A operação do Rei do Lixo, que colocou no centro de uma centrifugadora o empresário baiano José Marcos de Moura começa a ter novos desdobramentos nesta segunda quinzena de janeiro de 2025. A pressão psicológica que Moura sofria foi aliviada com a sua saída da prisão, mas os efeitos da operação poderão ser amenizados, apesar da captura de dados de todos os envolvidos em busca e apreensão da Operação Overclean realizada em 10 de dezembro de 2024.
Os envolvidos apostam que o clima pode ser amenizado por um fator sorte: a ascensão do publicitário Sidônio Palmeira ao primeiro escalão do governo petista, como ministro da Comunicação Social. Ele tem sociedade em negócios imobiliários com o ex-prefeito de Mata de São João, João Gualberto, e com o próprio ACM Neto. Aliás, esta relação societária e os negócios, além da publicidade, eram alguns dos fatores que levavam Sidônio a recusar o convite.
José Marcos Moura e o ex-prefeito Antônio Carlos Magalhães Neto, ou ACM Neto, vivem há anos uma das simbioses mais explosivas da política brasileira. A Prefeitura de Salvador se tornou um enclave dentro do reino petista na Bahia. É neste principado que Moura nadou de braçada e, usando o relacionamento nacional de Neto, voou, literalmente, para os estados sob influência do DEM e depois no desenho partidário do União Brasil. O ex-prefeito de Salvador se tornou "radioativo", hoje seu telefone quase não toca e a agenda de contatos foi encolhida.
O sentimento de impunidade levaram o clã Magalhães a perder um comedimento nos temas que envolvem política e negócios privados e a relação revelada pela Overclean deixa fora os políticos do PT e os que comandam o estado.
Já não se pode dizer o mesmo das relações do senador Jaques Wagner com José Marcos. Foram esboçadas várias aproximações, apesar dos alertas feitos pelo então governador Rui Costa. O senador sempre gostou de viver perigosamente no limite do perigo.
Corre em Brasília e nos corredores da Casa Civil, especialmente, que a Overclean foi o presente de Natal do diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, para o Ministro Rui Costa, que poderia redesenhar o mapa da política baiana depois das novas fases da operação.
O fermento da implosão dos negócios do Rei do Lixo foi sincronizado com o crescimento da candidatura de Elmar Nascimento para a presidência da Câmara dos Deputados. Só que ninguém ligado a Rui esperava que neste furacão surgisse o fator Sidônio Palmeira e a relação do seu sócio com a arrumação financeira das últimas campanhas eleitorais, entre elas, a do próprio Lula. Esta relação de Gualberto e ACM Neto com o novo ministro de Lula sempre foi vista como uma apólice de seguro, mas ninguém esperava que ela valesse tanto com a elevação do sócio a ministro, o que deve fazer a Polícia Federal adotar cautela nos próximos passos. Uma coisa era o envolvimento de um publicitário eleitoral, outra são os negócios com um ministro escolhido pelo próprio Lula para salvar a imagem do seu governo.
*Diretor de Redação do Correio da Manhã