas sabem o quanto foi dolorido para Eduardo Paes esta decisão. Doído porque era a chance de corrigir uma injustiça de uma eleição perdida em um drama pessoal que o tirou até do segundo turno. A eleição de Crivella x Freixo interrompeu um ciclo de bonança pós olímpico no qual a cidade sofreu uma das suas maiores intervenções.

Na eleição seguinte, para governador, Eduardo Paes foi derrotado por conta da malandragem eleitoral de um juiz para ajudar um ex-colega. O jogo político foi injusto e trouxe uma onda de lavajatismo oportunista que mudou o cenário eleitoral. Pedro Paulo esteve ao lado de Eduardo e conquistou seu mandato de deputado federal.

A política é feita com razão e sem coração. Muitos podem dizer que Pedro Paulo teve a sua chance quando concorreu à Prefeitura. Leitura que não é justa. As urnas de 2024 estarão na verdade elegendo o prefeito do Rio que estará na cadeira até 2028. Em 2026 teremos eleições e Eduardo Paes voltará a concorrer ao Governo do Estado. Para que isso ocorra, ele terá de entregar a cidade a um jovem de apenas 29 anos, neófito da vida política e que nem completou um mandato de deputado estadual. Na aviação executiva, a equação de maior risco é avião velho na mão de piloto novinho. É essa inexperiência que causa acidente. Culpa de uma máquina velha e encruada com o comandante sem jogo de cintura e com poucas horas de voo. É exatamente isso que está prestes a ocorrer com a eleição de Eduardo Cavaliere para prefeito biônico de 2026 até 2028. Sabem o que é pior? É que os passageiros deste voo de risco são todos os moradores da cidade do Rio de Janeiro.

 Além de Pedro Paulo, um nome reserva era o do vereador Carlo Caiado, atual presidente da Câmara Municipal e um talentoso e experiente político. Ele e Pedro Paulo fazem parte de uma geração de nomes que até alguns meses atrás eram chamados de jovens. Os dois ganham ares de veterano se comparados com o "imberbe Cavaliere". Aliás, uma sonoridade que não é obra do acaso.  

Será que o jovem advogado, que seguiu a cartilha de casar, como todos os eduardinos fizeram no ano passado, para ficarem prontos para 2026, pode ser submetido a uma sabatina sobre a história política do Rio, do antigo Distrito Federal e capital do Império? Será que ele sabe que em 24 de agosto agora serão lembrados os 70 anos do suicídio de Getúlio Vargas, ocorrido logo alí no Palácio do Catete e que criou uma comoção nacional? Isso ocorreu na cidade que o imberbe rapaz pretende ser o alcaide.

Ser prefeito do Rio é algo muito além do que comandar uma cidade. É gerir o palco dos capítulos mais relevantes da história do país. Neste quesito Eduardo Paes é campeão e sabe da importância nacional da cadeira que senta com prazer. Ao preterir Pedro Paulo, ele comete um deslize inimaginável. Deixa na estrada o aliado fiel, passando para adversários, como Eduardo Cunha, o direito de levantar o cartaz de líder traidor, capaz de abandonar os mais próximos e de não cumprir acordos políticos. E o que é pior, escolhe o imberbe Cavaliere preterindo nomes também confiáveis. A tragédia de Getúlio contribuiu para rotular agosto como o mês do desgosto. Para quem mora no Rio, ver a chance do imberbe Cavaliere virar prefeito por três anos só valida os trágicos episódios agostinos. Para Pedro Paulo, a solidariedade. Quem perdeu foi o Rio com a infeliz decisão da manobra vitoriosa de Marcello Faulhaber.

 

*Diretor de redação do Correio da Manhã