Por: Cláudio Magnavita*

O legado de Luís Eduardo Magalhães está vivo

Luís Eduardo Magalhães Guinle | Foto: Divulgação

A morte do deputado federal Luís Eduardo Magalhães, em 21 de abril de 1998, mudou a história da política da Bahia e do Brasil. Com apenas 43 anos, era o político mais promissor da sua geração. Como presidente da Câmara dos Deputados, Luís Eduardo tinha um carisma que o levava a conviver afetuosamente com todas as correntes políticas. Não havia polarização e a convivência pluripartidária o colocava degraus acima do seu pai, o ex-governador, ex-ministro e ex-senador Antônio Carlos Magalhães. Ele próprio tinha orgulho em afirmar que o filho possuía todas as virtudes que ele não tinha e que não havia herdado os seus defeitos.

A morte de Luís Eduardo o ceifou de vários degraus da vida pública. Não pôde ser governador da Bahia e nem presidente da República. Dois caminhos que estavam no seu horizonte e que geravam consenso.

O Carlismo nunca mais foi o mesmo. O próprio ACM, como era chamado o senador Antônio Carlos, nunca mais foi o mesmo. Abatido pela morte do filho, ele tinha consciência que perdera o seu herdeiro político e a razão de tanto orgulho. Um abatimento visível que o levou anos depois a uma morte também precoce.

O seu herdeiro passou a ser ACM Júnior, suplente do pai no Senado. Um político mais voltado aos negócios da família e distante do apelo popular. Coube a ACM Neto, filho do Júnior, ocupar o comando do Carlismo na Bahia. Fisicamente distante do estereótipo familiar, ele atuou como deputado federal e depois como prefeito de Salvador. Foi tragado na eleição para governador por um ilustre desconhecido, Jerónimo Rodrigues. Neto herdou todos os defeitos do avô e nenhuma das virtudes do tio Luís Eduardo. Entregou o DEM ao PSL de Antônio Rueda e entrou em um limbo político sem mandato, deixando o PT no comando da Bahia.

Um dos pecados de Neto foi não compreender que o beija mão do Carlismo era fruto da liderança calorosa do seu avô Antônio Carlos e os laços que tinha com o interior. Um verdadeiro culto movido pela baianidade de ACM que até hoje perdura em fragmentos afetivos da população. O então herdeiro achava que o beija mão era compulsório e perdeu a Bahia para a cabeça branca de Jaques Wagner.

Agora, neste ano de 2024, surge um resgate da luz de Luís Eduardo, através da determinação de uma novíssima geração. O seu neto, com apenas 23 anos, Luís Eduardo Magalhães Guinle, se posiciona na política baiana e herdou o mesmo carisma do avô. Estranho falar de Luís Eduardo avô. A sua jovialidade ainda é presente no imaginário baiano e da política nacional. O jovem Luís Eduardo, filho da atriz e apresentadora Carolina Magalhães, que fez uma carreira bem longe da influência familiar, é neto de Michelle Magalhães, a viúva do carismático político, que completará 70 anos em outubro. Ela soube manter o seu núcleo familiar unido e segurou a herança de Luís Eduardo.  

O novo Luís Eduardo traz também o sobrenome da família Guinle, uma abre portas no Rio e São Paulo. A sua opção foi, porém, a Bahia, onde ocupa o comando do Instituto ACM, o braço social da TV Bahia, empresa da qual o seu núcleo familiar possui 67%. Nesta missão, ele tem construído ou reconstruído os laços do Carlismo no interior. Principalmente no Sudoeste baiano. Determinado, ele está disposto a se eleger deputado federal em 2026 e está se preparando para isso, ouvindo conselhos e resgatando a humildade e afetuosidade do avô Luís Eduardo. Até a sua covinha do queixo ele herdou.

A sua chegada na política, a exemplo de João Campos no Recife, demonstra o resgate de um elo perdido que tanto custou ao Brasil, à Bahia e ao Carlismo. O jovem Luís Eduardo Magalhães é um fato novo na política baiana e em breve na nacional. O seu DNA é muito forte e demonstra ter herdado todas as virtudes do político que lhe deu o nome. Em um processo de um Brasil polarizado, de uma Bahia petista e de um Carlismo à deriva, é o retorno e o resgate do inesquecível político que tanto contribuiria para o país. Se a sua vida não fosse ceifada tão cedo, os anos que seguiram a 1998 fariam um Brasil bem diferente. O espírito conciliador de Luís Eduardo evitaria a polarização e estaríamos em um país bem diferente. A morte precoce de um outro Eduardo, o Campos, também embolou a nossa história. O jovem João Campos faz este resgate e o jovem Luís Eduardo também. São dois jovens determinados e que sabem que tem a missão de guardião dos seus laços de sangue. Há algo de muito novo na política baiana e pernambucana e este fato merece uma atenção especial de quem tem a visão do papel que a história reservava para estes dois Eduardo que morreram precocemente.

 

*Diretor de Redação do Correio da Manhã